28 novembro 2017

A BELEZA DO TRAJETO

Atualmente, com as solicitações comerciais para o prazer imediato associado ao possuir, é comum não percebermos como chegamos a determinado “ponto”.


As urgências diárias, sejam elas de médio ou longo prazo, nos levam a focar em um objetivo, e assim não nos atentamos para o processo envolvido na busca dele. Ou seja, enxergamos a “partida e a chegada, mas não observamos a paisagem durante o trajeto”.
Em uma palestra a psicóloga Yolanda Cintrão Forghieri contava sobre o fato de um dia um professor seu chamar-lhe a atenção para a necessidade em se observar pequenos detalhes; como o balançar de folhas de uma árvore, ou a satisfação em sanar a sede ao degustar um “saboroso” copo de água. Segundo ele, ao desviarmos nossa atenção dos detalhes existentes ao nosso redor, deixamos de apreciar pequenas nuances as quais poderiam nos surpreender por sua beleza ou, quiçá, pelo prazer que nos proporcionasse.
Atualmente, com as solicitações comerciais para o prazer imediato associado ao possuir, é comum não percebermos como chegamos a determinado “ponto”. Experimenta-se ansiedades das mais variadas, permeadas de síndromes com nomes cada dia mais sofisticados e surpreendentes. Busca-se fórmulas mágicas para tudo, desde a cura de uma doença ao desenvolvimento de um corpo perfeito. O tempo urge e precisamos correr para alcançarmos sabe-se lá o que. O importante é chegar.
Porém, se voltarmos nossa atenção ao professor da psicóloga Yolanda e refletirmos um pouco acerca de seu comentário, poderemos aventar a possibilidade de talvez estarmos deixando passar algo desapercebido. E, desse modo, perdendo a oportunidade de apreciar algum detalhe que poderia nos proporcionar alguma satisfação.
 As oportunidades de exageros atuais nos conclamam a nos envolvermos em decisões rápidas, as quais nem sempre representam o que realmente queremos. Contudo, sem atentar para os detalhes do processo, podemos não ser capazes de percebermos o que houve.
Então, se nos propusermos a buscar formas de observar a paisagem durante qualquer trajeto, podemos incorrer em um grande risco de nos surpreendermos com sua beleza. E assim, diante do prazer e satisfação, acabaremos por nos “distrair”, talvez chegando ao término da viagem sem nos darmos conta das dificuldades e desprazeres envolvidos nela.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

04 novembro 2017

DISTÂNCIA SEGURA


“É importante cuidarmos de nosso bem-estar e buscarmos formas de nos protegermos. Entretanto, precisamos nos manter atentos para não descuidarmos de nossas relações.”

Uma maneira de nos mantermos tranquilos a respeito de algo é nos distanciarmos. Enquanto criança somos levados a um aprendizado que possibilita nos protegermos daquilo que nos oferece algum tipo de perigo. Isto é, não nos expormos a alturas perigosas entre outras situações.
Não podemos nos esquecer, porém, da proteção relacionada ao nosso bem estar psíquico e emocional. Sendo assim, encontrar formas de defender a manutenção desse bem estar, está de certa forma inerentemente relacionado à continuidade de nosso existir. Pois, somos amparados o tempo todo por nosso aparelho psíquico, o qual se mobiliza nos momentos de maior dificuldade no intuito de nos manter equilibrados o máximo possível.
A psicóloga e autora Lídia Rosenberg Aratangy afirma haver um tipo de mecanismo para nos tranquilizar e ajudar a viver com alguma sensação de segurança num mundo abastado de perigos. Tal mecanismo, segundo a psicóloga, consiste em dividir a humanidade em duas partes: nós e os outros. Ou seja, ao nos colocarmos aparte de todos os outros salvaguardamos a distância e, com isso, “garantimos” nossa segurança.
Contudo, tal segurança pode tornar-se contraditória ao considerarmos o fato de nos construirmos como seres existentes na medida em que nos relacionamos com os outros. Então, estabelecer tal separação entre nós e o resto do mundo pode nos colocar numa situação, futuramente, inconveniente.
É extremamente importante cuidarmos de nosso bem estar e buscarmos formas de nos protegermos. Entretanto, precisamos nos manter atentos para não descuidarmos de nossas relações, tendo em vista residirem nelas nossas possibilidades para novas oportunidades de desenvolvimento pessoal.
Sendo assim, fixar distâncias seguras do que pode nos prejudicar é essencial. Contudo, é preciso ter cautela com esse processo, para ao final não nos encontrarmos carentes do desenvolvimento de mecanismos os quais permitam nos relacionarmos com o outro (seja esse outro algo ou alguém) de modo satisfatório. Pois, a mesma distância que nos protege pode transformar-se em obstáculo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124