23 junho 2018

COMUNICAÇÃO


É de suma importância cuidar do modo como nos comunicamos, exercitar nossa capacidade de percepção do outro, e nos habilitarmos, assim, para colocarmos em prática a possibilidade de modificar o modo como dizemos o que pensamos.

Zygmunt Bauman, sociólogo, em seu livro “Globalização” discorre a respeito do individualismo. O autor salienta vivermos em um período no qual é comum voltarmo-nos aos nossos interesses de modo tão enfático a ponto de chegarmos a descartar a realidade do fato de que nos relacionamos em tempo integral.
Nesse processo, quando deixamos de considerar a importância dos relacionamentos, também relegamos ao esquecimento o exercício da busca da compreensão de nós mesmos em relação aos outros. E, assim, nos privamos do uso de uma das ferramentas essenciais para essa compreensão: a empatia.
Empatia é a tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa. Isto é, nos colocarmos no lugar do outro e imaginarmos o que ele (ou ela) sentiria em uma situação específica. Ou seja, não consiste apenas em tentarmos “adivinhar” o que determinada pessoa faria em certa situação, mas nos imaginarmos “sendo ela” ao decidir sobre o ocorrido. Ao exercitarmos tal comportamento poderemos compreender o impacto de nossos atos e sentimentos naqueles com quem nos relacionamos diariamente.
Com essa prática podemos proporcionar a nós mesmos a chance de estarmos atentos de modo mais acurado a quem é o “alvo” de nossa atenção. Isto é, com quem nos relacionamos naquele momento. E, a partir de então nosso conhecimento acerca dos pormenores desse alguém se torna mais cristalino para nossa compreensão.
Muito mais vezes do que nos damos conta podemos não ser capazes de nos fazermos claros em relação ao que sentimos e pensamos, e então, a sensação de incompreensão manifesta-se. Ao longo de nosso existir podemos nos habituar a não falar do que sentimos. Contudo, esperamos que as pessoas ao nosso redor nos entendam.
Talvez esperamos ocorrer um tipo de “telepatia” na qual nossos pensamentos e sentimentos tornem-se explícitos. Mas, felizmente ou infelizmente, ainda não somos capazes de “ouvirmos” os pensamentos uns dos outros.
Então, é de suma importância cuidar do modo como nos comunicamos, exercitar nossa capacidade de percepção do outro, e nos habilitarmos, assim, para colocarmos em prática a possibilidade de modificar o modo como dizemos o que pensamos. Assim, poderemos ser melhores compreendidos em nossos sentimentos.
Quando a compreensão torna-se presente em nossos relacionamentos, ocorre, por conseguinte, de tornar-se mais definido os limiares entre eu e o outro. E, assim, torna-se mais produtivo o relacionar-se, de modo a usufruirmos o maior número de possibilidades disponíveis no processo de desenvolvimento, ao qual estamos submetidos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 junho 2018

OLHANDO INTIMAMENTE PARA MIM MESMO


Por vivermos em grupo necessitamos do feedback daqueles que convivem conosco. Entretanto, em qual momento esse feedback tornou-se mais importante do que nossa própria opinião a respeito de nós mesmos?

Nossa aparência nunca foi tão importante como atualmente. Quem, ao menos uma vez, não se preocupou com uns quilinhos a mais, ou a menos, uma roupa que não está a contento, ou um cabelo que não permanece como desejamos.
No passado esses fatores poderiam causar algum constrangimento. H oje, entretanto, temos ao nosso dispor um pequeno “arsenal” de opções: cremes, chapinhas, alisamentos definitivos, técnicas e produtos para deixar os cabelos mais ou menos encaracolados, sem contar as alternativas mais invasivas como cirurgias plásticas e métodos médicos para diminuição de gorduras localizadas, entre outros. Certamente algumas dessas alternativas podem oferecer riscos a longo ou curto prazo. Mas a questão é: o que nos incomoda tanto?
Em um extremo podemos encontrar pessoas situadas fora dos padrões atuais. Algumas dessas pessoas podem, inclusive, viver alguns dramas e sofrerem rotulações que são, no mínimo, indesejáveis e extremamente desagradáveis. Porém, rótulos não representam quem somos.
Quando começamos a dar maior importância aos rótulos do que a quem realmente somos? Muitas vezes nos preocupamos em demasia com a opinião das pessoas ao nosso redor. É óbvio que por vivermos em grupo o feedback daqueles que convivem conosco assume certa relevância. Entretanto, em qual momento esse feedback tornou-se mais importante do que nossa própria opinião a respeito de nós mesmos?
Em muitas ocasiões nos esquecemos que a primeira pessoa a precisar estar satisfeita com nosso ser somos nós. O importante é como nos sentimos em nossa própria companhia. Padrões sempre existiram. Contudo, algo parece diferente, hoje parece vivenciarmos a sensação de uma grande insatisfação com a imagem que refletimos.
Será que precisamos mudar como o mundo nos vê, ou como nos vemos? Podemos nos sentir extenuados ou tristes em insistir em alguma mudança a qual não alcançamos. Até que ponto, porém, precisamos mudar? E o mais importante: o que precisamos mudar? Pode acontecer de nos perdermos nessas questões e como, então, encontrar a resposta, se nem ao menos conseguimos identificar qual questão desejamos responder? Muitas vezes o que nos falta é um olhar mais íntimo para nosso ser.
Se temos o intuito de nos sentirmos bem, talvez a solução não esteja em um processo invasivo de uma cirurgia ou em um produto que nos dê uma aparência diferente. Pode ser que o caminho seja uma aproximação nossa para com nós mesmos, permitindo que ao nos conhecermos possamos desenvolver um sentimento profundo de admiração e prazer por quem somos, independente dos padrões sociais.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124