25 maio 2012

CONTRADIÇÕES

O filósofo e escritor Jean-yves Leloup em seu livro - DEUS NÃO EXISTE! (...eu rezo pra ele todos os dias) - questiona: “O que seria a vida se ela não fosse capaz de conter a morte? O que seria o amor se ele não fosse capaz de suportar o ódio, a violência injusta? O que seria o sentido ou a sabedoria se eles não fossem capazes de assumir a loucura e o absurdo?”

A sabedoria popular afirma ser de suma importância conhecer algo para identificar o seu oposto. Isto é, se não tivermos contato com o bem não poderemos identificar o mal, do mesmo modo ocorre com o belo e o feio e, assim por diante. Alguns filósofos abordam o fato de vivermos em um “eterno” paradoxo, ou seja, estarmos mergulhados em aparentes contradições porque de algum modo elas se complementam.

No entanto o importante talvez seja nos atentarmos para o fato de as contradições fazerem parte de nosso dia-a-dia. Então, desse modo, buscarmos formas de compreendê-las para assim nos apropriamos dos benefícios oferecidos por essa conscientização.

Ao assumirmos que a vida precisa conter a morte nos conscientizamos de que tudo o que é existente possui um fim. Portanto podemos nos preparar, e então usufruir do melhor modo possível tudo o que está disponível no presente. O amor precisa ser capaz de suportar o ódio e a violência injusta devido ao fato de a condição humana nos tornar pertinentes ao erro. Sendo assim, se o amor for capaz de suportar suas contradições será também capaz de sobreviver às intempéries.

Buscamos de toda maneira sensações e sentimentos eternos. Mas nos esquecemos de que a rotina, apesar de nos trazer segurança, conduz também à monotonia insossa como destaca Victor Hugo em seu poema “Desejo”, no qual ele aborda diversas “contradições” necessárias a um existir pleno.

Sendo assim, se o sentido e a sabedoria precisam assumir a loucura e o absurdo, podemos nos permitir reflexões mais ou menos intensas, mas que nos conduzam a um viver pleno. E, como finaliza Victor Hugo em seu poema, “... se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a desejar.” Ao nos disponibilizarmos ao conhecimento acerca de nós e de nossas “contradições” nos colocamos também disponíveis a todo o tipo de acontecimento os quais podem nos levar a experimentar a sensação de um viver repleto de momentos satisfatórios.

E, se tudo isso acontecer, ou seja, se nos colocarmos a disposição da vida e usufruirmos um viver com muitos momentos que nos satisfaçam... O que mais poderíamos desejar?

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

18 maio 2012

PROTEÇÃO

É comum ouvir o relato de alguém aflito para encontrar uma forma de proteger alguém em quem se deposita algum sentimento especial. Contudo, que tipo de proteção fala-se quando se está envolvido com alguém de modo mais intenso, isto é, quando amamos? Em um diálogo no filme “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, o diretor da escola de Harry lhe explica o porquê de determinada pessoa não poder fazer-lhe mal, ele afirma que isso ocorria devido à proteção proporcionada por sua mãe a partir de uma atitude dela. Nesse trecho do filme em questão, o personagem salienta estar esta proteção envolvida em todo o ser de Harry, ou seja, não constitui uma marca ou um amuleto, mas “algo mais”. O que seria esse “algo mais”? Será que esse tipo de proteção é especial a quem é filho ou qualquer um pode ter acesso a ela? Como nos protegermos das situações conflituosas e dolorosas as quais envolvem diariamente nosso existir? Definitivamente parece estar o amor envolvido nessas questões. Quando amamos nos tornamos mais fortalecidos para proteger aquele a quem amamos. Isso pode ocorrer também pelo fato de o objeto de nosso afeto ter conhecimento do nosso sentimento, e isso o tornar mais fortalecido e seguro para enfrentar suas mazelas diárias. No entanto, será que isso é verdadeiro quando nos amamos? Será nosso amor por nós passível de nos proteger de possíveis dores e sofrimentos? Ao se falar em nos amarmos pode parecer, a princípio, um ato egoísta. Entretanto, se atentarmos para o fato de que disponibilizamos ao outro o que temos em nós, se não nos amarmos, como dispensar tal sentimento à outra pessoa, seja ela quem for? No processo de disponibilizar qualquer tipo de sentimento a quem quer que seja é necessário que esse sentimento esteja presente em nós e, preferencialmente, relacionado a nós. Portanto, se faz necessário encontrarmos formas de aclarar o modo como nos sentimos em relação ao nosso convívio conosco. Isto é, somos alguém com quem gostamos de conviver? Para, então, nos habilitarmos a dispor de atitudes as quais possam nos proteger das investidas alheias ao nosso controle e que podem nos levar ao sofrimento. Proteção, então, pode estar relacionada ao modo como nos vemos e como desejamos que nos vejam. Habitualmente podemos ter a ideia que alguém é capaz de nos proteger, contudo, pode ser que a pessoa mais apta a esse papel sejamos nós mesmos. A partir do momento em que nos disponibilizamos a nos conhecer e a nos querer bem.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri Psicóloga
CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

11 maio 2012

CERTEZAS

Sempre que estamos em busca de garantias, em algumas ocasiões, podemos nos ver em situações demasiadamente frustrantes. Vivemos almejando certezas, no entanto, como destaca a psicóloga Lídia Rosemberg Aratangy: “a vida não dá garantia de nada”. Ou seja, dispensamos uma boa parte de nosso tempo em busca de algo, quiçá impossível. Sendo assim, ao não ser possível obter garantias da vida, onde se pode encontrá-las? O que fazer para nos sentirmos seguros diante de tanta incerteza? Experimentamos, diariamente, circunstâncias nas quais se destacam a fragilidade de nosso existir. Seja ela em termos da continuidade de nossa vida ou mesmo da permanência em determinado lugar ou status. A mesma autora salienta que viver é correr riscos. Isto é, se não é possível conseguir garantias havemos de nos arriscar para, desse modo, possibilitarmos a nós mesmos um maior número de oportunidades. Remetendo-nos ao filósofo Martin Heidegger, ele afirma existirmos quando nos relacionamos. Pode estar, então, nas relações estabelecidas por nós a possibilidade de experimentar alguma “certeza”. Ou, ao menos, “garantirmos” alguma companhia para nossas empreitadas. A todo o momento podemos nos deparar com alguém sofrendo a dor da solidão. Essa pode ser momentânea ou prolongada. O fato é que tal solidão pode também ser concreta, estarmos realmente sem nenhuma companhia, ou apenas sentida, isto é, experimentarmos a sensação de não podermos contar com ninguém mesmo quando cercado de pessoas. No entanto, ao nos sentirmos sós, isto é, quando nos encontramos em alguma posição na qual algum “apoio” nos possibilitaria uma disposição da qual não somos capazes de encontrar sem ajuda, incorremos na chance de nos percebermos frágeis. Tal fragilidade pode acarretar a perda da capacidade de “vermos” com maior clareza as possibilidades que temos, bem como com quem podemos contar. Portanto, diante da “impossibilidade” de obter garantias ou de obtermos certezas, o que podemos nos proporcionar é a abertura para o contato. Entregarmo-nos de modo absoluto às relações estabelecidas cotidianamente para, então, vislumbrarmos de modo mais límpido as alternativas disponíveis. Porém, a ideia de nos entregarmos a alguma relação pode, em um primeiro instante, nos amedrontar devido à possibilidade de exposição que isso pode ocasionar. Mas, se desejamos nos aproximar de um existir o qual nos proporcione algum tipo de realização, não podemos nos distanciar do fato de haver necessidade do risco. Pois, sem garantias e condenados a optar por essa ou aquela direção, o poder contar com alguém que nos acompanhe parece ser o modo mais “adequado” de darmos continuidade ao nosso existir e ampliar, como assevera Heidegger, nossas possibilidades.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

04 maio 2012

DEIXE COMO ESTÁ PARA VER COMO FICA...

Em muitas ocasiões parece ser a melhor alternativa deixarmos os fatos correrem por si e apenas esperarmos o resultado. No entanto, tal atitude pode nos levar a perder oportunidades de envolvimento com situações diversas, das quais podem nos oferecer inúmeras possibilidades. Quando em um relacionamento, por exemplo, é importante a conscientização de que este constitui em uma troca. Ou seja, sempre que nos relacionamos com algo ou alguém ocorre algum tipo de troca, seja esta de palavras, sentimentos ou algo mais sutil. O importante é que a troca sempre acontece quando estabelecemos algum tipo de contato. Se, por outro lado, nos abstivermos de envolvimento com o decorrer do contato, podemos impossibilitar tal troca. Isto é, nos colocamos em uma situação na qual somente recebemos, e impossibilitamos, desse modo, que o outro também “desfrute” dos ganhos dessa relação. A convivência em grupo, característica a qual possuímos e usufruímos, oferece diversas vantagens, especialmente para nossa possibilidade de sobrevivência. Mas, ela também nos oferece oportunidades de aprendizados variados. No entanto isso somente pode acontecer se nos dispusermos ao contato de um modo pleno. Ao nos omitirmos incorremos no risco de inviabilizar um contato de sucesso. Esse comportamento pode ocorrer por diversas razões: por medo do feedback, isto é, nos vemos amedrontados diante do que pode decorrer de alguma atitude que tenhamos. Ou a falta de desejo em participar do crescimento do outro, ou seja, não nos envolvemos com quem esteja em contato conosco ao ponto de disponibilizarmos energia em prol do desenvolvimento dele. Tal pensamento pode estar permeado de um sentimento voltado mais para si próprio. A questão a se refletir é se nos sentimos bem com os relacionamentos que estabelecemos, e se os resultados ocasionados por eles estão a nosso contento. Se a resposta a tal pergunta for afirmativa, significa estarmos bem com nosso comportamento e cabe-nos a manutenção dele. No entanto, se a resposta for negativa, essa pode representar grande sofrimento em nosso dia-a-dia. Especialmente porque nos relacionamos o tempo todo e “necessitamos” da troca por eles oferecidas. Então, talvez precisemos avaliar como nos comportamos quando envolvidos em algum tipo de relação, para revermos nosso modo de ser. E, a partir do momento em que nos permitimos tal análise, nos tornamos munidos da abertura para novas possibilidades. Assim, permitimos que nos coloquemos de modo mais receptivo diante do outro.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br