25 março 2011

CORPOS INSUSTENTÁVEIS


Zygmunt Bauman, sociólogo, salienta que quando buscamos a boa forma, diferente do que ocorre com a saúde, não há como dizer se ao alcançarmos um ponto determinado e encontrarmos a satisfação, poderemos, então, nos mantermos nele. A saúde apresenta um limite, um objetivo, um ponto de chegada. Entretanto, a boa forma não. Para esse autor a luta pela boa forma é uma compulsão que logo se transforma em vício e, como tal, nunca termina.
O tempo atual nos “bombardeia” com opções das mais variadas para alcançarmos tal objetivo: lipoaspiração, cirurgia plástica, dietas para todos os “gostos”... Enfim, um rol imenso de possibilidades e modos de se conseguir a tão almejada boa forma. Mas qual o padrão? Conseguimos estabelecer um objetivo e nos satisfazermos com ele? Ou Bauman tem fundamento e o vício se apodera de modo a não permitir um limite?
Em nossa cultura temos valores que aprendemos ao longo de nossa existência e nos permite conviver “pacificamente” em grupo. Isso possibilita conquistas as quais jamais seriam alcançadas se vivêssemos isolados. Contudo, esses mesmos valores podem tornar-se nosso algoz se não praticarmos reflexões a respeito deles.
Vivemos um momento no qual a flexibilidade é o lema, tudo deve ser maleável, devemos ter “jogo de cintura” e nos curvarmos à medida do necessário para não nos perdermos. E Bauman destaca que da mesma maneira as formas corporais também solicitam essa maleabilidade. Portanto, é esperado termos à nossa disposição uma quase infinidade de opções para tentarmos obter a “boa forma”. No entanto, essa busca a qual pode tornar-se frenética, parece ser insustentável quando não possui fundamento. Porque, para muitos, tem ausência de um sentido particular.
Nós somos seres que precisam encontrar significados para assim nos sentirmos realizados com o nosso existir. Quando nos permitimos ser levados pelas solicitações gerais, corremos o risco de perdermos nossa identidade. E quando isso ocorre podemos experimentar algumas dores.
É comum alguém relatar ter dores não explicadas por nenhuma causa, ou aquelas as quais os doutores afirmam serem de ordem emocional. E, sendo assim, há de se buscarem outras formas de cura.
Talvez a “cura” para essas dores residam em nos permitirmos momentos mais amplos de reflexão a respeito dos significados que têm para nós os amigos, o trabalho, a família, o lazer, o estudo, a profissão escolhida, o nosso corpo. Enfim, tudo o que tem contato com nossa existência e que faz parte de nosso dia-a-dia. Nesse caso, cabe a nós a iniciativa em buscar modos de ampliar tais momentos reflexivos para que nossas dores sejam “curadas”.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

18 março 2011

SOLIDÃO


Não raro é alguém sentir-se solitário vez ou outra. Uma questão é qual tipo de solidão é essa? Sentimo-nos só porque estamos sem companhia? Ou temos companhia, porém, nos sentimos incompreendidos e essa incompreensão nos torna solitários?
Quando identificamos como é nossa solidão podemos, a partir de então, buscar meios de compreendê-la e, talvez, amenizá-la. Mas, o mais importante é termos a liberdade para decidirmos o que fazer com ela.
Quando nos sentimos sós, sem companhia, isso pode significar uma escolha ou uma consequência. Porque muitas vezes podemos ter comportamentos que nos afastam daqueles que fazem parte de nosso círculo de convivência. E então, experimentamos a falta de companhia. Isto é, nos sentimos solitários.
Em muitas ocasiões é comum encontrarmos alguma explicação para isso em ocorrências às quais não nos envolvem. Porém, será possível sofrermos consequências quando não tivemos participação?
O outro tipo de solidão ocorre quando nos vemos cercados de pessoas. Contudo não nos sentimos compreendidos e, em consequência dessa incompreensão podemos experimentar a sensação de solidão.
Nesse caso uma alternativa a se buscar, quando conseguimos identificar esse tipo de solidão, é entender o que em nós é incompreendido por quem faz parte de nossa vida. Ao identificarmos esse “o que” em nós, iniciamos um processo o qual pode culminar numa reflexão acerca da realidade presente nesse fato e, assim, sermos capazes de buscar alternativas para a solução ou não dessa solidão.
Buscar ou não a solução. Porque ao termos contato com o real motivo para algo que vivenciamos, somos capazes de entender o que ocorre e, desse modo, exercitamos a liberdade que nos acompanha o tempo todo e da qual Jean-Paul Sartre, filósofo, diz sermos condenados devido ao fato de sermos obrigados a lidar com suas consequências. Liberdade essa a de escolher o que é de nossa preferência.
Portanto, talvez não seja realmente possível sofrermos consequências de eventos quando não tivemos envolvimento. Ou seja, se experimentamos algo, pode significar, de algum modo, nos envolvermos e participarmos dele. Sendo assim, somos então capazes de conduzir os eventos ao nosso redor de modo a alcançarmos o que desejamos. Inclusive o desejo de não sentir-se só.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

11 março 2011

LASTROS


O lastro, a princípio, serve para equilibrar, balancear, ajustar. Nos navios servem para equilibrá-los e nos balões para ajustar sua altura. Entretanto, como tudo ao nosso redor, o excesso pode tornar-se um problema. A água, indispensável para nossa vida, pode tornar-se um problema se nos encontrarmos aprisionado em um tanque imerso nela.
Podemos comparar os lastros aos “pesos” que acumulamos em nossa memória ao longo da vida como eventos descartáveis, sentimentos inúteis, pessoas difíceis de se lidar. Muitas vezes não nos atentamos para o fato de algo ou alguém impedir nosso “voo”. Ocorre de em algumas oportunidades estarmos tão habituados a certa situação que não percebemos quando esta se torna um “peso”.
Todos nós temos um potencial a ser expandido a qualquer momento, desde que decidamos por isso. Contudo, justificamos nossos fracassos sem buscarmos entender o que realmente ocorreu para que não atingíssemos nosso objetivo. Ao justificarmos, nos libertamos da necessidade de maiores análises e assim podemos continuar nossa jornada.
Mas, não podemos com isso acumularmos lastros os quais em algum momento podem tornar-se pesados demais? Quiçá impedindo nosso caminhar, como a imagem de algumas animações em que um prisioneiro possui uma bola de ferro atrelada ao seu calcanhar para dificultar ou mesmo impedir sua mobilidade.
Ao longo de nosso existir deparamos constantemente com situações que nos “desafiam” e oferecem oportunidades das mais variadas. Porém, se ao nos depararmos com elas estivermos por demasiado sobrecarregados, poderemos não percebê-las.
Sendo assim, se permanecermos com nossa atenção voltada aos detalhes das situações diversas que ocorrem ao nosso redor; se cuidarmos para que os eventos descartáveis, sentimentos inúteis, pessoas difíceis em se lidar sejam transformadas em oportunidades de aprendizado e crescimento; poderemos fazer valer as possibilidades as quais temos contato e que em muitas ocasiões não as percebemos por estarmos ocupados em demasia cuidando dos nossos “lastros”.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

04 março 2011

TRANSE


Uma amiga comentou sobre um livro o qual havia iniciado a leitura e que a deixou um pouco preocupada pois não conseguia larga-lo. O tema dele tratava de alguns comportamentos que ela, supostamente deveria adotar para conseguir plenitude em sua vida, isto é, oferecia a receita do sucesso.
Essa conversa me fez lembrar de um antigo professor. Ele afirmava precisarmos ter muito cuidado ao ouvir uma palestra, ver um filme ou ler um texto quando um deles nos faz acreditar que todo o seu conteúdo é a expressão da mais pura verdade. Segundo esse professor precisamos “despertar do transe”. Se conseguirmos isso seremos capazes de avaliar com mais acuidade o texto, o livro ou a palestra.
Todos buscamos e queremos um modo fácil de encontrarmos a satisfação plena. Porém, costumamos nos esquecer de que essa satisfação é resultado de um processo o qual envolve diversas etapas e, entre elas, o investimento de muita energia e trabalho.
É comum entre todos aqueles que têm uma atividade remunerada sonhar com o dia em que não será mais necessário exercê-la. Iniciamos uma carreira profissional ambicionando o dia de abandoná-la para usufruirmos o merecido descanso. Então o sociólogo Zygmunt Bauman chama a atenção para esse fato, ao afirmar que não nos atentamos para a atividade que exercemos, mas apenas, à época em que poderemos pará-la.
Sob esse aspecto é importante olharmos com atenção para o fato de, normalmente, optarmos por uma carreira baseada nos ganhos monetários que está irá fornecer. Entretanto, ao ponderarmos apenas esse ganho, corremos um grande risco de apenas executarmos tarefas e não desenvolvermos uma atividade.
A diferença entre ambos é o fato de quando desenvolvemos uma atividade e a apreciamos, podemos num espaço não muito longo de tempo, aprimorar os modos de executá-la de modo a sermos gratificados. Mas não apenas quanto à satisfação pessoal, o que, apesar de não muito discutido é essencial para nós, mas também sermos gratificados monetariamente.
Ou seja, quando realizamos algo e conseguimos envolver nossa satisfação no processo, temos grandes chances de experimentarmos o sucesso tão almejado. Contudo, precisamos nos conhecer para definirmos com exatidão o que almejamos de fato. Para, portanto, não corrermos o risco de nos envolver em uma empreitada enganosa e que em longo prazo não irá nos satisfazer.
Sendo assim, quando exercitamos o despertar do transe que um texto, um livro ou mesmo um filme nos conduz exercitaremos também o despertar de nossa atenção para aquilo que ouvimos. E, por conseguinte, exercitaremos também o refletir sobre temas usualmente apenas ouvidos, vistos ou sentidos.
Refletindo sobre tais questões, então, poderemos encontrar modos diferentes de conduzir situações semelhantes. Mas que nos permitam o desenvolvimento pessoal que permeia todas as áreas nas quais estamos envolvidos e que podem nos proporcionar satisfação e prazer.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
Email: marcia@maximizandoresultados.com.br