27 setembro 2013

REFERÊNCIA

Em muitas ocasiões somo levados a experimentar sentimentos os quais não desejávamos. Raiva, decepção, tristeza, frustração... nesses momentos é comum lidarmos com dificuldades diversas para nos “livrarmos” dos dissabores que esses sentimentos nos causam.
Alguém questionou a respeito em como lidar com a realidade que se apresenta de modo inevitável. Nesse caso, podemos colocar em prática nossa liberdade e escolhermos qual o “ângulo”, ou qual “lente”, usaremos para vislumbrar o que está acontecendo.
Nossas experiências de vida nos levam a um aprendizado acerca de nós mesmos. Esse aprendizado constitui um arsenal de referências das quais fazemos uso a todo o momento em que temos contato com algo “novo”. Isto é, utilizamos como ferramenta de contato o que temos como conhecimento prévio, nosso referencial.
Nossa referência a respeito de tudo é permeada por experiências que vivenciamos. Alguém contava a respeito de um indivíduo o qual apresentava daltonismo e que descobriu o fato em torno de seus dezessete anos de vida. Em uma avaliação constatou-se que essa pessoa era capaz de diferenciar as cores das quais quem sofre da doença não pode. Ele aprendeu, com suas experiências vividas, as nuances das cores que via e nomeá-las de acordo com o que lhe era ensinado.
Do mesmo modo, podemos nos proporcionar aprendizados acerca de situações causadoras de alguma perturbação. E, assim, a angústia experimentada pode ser transformada em um sentimento que cause menos tribulação.
Nossas referências são envolvidas em significados. Ao possibilitarmos o cuidado com elas, proporcionamos uma ocasião favorável para uma compreensão diferente acerca do que está sendo vivido. Por conseguinte, uma realidade inevitável pode ser transformada em uma realidade muito prazerosa. Dependendo, apenas, de qual “ângulo” ou “lente” faremos a opção de usar para proporcionar tal transformação.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

20 setembro 2013

JUSTIÇA

Em muitas ocasiões somos levados a entender sermos aquele que foi lesado e, sendo assim, fazer valer a justiça torna-se imprescindível à continuidade de nosso bem estar. Entretanto, o que pode nos parecer justo a partir de nosso ponto de vista, pode ser sobremaneira injusto sob outra perspectiva. Pois, de acordo com o referencial, uma afirmação coerente pode tornar-se totalmente inválida.
Não é raro experimentarmos a dor de uma ingratidão que acreditamos termos sido vítima. Entretanto, se nos mantivermos estagnados a espera de uma compensação, poderemos nos manter paralisados e deixarmos de usufruir diversas outras oportunidades.
Heidegger, filósofo, afirma estar o adoecer relacionado ao tempo. Ou seja, se nos mantivermos atentos de modo demasiado a um ponto, esteja ele localizado no passado, presente ou futuro, deixaremos de nos desenvolver e, por conseguinte, de viver de modo pleno. Assim, permanecemos “presos” a um ponto, negligenciando todo o restante existente e conectado a ele.
Em um primeiro momento é natural compreendermos estar em poder de “quem nos lesou” a possibilidade de restabelecer o equilíbrio. Mas, se nos posicionarmos dessa maneira diante de algo que consideramos injusto, incorremos no risco de paralisarmos em um ponto e, desse modo, adoecermos.
Nesse caso, se desejamos ser justos para conosco, talvez seja necessário darmos início a um movimento nosso em prol de nosso bem estar. Ao decidirmos dessa forma assumimos uma posição ativa no que concerne nosso sentimento em relação ao que nos ocorre ser ou não justo. Ao sairmos da posição estagnada de sofrimento, nos colocamos em movimento e, assim, com a possibilidade de cura das lesões que nos impossibilitam o desenvolvimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

13 setembro 2013

DEPENDÊNCIA

É comum nos depararmos com frases as quais fazem referência a nossa “dependência” em relação ao comportamento do outro. Por exemplo: “minha educação depende da sua”. Ao pensarmos desse modo, em um primeiro momento, parece extremamente justo. Isto é, se o outro comportar-se de modo satisfatório significa que minha resposta também será satisfatória. Contudo, uma questão surge: quem dará início a esse processo? Ou seja, quem será o primeiro a comportar-se “bem”?
Em uma pequena historieta da qual um palestrante fazia referência, ocorria de alguém receber uma reprimenda de seu superior. Impossibilitado de responder-lhe a ofensa, por estar em uma posição hierárquica desprivilegiada, esse alguém precisou conter seu descontentamento. No entanto, depositou sua frustração, em modo de agressão verbal, em um colega com o qual se deparou minutos depois. O colega, também impossibilitado de responder como gostaria devido às circunstâncias de um local público, “transferiu” sua raiva em outro alguém. E assim por diante até que um filho, ao chegar em sua casa, é agressivo com sua mãe que o esperava para o auxiliar em suas necessidades após o dia de trabalho. Essa mãe, compreendendo que o filho teria se deparado com algum tipo de situação da qual não pôde dar vazão ao seu descontentamento, conteve uma resposta menos delicada. Pondo fim à corrente que havia sido iniciada com a reprimenda do superior ao seu subordinado.
Ao permanecermos a espera de algo acontecer para então nos posicionarmos, corremos o risco de nos colocarmos em uma posição de estagnação indefinida. Pois, na “dependência” de alguém fazer algo para podermos reagir, depositamos de modo totalitário no outro nossa possibilidade de agir.
Sendo assim, se almejarmos, em algum momento de nossa existência, nosso crescimento pessoal e desenvolvimento como seres independentes, é necessário termos em mente que podemos nos tornar independentes. Porém, é de suma importância nos lembrarmos do físico Fritjof Capra o qual afirma, em seu livro “O ponto de mutação”, sermos todos interligados pelo o que ele denomina interconexão. Ou seja, todo comportamento é influenciado pelo modo de agir do outro em todas as suas particularidades e consequências.
Assim, nosso progresso encontra-se correlacionado ao progresso daqueles que compartilham o seu existir conosco. Então, certamente nos encontramos em uma relação de dependência. Todavia, essa relação não diz respeito ao nosso posicionamento em situação de espera do outro ter uma iniciativa para que algo nos aconteça. Mas, significa estarmos atentos ao nosso próprio modo de agir, para podermos delimitar como será o comportamento de quem se encontra em relação conosco e não o inverso.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 setembro 2013

ESTORVO

Atualmente a vida é vivida com velocidade máxima e se não nos submetermos a essa velocidade corremos o risco de “perdermos” algo. Por essa razão, o outro constitui, quase sempre, um estorvo ou uma ameaça. Isto é, se é preciso chegar antes para não perder o que se deseja, qualquer um que possua a possibilidade de nos alcançar representa uma preocupação a mais.
As solicitações da contemporaneidade nos conduzem a uma postura a qual nossos referenciais apresentam-se obnubilados por necessidades que julgamos serem nossas. Mas, na realidade em sua maioria, consiste, apenas, em um conclame social ao qual nos rendemos e nem sempre percebemos.
Vivendo em grupo a opinião do outro assume grande importância. Contudo, delimitar o grau dessa importância para nós torna-se essencial se desejamos experimentar liberdade e satisfação. O outro representa um referencial no qual nos permite vislumbrar o que desejamos, ou não.
Na relação com o outro temos a oportunidade de, através do contato, averiguar nossas atitudes e o que elas desencadeiam. Porém, se estivermos envolvidos pela necessidade específica de “derrotar” esse referencial, podemos descartar uma oportunidade essencial de aprendizado.
Heidegger afirma ser a rotina nosso porto seguro contra a certeza de nossa finitude. Assim, ao nos comportarmos de modo semelhante ao outro podemos experimentar uma ilusão de segurança. Ao nos iludirmos incorremos na possibilidade de, do mesmo modo, nos enganarmos a respeito do outro e da ameaça que ele representa.
Portanto, ao recordar a afirmação do filósofo poderemos oferecer a nós mesmos a oportunidade de significarmos o outro de modo diferente do habitual. Isto é, o que anteriormente representava uma ameaça pode assumir um significado contrário, ou seja, de apoio.
Lamentamos destruições e comportamentos incoerentes uns dos outros. Mas nos esquecemos de estar atentos para o modo como nos relacionamos com quem partilha conosco experiências das quais podem culminar em resultados, no mínimo, desastrosos.
Ao mudarmos nosso referencial da competição extrema para a partilha, nos colocamos de um modo diferente do “proposto” e, desse modo, assumimos uma maneira de agir que pode surpreender, inclusive a nós mesmos.
Jostein Gaardier, autor do livro “O mundo de Sofia”, afirma ser importante ao adulto lembrar-se da curiosidade que possuía quando criança. Assim, a rotina e a semelhança não o farão uniforme. Ou seja, ao preservarmos nossa singularidade poderemos nos relacionar com o outro sem experimentar um sentimento de incômodo que a necessidade de vitória abarca.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br