31 agosto 2012

AMOR E RISCOS


O amor que não corre riscos não é grande o bastante. Essa frase foi dita por um personagem de televisão há algum tempo. Quais tipos de risco e de amor poderíamos considerar em tal afirmação?
Costuma-se afirmar que quem ama precisa permitir certa liberdade ao seu objeto de amor. Assim para este não ser “sufocado” e não experimentar a sensação de estar perdendo algo ao dedicar-se a tal sentimento.
Porém, será que nosso amor pode e é direcionado apenas a outra pessoa ou esse sentimento também pode ser dedicado a nós mesmos? E, nesse caso, como seriam os riscos que poderíamos permitir a esse objeto de amor tão próximo a nós: nós.
Quando nos envolvemos com outrem de modo mais intenso é comum experimentarmos, em um primeiro momento, o desejo e a busca da “posse”. Nos sentimos confortáveis com isso, mas após algum tempo de relacionamento é comum essa necessidade conhecer um afrouxar dos laços. E, é nesse momento que somos “convocados” a experimentar o risco do libertar para reforçar o sentimento. E em relação a nós, como seria esse proceder?
Ao longo de nosso desenvolvimento e crescimento lapidamos sentimentos e atitudes, especialmente aquelas relacionadas ao nosso modo de ser. Podemos ser mais ou menos exigentes para conosco e mais ou menos cruéis também.
Contudo, se considerarmos a necessidade de nos permitirmos certa liberdade como quando nos relacionamos com outra pessoa. Poderemos descobrir que há algum risco nesse modo de agir. Mas, também há a possibilidade do contato com experiências diferentes das habituais. E, pode estar incutido nisso a oportunidade de experimentarmos um grau maior de satisfação e excitação para com o nosso existir.
Lamentamos o reduzido número de ocasiões nas quais experimentamos satisfação e prazer. Então, ao nos conhecermos e nos permitirmos sentir por nós um amor que aceite riscos, poderemos nos proporcionar maiores chances de ampliarmos o número de situações prazerosas. E, desse modo, expandir os momentos nos quais experimentamos o bem estar geral.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

24 agosto 2012

SACRIFÍCIO


Há uma referência ao amor materno como sendo um dos mais puros sentimentos existente. O que ocorre para, de modo quase unânime, esse pensamento emergir? Qual a matéria prima constituinte de tal sentimento?
O herói mitológico Hércules induzido ao engano por influência da deusa Hera mata seus próprios filhos e, experimenta um remorso imensurável. Então, lhe é oferecida a oportunidade de redenção. Mas, para tanto, ele precisa executar doze trabalhos os quais irão desenvolvê-lo e culminar na reparação de seu erro.
Poder-se-ia, nesse momento, questionar sobre a relação entre o herói e o sentimento materno. Hércules, em seus trabalhos, tem que sacrificar muitas coisas como: sentimentos, conforto, aconchego, proteção, etc... No entanto, tudo isso possibilita a ele a oportunidade de retomar sua vida livre da culpa, isto é, redimido. E a mãe? Como se desenvolve um sentimento o qual leve a uma crença de que ele constitua um dos sentimentos mais puros?
Quando uma mulher espera um filho é comum idealiza-lo, imagina-se como ele será, o que fará e quem será. No entanto, ao nascer, esse filho confronta toda essa idealização e lhe apresenta a realidade que, frequentemente, é diferente do imaginado. Não melhor ou pior, apenas diferente.
Mas, essa mãe sacrifica seu sonho para acolher e aceitar o filho que a realidade lhe impõe. Nesse momento começa a brotar o sentimento tão valorizado por todos. Isto é, um amor que nasce do sacrifício do abrir mão do ideal pelo real. Então, do mesmo modo que o herói a mãe transpassa o sacrifício para o desenvolvimento de algo mais nobre.
Vivemos atualmente algumas situações que nos permite não nos surpreendermos.  Ou seja, temos um arsenal para nos possibilitar o contato com o real, muitas vezes, antes mesmo da “realidade” se impor.
Uma amiga contava a respeito de uma noiva, a qual teria tido acesso a imagem da igreja na qual seria celebrada a cerimônia de casamento dela, quando ainda se encontrava no veículo que a conduzia ao local. Desse modo, esta noiva não vivenciou a possibilidade de se surpreender com os arranjos e a disposição das pessoas na igreja. Isto é, não houve um confronto da idealização com a realidade “in loco”. Será que a surpresa com a imagem do local não poderia lhe oferecer algum sentimento diferente?
Não temos como saber. Podemos, contudo, refletir a respeito de como procedemos com as diversas situações vividas. E, nos questionarmos se nos permitimos o confronto de nossos ideais com a realidade. E, ainda, se possibilitamos algum tipo de sacrifício para os sentimentos nascidos do confronto serem fortalecidos por ele.

 PS: O texto de hoje é baseado nas reflexões proporcionadas pela sempre querida Neuza Fiori.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

17 agosto 2012

OLHAR - JANELA DA ALMA OU FILTRO DA VIDA?


Em uma pequena historieta a esposa comentava com o marido sobre a sujeira da roupa que sua vizinha estendia ao varal. O marido aproximou-se da janela pela qual a esposa observava os movimentos da vizinha, esfregou um pouco suas mãos sobre o vidro limpando-o e destacou que a sujeira estava nele e não nas roupas da vizinha.
Em algumas ocasiões, muito mais frequente do que gostaríamos de admitir, ocorre o mesmo com nosso olhar. Dependendo da “lente” que usamos as “imagens” que nele surgem são vistas através dela. Então, como na historieta, podemos não estar procedendo à devida manutenção da limpeza desta lente. Como fazer, contudo, para que nossa lente seja a mais adequada possível? Como detectar se ela está adequada, isto é, “suja” ou não?
Com a rotina diária nos acostumamos a agir em um ritmo no qual nem sempre atentamos para os detalhes a nossa volta. No entanto, talvez esteja nessa atenção a possibilidade de “conduzirmos” nosso modo de ver as situações.
Quando nos permitimos um cuidado no que tange o nosso modo de ser, podemos, na realidade, proceder à manutenção das lentes que usamos para observar os acontecimentos ao nosso redor. E, desse modo, assumirmos algum controle sobre o que vemos.
Podemos, assim, manter nossa “janela” suja e com isso praticarmos as críticas ao que vemos de inadequado. Ou cuidar dela de modo que a paisagem externa a ela seja um pouco mais colorida. E, com isso, nos permitirmos a possibilidade de “vermos” as situações permeadas por essa paisagem.
No entanto, cabe a nós a decisão pela escolha de qual lente desejamos para nosso olhar. E, para tanto, pode ser necessário um processo para culminar no conhecimento pormenorizado de nós mesmos e de nossas limitações. Para assim podermos utilizar as lentes necessárias à “correção” de nosso olhar. E, possibilitar um olhar menos comprometido para as diversas situações as quais vivenciamos diariamente.


Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

10 agosto 2012

SONHOS - COMO SONHAR?


Sonhamos com os mais variados tipos de situações. Desde um pequeno objeto o qual desejamos até uma condição pessoal mais específica. Em nosso dia-a-dia nos acostumamos a ouvir aqui e ali alguma referência à necessidade de termos cuidado com o que sonhamos para não nos frustrarmos.
Contudo, como controlar o nosso desejo mais fervoroso? De qual modo podemos estabelecer um limite entre o que queremos e o que podemos querer? Certo alguém comentava a sua tranquilidade em relação aos seus sonhos por terem sido eles todos realizados. Daí surge uma pergunta: esse alguém teve todos os seus sonhos realizados, ou sonhou sonhos passíveis de serem concretizados? Como delimitar a diferença entre eles?
Nas solicitações diárias as quais estamos todos submetidos é comum não encontrarmos tempo disponível para reflexões que nos conduzam a um conhecimento pessoal mais apurado. Isto faz com que tomemos nossas decisões, sem avaliarmos com maior afinco os prós e os contras envolvidos nelas.
Ao não sermos conscientes de nosso potencial bem como de nossos limites incorremos em uma grande possibilidade de “errarmos” na escolha de nossos sonhos. Escolha, porque como afirmou o filósofo Jean Paul-Sartre, somos condenados a escolher, pois o fazemos a todo o momento. Inclusive quando nos iludimos com a ideia de termos deixado de escolher, segundo o filósofo, o fizemos. Isto é, ao não escolhermos fizemos a escolha por essa opção.
Então, diante de tal “condenação”, por sermos obrigados a lidar com as consequências das escolhas feitas, ao procedermos a uma análise a respeito de quem e como somos, nos tornamos mais aptos a “controlar” nossos sonhos. Ou seja, proporcionamos a nós mesmos a possibilidade de avaliar o que desejamos, bem como considerar as possibilidades desses desejos concretizarem-se ou não.
Diante disso, assumimos uma posição singular na atualidade.  Descartamos o devaneio como um capricho da imaginação, para, privilegiarmos o sonho, isto é, uma ideia a qual nos domina e que perseguimos com paixão e interesse.
Sendo assim, ao nos propormos ao conhecimento pormenorizado de nossas paixões e interesses, podemos estabelecer uma relação mais acolhedora com aquilo desejado. E, assim, sonharmos sonhos passíveis de serem concretizados com maior frequência. Estabelecendo, desse modo, uma correlação de satisfação mais frequente em nosso existir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

03 agosto 2012

ESCOLHAS E ATITUDES


Na atualidade, especialmente devido à disseminação das redes sociais, é comum afirmações públicas ou, em algumas ocasiões, reservadas a respeito da certeza de acerto em relação às decisões tomadas ao longo da vida. Fala-se, inclusive, da satisfação e segurança envolvidas nestas decisões.
Frases de efeito nos conclamam a nos arrependermos do que fizemos e não do que deixamos de fazer. Isto é, há uma “solicitação” para termos atitudes que visam o não termos o que lamentar no futuro. Este mesmo futuro o qual não nos permitimos pensar muito a respeito e, nem tampouco, considerarmos que nossas atitudes hoje o influenciam mais do que gostaríamos.
Contudo, será garantia de satisfação e tranquilidade não nos preocuparmos muito com as consequências de nossos comportamentos de hoje? Presencia-se uma busca desenfreada, de todos nós, em busca de algo o qual nem sempre conseguimos identificar o que é. A única informação obtida é ser preciso nos apressar. Estamos sempre atentos aos “relógios” e às solicitações sociais como se estivéssemos deixando algo para trás.
Mas, nesse processo deixamos de lado a lembrança de que nossas escolhas envolvem, a todo o momento, ao menos duas alternativas. E isso significa uma delas ser negada para outra ser colocada em prática. Isto é, ao optarmos por algo, outro “algo” é deixado de lado.
Porém, não é raro, após alguns anos, ao exercitarmos algum tipo de reflexão ou comparação, nos questionarmos se a decisão tomada há muito tempo foi a mais adequada. Nesse momento podemos iniciar um caminho na busca de analisarmos os ganhos e as perdas envolvidos.
Contudo, ao darmos início a esse processo, corremos o risco de experimentarmos sentimentos de frustração. Pois, não podemos nos esquecer de que toda escolha envolve a frustração de uma das alternativas possíveis. E, se nós escolhemos isso representa que também somos quem foi frustrado.
É nessa ocasião que podemos experimentar o impulso para buscarmos modos de nos realizarmos com maior frequência. Ou, um impulso que nos imobilize em lamentações do que perdemos, levando-nos a uma inércia a qual nos imobiliza no tempo em que estamos ressentidos.
Então, para possibilitarmos que nossa escolha atual seja mais apropriada às nossas realizações, às vezes é preciso reconhecer termos feito escolhas as quais não foram as mais adequadas. E, assim buscarmos modos de viabilizar a garantia de satisfação no presente. Talvez, ao rever as antigas decisões.
Desse modo, necessitamos exercitar nossa atenção para nosso bem estar e nos permitirmos o cuidado necessário para esse processo não ser permeado de dores e sofrimentos desnecessários.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124