28 dezembro 2012

MATURIDADE


Nem sempre estamos dispostos a acatar as consequências das nossas escolhas. Torna-se muito mais confortável, quando o resultado de nossa escolha não corresponde ao vislumbrado por nós. Descartarmos a lembrança de que partiu de nossa iniciativa a opção acolhida como a mais adequada e que nos frustrou.
Como um mecanismo de proteção somos levados a agir dessa forma desde o período inicial de nossa existência. Isto é, quando ainda somos infantes e não possuímos a habilidade da reflexão pormenorizada. Contudo, tal atitude pode assumir um papel desconfortável, no momento em que permitimos sua ocorrência em um período em que há a necessidade de assumirmos os riscos, possibilidades e, principalmente, responsabilidade pelas escolhas feitas.
No entanto, tal postura envolve a conclusão de um processo, o qual culmina em nos localizarmos com maturidade suficiente para nos autodenominarmos – adultos. Isto é, o auge de nosso desenvolvimento ocorre quando nos tornamos autossuficientes, independentes e aptos a assumirmos as ilações referentes às nossas escolhas.
Porém, percebe-se um prolongamento desse curso no qual não nos permitimos alcançar tal ponto de maturidade. Sendo assim, faz-se necessária alguma reflexão a respeito para nos tornarmos competentes e compreendermos o que ocorre. Desse modo, permitimos o ato de sair dessa posição “desconfortável” para nós mesmos e assumirmos o conhecimento acerca das consequências prováveis envolvidas nas opções presentes.
Os filósofos Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger afirmam, respectivamente, sermos livres para escolher, mas condenados por essa liberdade; e capazes de ampliarmos nossas opções, o que constitui nossa real liberdade.
Então, talvez se localize em nossa capacidade de vislumbrar as consequências pertinentes às opções que temos, para nos permitirmos nos habilitarmos a fazer escolhas menos envolvidas em emoções, o que é comum praticar quando crianças. E, exercitarmos nossa capacidade de avaliação ao que consiste a “realidade” na qual estamos envolvidos.
Desse modo, podemos colocar em curso o processo de nosso desenvolvimento o qual tende a culminar em nossa maturidade a qual nos permite o exercício pleno de nossa liberdade segundo os filósofos Sartre e Heidegger.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

21 dezembro 2012

SIMPLICIDADE


Ao observar um comentário, no qual se destacava a experiência em relação à satisfação observada no olhar de uma pessoa querida devido a um gesto simples, trouxe grande importância à referência que chamava a atenção para o fato de a satisfação e alegria residirem em atitudes singelas. Tais como, surpreender alguém ao colocar em prática a execução, por exemplo, da organização de um espaço compartilhado.
O período que antecede as festas de final de ano nos “conclamam” a atitudes que não privilegiam, necessariamente, nosso bem estar pessoal. Correrias para aquisições diversas ocasionam estresses ilimitados. Na contramão disso, a descrição da busca em satisfazer alguém querido parece pertinente e ao mesmo tempo contraditório. E especialmente quando o sucesso de tal empreitada reside no fato de a simplicidade poder ser de grande monta.
Numa sociedade de consumo nos deixamos levar pela expectativa em adquirir sempre o máximo possível e o melhor. Então, alguém questiona sobre quando teria iniciado tal atitude generalizada. Quando será que nos permitimos “vendar” nosso olhar para gestos significativos a fim de privilegiar a obtenção de objetos diversos?
Zygmunt Bauman, sociólogo, salienta estarmos vinculados aos apelos consumistas atuais, e assim nos permitirmos nos render a eles. O que ocasiona sensações diversas e, em muitas ocasiões, difíceis de serem identificadas. E proporciona, então, a dificuldade em serem “combatidas”.
Martin Heidegger, filósofo, chama a atenção para o fato de o sofrimento residir no vivenciar momentos atuais em tempos diferentes. Segundo ele, ao focarmos nossa atenção ao que já passou ou ao que está por vir, distorcemos a imagem atual sem nos permitir usufruir toda a excelência da experiência do momento.
Então, talvez seja possível que ao nos permitirmos atentar para os pormenores a nossa volta e que têm significado importante àqueles que convivem conosco, possamos “quebrar” o círculo no qual estamos enredados. E, desse modo, vivenciarmos sensações de satisfação ao presenciarmos a centelha de alegria na fisionomia de quem partilha conosco as experiências de vida e intimidade.
Assim, pode ocorrer de os conclames consumistas do período de festas tornarem-se obsoletos quando permitirmos valorizar, de modo afetuoso, as experiências de contato pessoal com quem tem significativa importância para nós.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

14 dezembro 2012

CERTO, ERRADO OU TALVEZ


Somos acostumados, desde um início bem remoto, a distinguir entre certo e errado. Vivemos como se houvesse apenas esses dois pontos extremos. No entanto, de que modo avaliar a nuance que envolve o entremeio deles? No que consiste o certo e o errado? Se levarmos em conta nossas necessidades certamente tais pontos oscilarão. Então surge a questão: o que é realmente certo e o que é realmente errado?
Convivemos enredados por situações e histórias das mais variadas. Somos seres os quais construímos nosso modo de ser embasados nas relações estabelecidas com quem compartilha nossos momentos. Então, o limiar entre o que é lícito ou não pode oscilar de acordo com o momento em que nos encontramos. Ou seja, o que hoje parece adequado, amanhã pode tornar-se totalmente inconveniente.
Ao considerarmos nossas necessidades podemos avaliar de modo mais complacente os “erros”. Isso ocorre porque somos levados a avaliar de modo menos rígido nossos “deslizes”. Pois assim somos abastecidos de informações pertinentes aos motivos envolvidos nas decisões tomadas. Por isso, faz-se importante o contato com as informações pertinentes ao ocorrido.
Então, ao considerar que nossa história permeia todas as nossas relações; como estabelecer um ponto fixo em relação ao que é certo ou errado? Não podemos nos esquecer de que, de acordo com o momento, determinada atitude pode oscilar entre esses extremos. Então como nos orientar e estabelecer parâmetros “justos”?
Talvez o primordial consista em nos munirmos, o máximo possível, de informações a respeito das situações envolvidas. Ou seja, possibilitarmos a nós mesmos, o conhecimento acerca das razões e sentimentos envolvidos em determinado acontecimento. Então, assim, poderemos  nos tornar capacitados a proceder uma avaliação mais justa no que consiste nossas decisões e as dos outros.
Quando somos crianças somos orientados por nossos responsáveis.  Ao nos desenvolvermos um pouco mais, nos é permitido experimentar, para então darmos início ao conhecimento das consequências envolvidas em nossas atitudes. O ingresso na vida adulta subentende estarmos aptos a avaliar as consequências de nossas decisões de modo relativamente antecipado, para, então, sermos capazes de “prever” erros de modo a preveni-los.
Talvez a certeza do que consiste o certo e o errado repouse no fato de buscarmos maneiras de conhecermos, o máximo possível, acerca das situações nas quais nos envolvemos.  E, desse modo, possibilitarmos relativo distanciamento para o “ângulo” do nosso olhar poder ser ampliado. Permitindo, desse modo, que nosso conhecimento torne-se menos restrito, e ocasionando a oportunidade de nos tornarmos mais flexíveis no que concernem nossas decisões e avaliações relativas a erros e acertos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

07 dezembro 2012

CARÊNCIAS


Em algumas ocasiões a necessidade de companhia pode conduzir a uma permissividade acentuada em relação a quem nos acompanha. Isto é, nossa carência de afeto, companhia, entre outras, seria “responsável” por aquelas escolhas possivelmente consideradas inadequadas. Escolhas das quais teriam como único propósito a satisfação desse vazio ocasionado pelo que consideramos a falta de algo ou alguém.
Nossa necessidade pode, em algum momento, nos conduzir a uma atitude na qual o medo da perda torne-se primordial. Então, o discernimento para o que nos é adequado torna-se obscuro e, nesse momento, incorremos na possibilidade de nos permitir o envolvimento em situações as quais podem acarretar frustrações e decepções em escala mais elevada do que a satisfação e o prazer.
Às vezes, nossa necessidade em ter alguém junto de nós ocasiona uma redução de nossos critérios de avaliação. Coloca-nos em uma posição fragilizada, que prioriza a busca da satisfação de nossa carência sem uma análise cuidadosa de quem permitimos partilhar nossas particularidades.
Não é raro entender termos sido vítimas das situações nas quais, supomos, não ter tido escolha. No entanto, o refúgio na ideia de que não participamos das decisões a respeito das opções as quais temos, apenas protelam a possibilidade de cuidarmos de modo mais adequado de suas consequências.
Ao “fugirmos” da responsabilidade por nosso existir, seja ele satisfatório ou não, corremos o risco de relegarmos a possibilidade de solução do que nos causa dor. E, desse modo, impedimos nossa chance de assumirmos a autoria dos eventos os quais podem nos proporcionar o antídoto para as frustrações e decepções.
Ao nos tornarmos conscientes de nossas atitudes e suas consequências, deixamos de depender de outras opiniões para realizar nossas decisões. E, assim, nos tornamos habilitados a cuidar de nossas carências, sem a necessidade de nos colocarmos em posição vulnerável em relação àqueles que compartilham conosco nossos momentos.
Desse modo, a seleção de quem irá nos acompanhar ou não em nossa busca pela satisfação de nossas necessidades e carências, torna-se mais criteriosa, de modo a nos oferecer situações mais confortáveis no que concerne o partilhar companhias. Ocasionando, dessa maneira, uma amplitude maior para com nosso próprio bem estar.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

30 novembro 2012

PASSADO


Há quem afirme que o passado deve ser deixado de lado. Devido ao fato de que se ele foi ruim não revivemos suas dores e assim elas podem permanecer esquecidas. Se ele foi bom para não sofrermos com a impossibilidade de reviver tais momentos, agora, inacessíveis.
Ou seja, para nos privarmos de sofrer, “enterramos” nosso passado e, desse modo, nos protegemos de dores atualizadas. Então, bastaria deixarmos de lado nossa história e, assim, teríamos alguma garantia em relação a possíveis sofrimentos.
Porém, ao se pensar dessa forma incorremos no risco de julgarmos nosso passado como dispensável. No entanto, não podemos desconsiderar sua importância no ser atual que somos. Visto que, ao acreditar sermos o resultado do acúmulo de nossas experiências, cada evento vivido assume importância de grande significado para nós. E, o cogitar algum tipo de mudança incorre em mudar quem somos hoje.
Contudo, nem sempre é possível significar com valor representativo o que se viveu. Há sempre um evento o qual gostaríamos que não tivesse ocorrido. Algo o qual desejamos ser “apagado” de nossa lembrança, para, dessa maneira, permitir vivermos sem tal mácula. Mas, é preciso compreendermos a dimensão que tais eventos possuem em nossa existência para podermos localizá-los de modo assertivo em nossa história pessoal.
É mais comum do que admitimos nossa “fuga” das lembranças. Ela pode ocorrer de modo totalmente lúcido e consciente ou de forma mais sutil. No entanto, ao permitirmos que tais eventos sejam “esquecidos” constrangemos nossa capacidade para nos desenvolvermos. Pois, quando oferecemos a nós mesmos a chance de lidar com nossas “sombras” permitimos um clarear para com elas o qual pode nos surpreender. E, em muitos casos ainda, nos possibilitar um conhecimento acerca de nós mesmos o qual estávamos, de modo equivocado, valorizando de forma negativa.
Então, quando nos permitimos experimentar possibilidades de conhecimento acerca de nós e de nossa história, estamos, ao mesmo tempo, ampliando nossas alternativas acerca dos nossos desejos para o futuro.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

23 novembro 2012

CAMINHO COM DESTINO


Os chineses, como descreve Fritjof Capra em seu livro “O ponto de mutação”, nomearam tao (caminho), o contínuo processo cósmico no qual o universo está compelido, e que consiste em um movimento e atividade incessantes. Ou seja, vivemos em um movimento constante. O filósofo Heráclito afirmou não ser possível alguém banhar-se duas vezes em um mesmo rio, pois o rio não seria mais o mesmo devido ao fato de a água corrente ter-se ido. Sendo assim, segundo esse filósofo, vivemos em um constante devir por causa do movimento ao qual estamos sujeitos ou, um permanente “vir-a-ser” como nomeia o filósofo Heidegger.
Outro termo da filosofia taoista citado por Capra – wu-wei significa: “não-ação”; representa a privação de uma certa espécie de atividade, que, no entanto, estaria em harmonia com o processo cósmico em curso e seu constante movimento e atividade. Ou seja, não constitui a ausência de atividade.
A não-ação significa permitir a ocorrência  do curso natural dos eventos. Diferente da permanência em inércia. Ou seja, respeitar a “essência” das coisas, permanecendo, desse modo, em harmonia com o movimento ao qual todos estamos sujeitos. Pois, a interconexão descrita por Capra em seu livro define estarmos todos interligados em nossos comportamentos e “destinos”. Então, nenhuma atitude praticada por um é isenta de influenciar a todos os outros.
Sendo assim, pode-se afirmar que alguém tem sorte. No entanto, fica uma questão: tal indivíduo tem sorte ou é alguém capaz de compreender um curso natural relacionado à essência de tudo o que está envolvido no movimento universal cósmico, e coloca em prática a não-ação?
Ao considerar a reflexão do físico Fritjof Capra podemos cogitar ser a sorte uma consequência relacionada a um modo de agir em relação ao “mundo” ao qual estamos “interligados”. Isto é, um respeito ao movimento e a interconexão existentes.
Desse modo, podemos nos manter inertes diante dessa reflexão, ou podemos assumir uma atitude de não-ação e exercitarmos compreender qual a essência de tudo, e de todos, com quem nos relacionamos. Para assim, darmos início a um processo o qual pode culminar em uma “mudança de caminho”.
Essa mudança talvez não ofereça um vislumbre concreto. Porém, representa um ampliar de possibilidades o qual pode significar um exercício de liberdade ainda não nos permitido experimentar. Mas passível de apontar para uma direção desconhecida para nós capaz de oferecer oportunidades ainda não cogitadas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

16 novembro 2012

DISTÂNCIA


Uma maneira de nos mantermos tranquilos a respeito de algo é nos distanciarmos. Enquanto criança somos levados a um aprendizado que possibilita nos protegermos daquilo que nos oferece algum tipo de perigo. Isto é, não nos expormos a alturas perigosas entre outras situações.
Não podemos nos esquecer, porém, da proteção relacionada ao nosso bem estar psíquico e emocional. Sendo assim, encontrar formas de defender a manutenção desse bem estar, está de certa forma inerentemente relacionado à continuidade de nosso existir. Pois, somos amparados o tempo todo por nosso aparelho psíquico, o qual se mobiliza nos momentos de maior dificuldade no intuito de nos manter equilibrados o máximo possível.
A psicóloga e autora Lídia Rosenberg Aratangy afirma haver um tipo de mecanismo para nos tranquilizar e ajudar a viver com alguma sensação de segurança num mundo abastado de perigos. Tal mecanismo, segundo a psicóloga, consiste em dividir a humanidade em duas partes: nós e os outros. Ou seja, ao nos colocarmos aparte de todos os outros salvaguardamos a distância e, com isso, “garantimos” nossa segurança.
Contudo, tal segurança pode tornar-se contraditória ao considerarmos o fato de nos construirmos como seres existentes na medida em que nos relacionamos com os outros. Então, estabelecermos tal separação entre nós e o resto do mundo pode nos colocar numa situação futuramente inconveniente.
É extremamente importante cuidarmos de nosso bem estar e buscarmos formas de nos protegermos. Entretanto, precisamos nos manter atentos para não descuidarmos de nossas relações, tendo em vista serem elas nossas possibilidades para novas as oportunidades de desenvolvimento pessoal.
Sendo assim, fixar distâncias seguras do que pode nos prejudicar é essencial. Contudo, precisamos ter cautela com esse processo, para ao final não nos encontrarmos carentes do desenvolvimento de mecanismos os quais permitam nos relacionarmos de modo satisfatório. Pois, a mesma distância que nos protege pode transformar-se em obstáculo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

09 novembro 2012

CRISE: PERIGO E OPORTUNIDADE


Fritjof Capra em seu livro “O Ponto de Mutação” argumenta a respeito da crise e sua possibilidade para a transformação. O autor destaca que a cultura chinesa sustenta uma visão inteiramente dinâmica do mundo e uma significativa percepção da história, inclusive, profunda ciência da conexão entre crise e mudança. Eles utilizam o termo: “wei-ji” para crise, que é composto dos caracteres perigo e oportunidade.
 Erick Erickson, por sua vez, destacou a importância da crise no processo de desenvolvimento. Ele afirma que o indivíduo necessita transpor uma crise para que possa alcançar um novo ponto em seu progresso vital. Ou seja, todo crescimento envolve algum movimento o qual, segundo esse autor, tem como “gatilho” uma crise.
Não se pode, no entanto, deixar de considerar a crise como um perigo. Mas, também representa uma oportunidade. E, ao vivenciarmos um momento no qual nos sentimos em conflito ocorrem certos movimentos inevitáveis nos quais nossos sentidos entram em ação de modo mais aguçado. Isso constitui uma possibilidade para o desenvolvimento, mas em contrapartida pode nos paralisar diante do perigo iminente.
O modo como lidamos com o momento de crise é sumamente importante. Pois, esse modo irá definir se ela representará um avanço ou um retraimento em nosso desenvolvimento pessoal. A mudança, após a tensão experimentada, é inevitável. Desse modo, um cuidado especial se faz necessário para podermos inserir em nosso processo de crise a oportunidade, em oposição ao perigo.
Sendo assim, pode-se compreender que a crise constitui uma ocasião para um movimento em prol de algum tipo de mudança. No entanto, cabe a nós dispô-la em equivalência com o perigo ou com a oportunidade.
Muitas vezes podemos nos sentir inaptos a assumir o controle da situação que vivenciamos. Mas, se assumirmos nossa posição de liberdade de escolha e unirmos a essa liberdade nossa compreensão para as consequências que as escolhas envolvem, como sugere Jean-Paul Sartre; poderemos, como sugere o filósofo Heidegger, nos colocar em posição de dilatar o número de possibilidades a nós oferecidos. E, desse modo, poder orientar a mudança ocasionada pela crise para o nosso crescimento pessoal.
Assim, transformamos o perigo em oportunidade de desenvolvimento, e nos tornamos cada vez mais aptos a lidar com as dificuldades iminentes no processo de existir ao qual estamos sujeitos. Proporcionando a nós mesmos o exercício pleno de nossa liberdade e, por conseguinte, exercitamos nossa capacidade para o uso positivo dos momentos de dificuldade, os quais, são, na maioria das vezes, inevitáveis.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

02 novembro 2012

AUTOR OU VÍTIMA?


É muito comum o sentimento de ser vítima em relação a algo ou alguma situação. Uma reflexão a respeito desse sentimento pode levar a compreensão de alguns acontecimentos, os quais causam sensações desagradáveis das quais não somos capazes de atinar a origem.
A todo o momento tomamos decisões. Nem sempre nos damos conta disso, ou mesmo, em um grande número de ocasiões, não acreditamos termos tido alguma opção para praticar tal escolha. Porém, sempre escolhemos entre ao menos duas possibilidades.
É comum buscar justificar nossas inconstâncias com a ausência de opções. Explicamo-nos com esse argumento e nos sentimos “confortáveis” com isso. Não obstante, tão comum quanto nos sentirmos vítimas é experimentarmos dissabores e sermos incapazes de localizar a razão. Insegurança, medo, ansiedade, tristeza, depressão, entre tantos outros sentimentos, podem nos acometer sem nos darmos conta de poder estar em nosso poder a precaução deles.
Se buscarmos uma compreensão e nos localizarmos como autores dos acontecimentos que nos envolvem e não como vítimas, incorremos em uma grande possibilidade de assumirmos o controle de muitas situações. Inclusive aquelas as quais julgávamos serem impossíveis de culminarem em uma solução satisfatória.
Contudo, ao nos tornarmos autores de nossa história, ou seja, assumirmos sermos responsáveis por nossas escolhas envolve também assumirmos as consequências que as acompanham. Não estamos isentos dessas consequências mesmo quando nos colocamos como vítimas. O que pode ocorrer é experimentamos a ilusão a respeito da possibilidade de não termos participado do curso dos acontecimentos.
Sendo assim, a nossa principal opção é a manutenção do status-quo, ou seja, o cuidado para que tudo permaneça do mesmo modo que está. Assim, não corremos risco algum. Entretanto, isso nos mantém, também, impossibilitados da oportunidade de experimentar aqueles benefícios inimagináveis quando estamos envolvidos no “conforto” da posição de vítima.
A decisão de mudar um jeito de ser e arriscar experimentar dissabores diferentes pode assustar em um primeiro momento.  Mas, como afirmou o filósofo Sartre: o que nos acontece é de grande monta, no entanto, mais importante é o que fazemos a partir de então. Sendo assim, estamos sujeitos a muitas intempéries, das quais podem nos conduzir a dissabores os mais variados. E, a opção de não tomar nenhuma atitude é uma possibilidade. Contudo, nos cabe a consciência de que tal decisão envolve consequências e nós vamos lidar com elas, independente do nosso desejo.
Então, ao assumirmos a posição de autores, corremos o risco de ampliar nossas alternativas e, com isso, estendermos nossa capacidade para a liberdade como sugeriu o filósofo Heidegger.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

26 outubro 2012

FERRAMENTAS ÚTEIS


Desde a idade média buscam-se receitas prontas com instruções a serem seguidas para nos garantir a obtenção de determinado resultado. Seja este no âmbito pessoal ou material. Esquecemo-nos, no entanto, que toda aquisição ou conquista demanda nosso próprio envolvimento, bem como a disposição em investir nosso potencial na empreitada em questão.
No momento social atual, ocorre uma grande movimentação para que os resultados sejam obtidos instantaneamente. O cogitar a respeito da necessidade em exercitar algum tipo de comportamento para que algo seja conquistado, representa um investimento de tempo e disposição dos quais nem sempre estamos dispostos a conceder.
Desse modo, a busca frenética de ferramentas indicadoras de como adquirir algo, torna-se uma atividade trivial. No entanto, ao se pensar em atingir algum tipo de resultado ou conquistar algo que desejamos, é necessário estarmos atentos aos pormenores envolvidos no processo, inclusive as minúcias relacionadas à nossa própria posição diante dele.
Porém, conhecer nossas particularidades, isto é, permitirmos nos envolver em um processo para culminar em um autoconhecimento amplificado que, ainda, nos possibilite anteciparmos com maior eficiência o que desejamos e como seremos capazes de obter tal objetivo, nem sempre constitui nossa prioridade.
 Contudo, vivemos em uma época na qual se busca tudo o mais pronto possível, sem demandar o mínimo de nosso esforço pessoal. A simples sugestão do exercitar algum comportamento ou atitude, em um primeiro momento, assume a posição de algo dispendioso de tempo e energia o qual pode não proporcionar o resultado esperado.
Sendo assim, assume extrema importância nos permitirmos algum tempo destinado a reflexões acerca de nossas minúcias. A fim de nos habilitarmos ao processo do conhecimento de nós mesmos. E, quiçá permitirmos, por fim, o amparo de alguém que nos possibilite o ampliar nosso olhar para tal possibilidade.
Em um período no qual o individualismo se faz primordial, nos esquecermos de que somos seres que se constroem e se desenvolvem quando acompanhados torna-se algo comum. Então, talvez a ferramenta mais útil para nosso desenvolvimento pessoal seja a permissão das companhias que permitem o feedback daquele que nos vê com um olhar diferenciado do nosso. Assim, haverá maior possibilidade de nos oferecer a oportunidade de enxergarmos a nós mesmos sob uma perspectiva diferente.
Se tal ferramenta constitui a “receita” para algumas dificuldades experimentadas não é possível afirmar. No entanto, ao nos permitirmos estarmos acompanhados, ou seja, dividindo nossos sentimentos, dores e alegrias, nos aproximamos do pensamento do filósofo Heidegger, o qual afirma ser necessário ampliarmos nosso rol de possibilidades para, então, experimentarmos a liberdade a qual somos herdeiros.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

19 outubro 2012

PADRÕES


As condições de vida atual nos permite contato com as mais variadas informações. Bem como o acesso a itens de consumo inimagináveis há alguns anos. Toda essa evolução nos permite progressos e conquistas nem sequer sonhadas em um período anterior a essa acessibilidade.
Juntamente com o acesso a bens de consumo e informações, há também a proximidade junto ao conhecimento acerca de diversos assuntos e temas nos seus mais complexos detalhes. Necessário é apenas estarmos interessados. 
Atrelado a toda essa facilidade o contato com padrões estabelecidos também se torna uma constante. Estereótipos e expectativas sociais quase nos aprisionam em um modo de ser e de conviver “padronizado”, sem oferecer espaço para surpresas.
Por conviver com tudo isso nos tornamos, em não raras ocasiões, confusos quanto a quem somos e ao que realmente queremos. Isto é, não nos sentimos totalmente seguros acerca de nossa busca constituir o que de fato nos completa.
Pode ser identificado um ritmo semelhante em todo processo de desenvolvimento pessoal, o qual culmina em uma direção análoga. E, quando alguém decide ter um comportamento ou uma decisão diferente do “comum”, experimenta certo desconforto em relação aos seus companheiros. Esse fato pode se tornar crítico, fazer com que, em algumas vezes, o retorno ao ponto comum, para não sofrer a “discriminação”, torne-se uma alternativa muito atrativa.
Ao se deparar com desejos e anseios os quais nos levam a experimentar alguma aflição, talvez, seja o momento de refletir acerca deles. Para depois averiguar se nos “pertencem” ou se constituem apenas solicitações sociais com as quais nos deparamos, mas nem sempre nos apresentamos aptos a discernir.
Sendo assim, toda ferramenta útil no sentido de nos possibilitar um autoconhecimento mais específico e acurado, torna-se indispensável nos dias atuais quando a velocidade tornou-se a característica mais presente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

12 outubro 2012

VERDADE


Há algum tempo, em um desenho dirigido a crianças, um pai tentava ensinar à filha pequena a necessidade de sempre se dizer a verdade. No entanto, com essa afirmação a criança deu início a um verdadeiro bombardeio sobre as verdades observadas, atingido a todos que se aproximassem dela. O pai viu-se, portanto, com a necessidade de orientar sua filha em como “usar” a verdade.
Fica então uma questão: há como “administrar” a verdade? Elisabeth Kübler-Ross, em seu livro “Morte e Morrer”, afirma ser a verdade sempre a melhor opção. Então, constituindo a melhor opção como inseri-la em nosso dia-a-dia de modo a não ferir quem nos cerca?
Não são poucos os momentos em que nos deparamos com algo a ser dito, no entanto, não sabemos ao certo como proceder à abordagem. Há afirmações no sentido de ser necessário aguardar o momento adequado, para que o objetivo seja atingido e para que a verdade não seja uma arma empunhada. Ou seja, atentar para a oportunidade em que o que será dito não seja interpretado de um modo diferente daquele desejado por nós.
No entanto, como proceder quando a verdade a ser exposta diz respeito a nós mesmos. Isto é, quando o que precisa ser “dito” tem a necessidade de ser revelado a nós e por nós? Essa não é uma tarefa simples. Nem sempre estamos capacitados a conhecer nossa própria verdade.
Não atentando para o que realmente ocorre conosco nos envolvemos na ilusão. E permanecemos imbuídos da ilusão, distorcemos nossa percepção a nosso respeito cerceando, assim, nossas possibilidades de desenvolvimento pessoal, o qual permitiria o estabelecimento de relações mais satisfatórias.
Ao se falar em relações satisfatórias somos levados a pensar em relações com outras pessoas. Contudo, não podemos nos esquecer de que estabelecemos relações com tudo o que nos cerca, sejam seres vivos ou não.
O relacionar-se com tudo e com todos nos é permitida a conquista da sensação de satisfação ou de frustração. Então, ao conhecer nossas verdades, sejam elas agradáveis ou não, nos permitimos uma chance de experimentarmos tal satisfação, a qual pode culminar na experiência de tranquilidade tão almejada nos dias atuais.
Por isso, assume grande importância a busca de maneiras para possibilitarem nosso conhecimento acerca de quem somos. Porque pode oferecer algum sentido ao pensamento da autora citada anteriormente quando afirma ser a verdade sempre a melhor opção.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

05 outubro 2012

NÓS CONOSCO


Daria Knoch, professora na universidade da Basiléia na suíça, e Gastian Schiller, doutorando na mesma universidade, argumentam em um artigo sobre a possibilidade de um bom amigo ter traído sua confiança. Eles destacam que em caso afirmativo se esse acontecimento pode ter conduzido você a ter exposto a ele claramente sua opinião ou talvez tenha até terminado a amizade. Questionam, ainda, se ocorreu de nos irritarmos ultimamente com uma multa por ter dirigido rápido demais na estrada.
Knoch e Schiller evidenciam que quando desrespeitamos regras podemos ser punidos pelas pessoas à nossa volta ou por instituições públicas. Por esse motivo quase sempre respeitamos as normas e controlamos impulsos egoístas para evitar sanções. Isto é, nos protegemos de possíveis punições que nossos atos possam provocar.
No entanto, como procedemos quando essas regras são especificamente nossas? Ou seja, quando nossas “regras internas” é que estão sendo violadas? Todos nós temos um “jeito” de agir diante de cada situação, das mais simples às mais complexas. Seja uma questão entre escolher a cor de uma blusa nova, ou entre uma profissão ou outra; ou mesmo se decidimos por algo o qual pode ferir ou decepcionar alguém.
Todos nós possuímos nossas “próprias regras” às quais nem sempre prestamos muita atenção. Somos “conduzidos” por elas sem atentarmos para como isso ocorre. Contudo, sobrevém que em alguns momentos nos deparamos com determinada situação na qual nos prejudicamos ou sofremos em consequência de nossos atos. Se nesse momento entendermos que violamos alguma regra particular nossa, podemos exercer um papel punitivo contra nós mesmos. Essa punição pode ser um lamento, ou algo mais forte e sutil, o qual podemos não nos dar conta de imediato.
Contudo, nem sempre esse processo se sucede de um modo límpido para nós. É comum nos “ferirmos” de uma forma tão hábil a ponto de não percebermos tal atitude. A espera de uma sanção, quando violamos uma regra geral, também ocorre quando essa transgressão ocorre em âmbito mais privado. Isto é, nosso modo de conduta nos faz, de algum modo, compreender nosso erro e, assim, nos coloca na expectativa das consequências.
Se a regra violada é de fórum particular, pode ocorrer de sermos nós os únicos a ter conhecimento da “infração”. Entretanto, isso pode não ser o suficiente para nos confortar ou para amenizar nosso “próprio” julgamento a nosso respeito. Nesse momento pode entrar em ação um processo o qual culmine em algum tipo de constrangimento para nosso bem estar geral, seja esse físico ou emocional.
Então, se nos permitirmos um cuidado pormenorizado de nós para conosco, envolvendo uma maneira de nos conhecermos de modo mais acurado, podemos nos aproximar da compreensão de nossas “regras” pessoais. E, assim, sermos capazes de lidar com nossas “infrações” de modo, ao menos, mais “justo”, ou menos intransigente. E assim proporcionar uma relação saudável entre nós e nosso modo de ser.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

28 setembro 2012

COMUNICAÇÃO


Para haver algum tipo de comunicação há a necessidade alguém de enviar uma mensagem para outro a receber. No entanto nem sempre nos preocupamos em averiguar se o que dissemos, isto é, se a mensagem enviada, foi compreendida como esperávamos.
Não podemos nos esquecer de que assim como o olhar, o ouvir envolve nossas experiências passadas no curso da interpretação. Ao olharmos para algo, está envolvido nesse processo tudo o que vivenciamos em nosso passado com a imagem em questão. Então, enxergamos, por exemplo, um tom de rosa ou azul diferente de qualquer outra pessoa, devido à nossa experiência com a referida cor.
Do mesmo modo ocorre com a nossa audição. Tudo o que vivenciamos anteriormente em nossa existência, permeia aquilo que ouvimos. Isto é, assim como no processo de ver, o ouvir envolve nossa experiência passada com o tema abordado. Ou seja, disponibilizamos nossa atenção de modo proporcional ao nosso interesse envolvido em alguma experiência anterior. Isso faz com que escutemos, isto é, interpretemos a mensagem de um modo particular e “único” para cada um.
Não é raro, após uma palestra, um grupo de pessoas conversarem e descobrirem não ter ouvido algo aqui e ali. Algumas vezes isso decorre de uma distração nossa, mas também ocorre devido ao “como” ouvimos a mensagem.
No entanto, não estamos habituados a “verificar” o que dissemos e, mais ainda, se o que ouvimos foi o que nosso interlocutor quis nos dizer. Desse modo, se faz importante exercitarmos um modo de conhecer como nossa mensagem atingiu seu alvo para que nossos contatos se tornem mais límpidos. Pois, nos acostumamos a lamentar os diversos mal entendidos diários em nosso contato com os outros. Mas, não nos propomos a checar qual a mensagem realmente recebida por aquele a quem abordamos ou mesmo a quem ouvimos.
A cada dia experimentamos possibilidades cada vez mais elaboradas para o contato com o outro. Redes sociais e meios tecnológicos facilitam a “proximidade”. Porém, se buscarmos um contato de qualidade para satisfazer nossa necessidade humana de relação, necessitaremos atentar para o modo como essa comunicação ocorre.
Se nos dispusermos a buscar maneiras de compreender como nos comunicamos, ou seja, como ouvimos e como dizemos o que desejamos, incorremos na possibilidade de aprimorarmos a qualidade de nossas relações. E, por consequência, estabelecermos relações com maior qualidade, possibilitando assim, a oportunidade de satisfazermos nossa necessidade de trocas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

21 setembro 2012

ESCOLHAS POSSÍVEIS


Elisabeth Kübler-Ross em seu livro “A roda da vida”, afirma ser o livre-arbítrio um direito individual e intransferível. E, por isso, põe sobre nossos ombros a responsabilidade por fazer as melhores escolhas possíveis. No entanto, será que fazemos as melhores escolhas possíveis?
É comum quando experimentamos a decepção com algo, nos posicionarmos como vítimas das circunstâncias, e encontrarmos no mundo diversos agentes causadores de nosso sofrimento. Mas, se nos dispusermos a um olhar um pouco mais criterioso para nós mesmos, incorremos na possibilidade de compreendermos nosso envolvimento nas decisões culminantes de nossa atual condição.
Em um primeiro momento, ao nos depararmos com algum tipo de sofrimento nos sentimos como “apunhalados” pelo mundo e por todos que nele se encontram. Contudo, se permitirmos uma análise cuidadosa e isenta de pré-julgamentos, certamente, encontraremos diversos momentos nos quais nossas decisões foram imperativas para nos posicionar no ponto no qual nos encontramos. Isto é, nossas escolhas nos conduzem ao estado no qual nos encontramos no presente.
Quando envolvidos na dor buscamos, com frequência, os culpados por nosso dissabor. No entanto, ao assumirmos nossa condição de copartícipes da construção de nossa história, ou seja, admitirmos que nossas escolhas são feitas por nós, também assumimos a possibilidade de mudanças.
Contudo, é de suma importância considerar que ao fazer uma escolha relegamos ao menos uma alternativa. Então, com o exercício de ampliarmos o panorama das circunstâncias as quais vivenciamos, ele permite nossa capacitação de uma análise mais acurada das opções ao considerar os prós e contras nelas envolvidos.
Assim, cuidando de nossa atenção aos fatos e às opções, poderemos nos munir do arsenal o qual nos permita praticarmos as melhores escolhas possíveis. E, a partir daí, assumirmos com todas as regalias a posição de copartícipes da construção de nossa história. Para, desse modo, assumir o cuidado com nosso presente, valorizar nossa história passada e com o olhar para o futuro.
Desse modo, faremos uso de nosso livre arbítrio em prol de nosso bem estar e desenvolvimento. Permitiremos que o peso em nossos ombros seja, de algum modo, agradável. Pois, tal peso fará parte da bagagem que irá compor nosso existir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

14 setembro 2012

DOR


“A dor é temporária, desistir dura para sempre”. Esta afirmação é do famoso ciclista americano, Lance Armstrong, vencedor do Tour de France de 1999 a 2005 após restabelecer-se de um câncer.
Muitas vezes temos o impulso de acreditarmos em nossa incapacidade para suportar qualquer tipo de sofrimento. Seja ele relacionado a uma dor física ou emocional. Podemos, certamente, optarmos pelo desistir em lugar de buscarmos formas alternativas de lidarmos com o que nos aflige. Contudo, poderemos apenas substituir uma dor por outra: a da desistência.
No entanto, há maneiras de lidarmos com nossas dores de modo a tirarmos proveito dela.  Quando uma situação nos causa algum tipo de aflição podemos nos lamentar e nos penalizarmos com o que ocorreu. Ou, nos empenharmos na busca de alternativas para nos desenvolvermos a partir da oportunidade em questão.
Um adulto relatou sua experiência de ter tido esquecido, por todos que o conheciam na ocasião, a data de seu aniversário quando ainda jovem. Segundo ele, a dor experimentada foi muito intensa. Porém, ao final do dia compreendeu que as pessoas podem, em alguns momentos, verem-se tão envolvidas em seus próprios assuntos, que uma data especial para alguém pode permanecer despercebida para outro.
Isso não significa, entretanto, ausência de sentimento. Expressa, apenas, que podemos nos enredar em situações as quais nos levem a um envolvimento tal, de modo que até a lembrança de uma data importante pode tornar-se algo irrealizável.
Todavia, em uma experiência dessas poder-se-ia optar por um sofrimento contínuo a cada ano com a repetição da data e da lembrança do ocorrido. Não obstante, ao decidir-se por analisar de modo livre de sentimentos de ressentimento, a experiência em questão pode assumir o papel de algo construtivo e capaz de possibilitar algum desenvolvimento pessoal.
Há um termo: resiliência, muito em voga atualmente e que define esse tipo de comportamento, o de alguém que possui resistência ao choque. Isto é, capaz de sofrer algum tipo de contratempo e, apesar disso, reerguer-se diferente e fortalecido.
Então, como Lance Armstrong sugere, pode ocorrer de ao optarmos por não desistir da luta, alcançarmos algum tipo de dor lancinante. Mas, também incorremos no risco de experimentarmos sensações de vitória desconhecidas por nós, as quais podem nos oferecer oportunidades de conquistas impensadas anteriormente à experiência vivida. Sendo assim, buscar formas de conhecermos nosso potencial de resiliência torna-se um objetivo, ao menos, enriquecedor.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

07 setembro 2012

SORTE


O acesso facilitado a informações e imagens sobre o cotidiano alheio tornou-se um aliado, mas também uma possível fonte de frustração. Sempre é possível adquirir algum aprendizado com a experiência do outro, mas também se pode experimentar a dor do desejo não alcançado. Ou ainda, a inveja em relação ao outro.
Costuma-se comparar ganhos e perdas. No entanto, ao procedermos assim, podemos desconsiderar nossas capacidades de quando nos envolvemos na dor do considerado inalcançável.
Não é raro conhecermos quem tem facilidade para atingir suas metas e, em um primeiro momento, compreendemos, ou justificamos tais acontecimentos explicando-os através da sorte. Ou seja, delega-se a ela a responsabilidade de termos ou não sucesso em nossas empreitadas e, desse modo, eximimos a nossa responsabilidade.
No entanto uma das definições para a sorte é como sendo uma força determinante ou reguladora de tudo quanto ocorre, mas cuja causa se atribui ao acaso das circunstâncias ou a uma suposta predestinação. Será possível, então, que quem tem sucesso ou insucesso em suas buscas conta com apenas com a sorte e ponto final?
Fritjof Capra no livro “O ponto de mutação” afirma não existirem estruturas estáticas na natureza. Existe estabilidade, mas essa estabilidade é a do equilíbrio dinâmico. Ou seja, há um movimento constante em tudo o que circunda nosso existir. E, esse movimento tende a um equilíbrio, porém não estático e imóvel, mas dinâmico, isto é, em constante movimento.
Então, se considerarmos tal equilíbrio, o evento sorte parece não se adequar a esse processo. Sendo assim, pode estar em nossa inciativa e flexibilidade a capacidade para atingir ou não nossos objetivos.
Desse modo, o que classificamos como sendo sorte, pode constituir, apenas, em uma postura diante do universo, a qual permite ao nosso equilíbrio dinâmico ser atingido de modo mais hábil, quando nos dispomos a unir forças com essa “energia universal”.
Por isso, pode ocorrer de gerarmos grandes mudanças em nosso dia-a-dia, se nos dispusermos a conhecermos como nos movimentamos em prol do que desejamos e do que nos causa frustração. Para assim, direcionarmos com maior eficiência o fluxo de nossa energia e visar alcançarmos nossas metas.
Fala-se sobre lei do retorno, o que sobe desce, entre outros... No entanto, pode ocorrer de apenas estarmos envolvidos em uma energia em constante movimento a qual busca seu equilíbrio nesse movimento. E, sendo assim, cabe a nós compreender nossa posição nesse processo para nos tornarmos mais aptos ao nosso desenvolvimento pessoal.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

31 agosto 2012

AMOR E RISCOS


O amor que não corre riscos não é grande o bastante. Essa frase foi dita por um personagem de televisão há algum tempo. Quais tipos de risco e de amor poderíamos considerar em tal afirmação?
Costuma-se afirmar que quem ama precisa permitir certa liberdade ao seu objeto de amor. Assim para este não ser “sufocado” e não experimentar a sensação de estar perdendo algo ao dedicar-se a tal sentimento.
Porém, será que nosso amor pode e é direcionado apenas a outra pessoa ou esse sentimento também pode ser dedicado a nós mesmos? E, nesse caso, como seriam os riscos que poderíamos permitir a esse objeto de amor tão próximo a nós: nós.
Quando nos envolvemos com outrem de modo mais intenso é comum experimentarmos, em um primeiro momento, o desejo e a busca da “posse”. Nos sentimos confortáveis com isso, mas após algum tempo de relacionamento é comum essa necessidade conhecer um afrouxar dos laços. E, é nesse momento que somos “convocados” a experimentar o risco do libertar para reforçar o sentimento. E em relação a nós, como seria esse proceder?
Ao longo de nosso desenvolvimento e crescimento lapidamos sentimentos e atitudes, especialmente aquelas relacionadas ao nosso modo de ser. Podemos ser mais ou menos exigentes para conosco e mais ou menos cruéis também.
Contudo, se considerarmos a necessidade de nos permitirmos certa liberdade como quando nos relacionamos com outra pessoa. Poderemos descobrir que há algum risco nesse modo de agir. Mas, também há a possibilidade do contato com experiências diferentes das habituais. E, pode estar incutido nisso a oportunidade de experimentarmos um grau maior de satisfação e excitação para com o nosso existir.
Lamentamos o reduzido número de ocasiões nas quais experimentamos satisfação e prazer. Então, ao nos conhecermos e nos permitirmos sentir por nós um amor que aceite riscos, poderemos nos proporcionar maiores chances de ampliarmos o número de situações prazerosas. E, desse modo, expandir os momentos nos quais experimentamos o bem estar geral.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

24 agosto 2012

SACRIFÍCIO


Há uma referência ao amor materno como sendo um dos mais puros sentimentos existente. O que ocorre para, de modo quase unânime, esse pensamento emergir? Qual a matéria prima constituinte de tal sentimento?
O herói mitológico Hércules induzido ao engano por influência da deusa Hera mata seus próprios filhos e, experimenta um remorso imensurável. Então, lhe é oferecida a oportunidade de redenção. Mas, para tanto, ele precisa executar doze trabalhos os quais irão desenvolvê-lo e culminar na reparação de seu erro.
Poder-se-ia, nesse momento, questionar sobre a relação entre o herói e o sentimento materno. Hércules, em seus trabalhos, tem que sacrificar muitas coisas como: sentimentos, conforto, aconchego, proteção, etc... No entanto, tudo isso possibilita a ele a oportunidade de retomar sua vida livre da culpa, isto é, redimido. E a mãe? Como se desenvolve um sentimento o qual leve a uma crença de que ele constitua um dos sentimentos mais puros?
Quando uma mulher espera um filho é comum idealiza-lo, imagina-se como ele será, o que fará e quem será. No entanto, ao nascer, esse filho confronta toda essa idealização e lhe apresenta a realidade que, frequentemente, é diferente do imaginado. Não melhor ou pior, apenas diferente.
Mas, essa mãe sacrifica seu sonho para acolher e aceitar o filho que a realidade lhe impõe. Nesse momento começa a brotar o sentimento tão valorizado por todos. Isto é, um amor que nasce do sacrifício do abrir mão do ideal pelo real. Então, do mesmo modo que o herói a mãe transpassa o sacrifício para o desenvolvimento de algo mais nobre.
Vivemos atualmente algumas situações que nos permite não nos surpreendermos.  Ou seja, temos um arsenal para nos possibilitar o contato com o real, muitas vezes, antes mesmo da “realidade” se impor.
Uma amiga contava a respeito de uma noiva, a qual teria tido acesso a imagem da igreja na qual seria celebrada a cerimônia de casamento dela, quando ainda se encontrava no veículo que a conduzia ao local. Desse modo, esta noiva não vivenciou a possibilidade de se surpreender com os arranjos e a disposição das pessoas na igreja. Isto é, não houve um confronto da idealização com a realidade “in loco”. Será que a surpresa com a imagem do local não poderia lhe oferecer algum sentimento diferente?
Não temos como saber. Podemos, contudo, refletir a respeito de como procedemos com as diversas situações vividas. E, nos questionarmos se nos permitimos o confronto de nossos ideais com a realidade. E, ainda, se possibilitamos algum tipo de sacrifício para os sentimentos nascidos do confronto serem fortalecidos por ele.

 PS: O texto de hoje é baseado nas reflexões proporcionadas pela sempre querida Neuza Fiori.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

17 agosto 2012

OLHAR - JANELA DA ALMA OU FILTRO DA VIDA?


Em uma pequena historieta a esposa comentava com o marido sobre a sujeira da roupa que sua vizinha estendia ao varal. O marido aproximou-se da janela pela qual a esposa observava os movimentos da vizinha, esfregou um pouco suas mãos sobre o vidro limpando-o e destacou que a sujeira estava nele e não nas roupas da vizinha.
Em algumas ocasiões, muito mais frequente do que gostaríamos de admitir, ocorre o mesmo com nosso olhar. Dependendo da “lente” que usamos as “imagens” que nele surgem são vistas através dela. Então, como na historieta, podemos não estar procedendo à devida manutenção da limpeza desta lente. Como fazer, contudo, para que nossa lente seja a mais adequada possível? Como detectar se ela está adequada, isto é, “suja” ou não?
Com a rotina diária nos acostumamos a agir em um ritmo no qual nem sempre atentamos para os detalhes a nossa volta. No entanto, talvez esteja nessa atenção a possibilidade de “conduzirmos” nosso modo de ver as situações.
Quando nos permitimos um cuidado no que tange o nosso modo de ser, podemos, na realidade, proceder à manutenção das lentes que usamos para observar os acontecimentos ao nosso redor. E, desse modo, assumirmos algum controle sobre o que vemos.
Podemos, assim, manter nossa “janela” suja e com isso praticarmos as críticas ao que vemos de inadequado. Ou cuidar dela de modo que a paisagem externa a ela seja um pouco mais colorida. E, com isso, nos permitirmos a possibilidade de “vermos” as situações permeadas por essa paisagem.
No entanto, cabe a nós a decisão pela escolha de qual lente desejamos para nosso olhar. E, para tanto, pode ser necessário um processo para culminar no conhecimento pormenorizado de nós mesmos e de nossas limitações. Para assim podermos utilizar as lentes necessárias à “correção” de nosso olhar. E, possibilitar um olhar menos comprometido para as diversas situações as quais vivenciamos diariamente.


Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

10 agosto 2012

SONHOS - COMO SONHAR?


Sonhamos com os mais variados tipos de situações. Desde um pequeno objeto o qual desejamos até uma condição pessoal mais específica. Em nosso dia-a-dia nos acostumamos a ouvir aqui e ali alguma referência à necessidade de termos cuidado com o que sonhamos para não nos frustrarmos.
Contudo, como controlar o nosso desejo mais fervoroso? De qual modo podemos estabelecer um limite entre o que queremos e o que podemos querer? Certo alguém comentava a sua tranquilidade em relação aos seus sonhos por terem sido eles todos realizados. Daí surge uma pergunta: esse alguém teve todos os seus sonhos realizados, ou sonhou sonhos passíveis de serem concretizados? Como delimitar a diferença entre eles?
Nas solicitações diárias as quais estamos todos submetidos é comum não encontrarmos tempo disponível para reflexões que nos conduzam a um conhecimento pessoal mais apurado. Isto faz com que tomemos nossas decisões, sem avaliarmos com maior afinco os prós e os contras envolvidos nelas.
Ao não sermos conscientes de nosso potencial bem como de nossos limites incorremos em uma grande possibilidade de “errarmos” na escolha de nossos sonhos. Escolha, porque como afirmou o filósofo Jean Paul-Sartre, somos condenados a escolher, pois o fazemos a todo o momento. Inclusive quando nos iludimos com a ideia de termos deixado de escolher, segundo o filósofo, o fizemos. Isto é, ao não escolhermos fizemos a escolha por essa opção.
Então, diante de tal “condenação”, por sermos obrigados a lidar com as consequências das escolhas feitas, ao procedermos a uma análise a respeito de quem e como somos, nos tornamos mais aptos a “controlar” nossos sonhos. Ou seja, proporcionamos a nós mesmos a possibilidade de avaliar o que desejamos, bem como considerar as possibilidades desses desejos concretizarem-se ou não.
Diante disso, assumimos uma posição singular na atualidade.  Descartamos o devaneio como um capricho da imaginação, para, privilegiarmos o sonho, isto é, uma ideia a qual nos domina e que perseguimos com paixão e interesse.
Sendo assim, ao nos propormos ao conhecimento pormenorizado de nossas paixões e interesses, podemos estabelecer uma relação mais acolhedora com aquilo desejado. E, assim, sonharmos sonhos passíveis de serem concretizados com maior frequência. Estabelecendo, desse modo, uma correlação de satisfação mais frequente em nosso existir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

03 agosto 2012

ESCOLHAS E ATITUDES


Na atualidade, especialmente devido à disseminação das redes sociais, é comum afirmações públicas ou, em algumas ocasiões, reservadas a respeito da certeza de acerto em relação às decisões tomadas ao longo da vida. Fala-se, inclusive, da satisfação e segurança envolvidas nestas decisões.
Frases de efeito nos conclamam a nos arrependermos do que fizemos e não do que deixamos de fazer. Isto é, há uma “solicitação” para termos atitudes que visam o não termos o que lamentar no futuro. Este mesmo futuro o qual não nos permitimos pensar muito a respeito e, nem tampouco, considerarmos que nossas atitudes hoje o influenciam mais do que gostaríamos.
Contudo, será garantia de satisfação e tranquilidade não nos preocuparmos muito com as consequências de nossos comportamentos de hoje? Presencia-se uma busca desenfreada, de todos nós, em busca de algo o qual nem sempre conseguimos identificar o que é. A única informação obtida é ser preciso nos apressar. Estamos sempre atentos aos “relógios” e às solicitações sociais como se estivéssemos deixando algo para trás.
Mas, nesse processo deixamos de lado a lembrança de que nossas escolhas envolvem, a todo o momento, ao menos duas alternativas. E isso significa uma delas ser negada para outra ser colocada em prática. Isto é, ao optarmos por algo, outro “algo” é deixado de lado.
Porém, não é raro, após alguns anos, ao exercitarmos algum tipo de reflexão ou comparação, nos questionarmos se a decisão tomada há muito tempo foi a mais adequada. Nesse momento podemos iniciar um caminho na busca de analisarmos os ganhos e as perdas envolvidos.
Contudo, ao darmos início a esse processo, corremos o risco de experimentarmos sentimentos de frustração. Pois, não podemos nos esquecer de que toda escolha envolve a frustração de uma das alternativas possíveis. E, se nós escolhemos isso representa que também somos quem foi frustrado.
É nessa ocasião que podemos experimentar o impulso para buscarmos modos de nos realizarmos com maior frequência. Ou, um impulso que nos imobilize em lamentações do que perdemos, levando-nos a uma inércia a qual nos imobiliza no tempo em que estamos ressentidos.
Então, para possibilitarmos que nossa escolha atual seja mais apropriada às nossas realizações, às vezes é preciso reconhecer termos feito escolhas as quais não foram as mais adequadas. E, assim buscarmos modos de viabilizar a garantia de satisfação no presente. Talvez, ao rever as antigas decisões.
Desse modo, necessitamos exercitar nossa atenção para nosso bem estar e nos permitirmos o cuidado necessário para esse processo não ser permeado de dores e sofrimentos desnecessários.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

27 julho 2012

SORTE


Habitualmente denominamos sorte o que ocorre alheio a nós. Isto é, aquilo que ocorre “independente” de nossos esforços, desejos ou, até mesmo, inércia. O dicionário Aurélio traz a seguinte definição: “força que determina ou regula tudo quanto ocorre, e cuja causa se atribui ao acaso das circunstâncias ou a uma suposta predestinação”.
No entanto, ao refletir acerca desse conceito possibilitamos a oportunidade de mudar nosso ponto de vista relacionado à sorte. Colocar em prática a afirmativa do filósofo Heidegger o na qual se destaca que ao ampliarmos nosso rol de possibilidades exercemos nossa maior oportunidade de liberdade.
Não podemos, porém, nos esquecer de nosso potencial para justificar o que não conseguimos alcançar. Seja para nos confortar devido à frustração experimentada. Ou para apaziguar nossos ânimos em relação a uma grande satisfação. Justificar nossa perda ou ganho de modo a não estarem totalmente em nossas “mãos” as possibilidades para tal, nos torna mais próximos da “normalidade”.
Porém, com tal atitude deixamos de lado também a constatação de nossa capacidade, e de nosso esforço no que tange o empenho, ou não, em prol do que almejamos. Ao atentarmos para nossa história pessoal não é difícil justificarmos nossos ganhos com explicações às quais não abarcam nosso empenho e dedicação para com os eventos que culminaram em algum ganho no presente.
É comum deixarmos nossa história passada no esquecimento, como se o presente não tivesse conexão alguma com ela. Nos esquecemos dos momentos em que deixamos de lado alguma frustração ou decepção, para que fosse possível a manutenção de alguma relação familiar ou não. Contudo, se considerarmos sermos o resultado de nossas experiências passadas. Todas elas assumem papel sumamente importante em quem somos atualmente.
Então, torna-se de grande importância nossa busca em prol do conhecimento pessoal pormenorizado, para sermos capazes de compreender nossas atitudes. Para assim nos tornarmos aptos a valorizar e exercer a manutenção delas, para que nos permitam satisfações e ganhos. Bem como, um olhar crítico àqueles comportamentos os quais nos conduzam a sofrimentos físicos ou emocionais, para que tal conhecimento possa nos capacitar à revisão deles e quiçá seu abrandamento.
Importante salientar, contudo, que tal reflexão não demanda tarefa fácil ou amena. Entretanto, ao assumirmos a posição de artífices de nossa história, ao buscar formas de compreensão para quem somos, incorremos na possibilidade de amenizarmos sofrimentos pessoais, estes talvez classificados como desnecessários. E, desse modo, experimentarmos prazeres antes deixados de lado em prol de um bem estar, até então, ilusório.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

20 julho 2012

AMOR PRÓPRIO


Somos todos dotados da capacidade de amar. No entanto, diversas referências costumam afirmar o amor e o ódio serem parceiros. Isto é, segundo elas o amor e o ódio seriam dois sentimentos tão unidos que, em muitas ocasiões, um substituiria o outro sem ao menos nos darmos conta.
Fala-se a respeito da importância em se ter amor próprio. Ele nos permite cuidar de nós em diversos âmbitos. Físico, emocional, psíquico, entre outros. Porém, não nos atentamos para o fato de que, em muitas ocasiões, podemos experimentar o parceiro desse amor, o “ódio próprio”.
Quantas são as ocasiões nas quais nos culpamos por algo. Uma atitude impensada, um ato súbito movido pelo impulso, uma resposta mais áspera devido a um dissabor que, muitas vezes, não tem correlação alguma com quem foi alvo de nossa aspereza. Mas, o importante é que em muitas dessas ocasiões, além de experimentarmos o sentimento de culpa exercitamos também a inércia.
Tal exercício pode nos levar a um acúmulo de sentimentos nocivos a nós mesmos. Não nos damos conta disso porque ao avaliarmos nossa conduta e nos decepcionarmos com ela, entendemos também ser justo nos “condenarmos” e nos “punirmos”. Afinal quem melhor para ser nosso algoz do que nós mesmos?
Nem sempre nos damos conta disso, contudo, podemos nos tornar o mais duro carrasco contra nós mesmos. E, quando isso ocorre, as consequências podem ser as mais penosas possíveis.
Por isso, é importante nos mantermos atentos aos nossos pormenores relacionados aos nossos sentimentos e comportamentos. Para, assim, nos tornarmos aptos a julgamentos mais “justos”.
Ou seja, para quando detectarmos um ato nosso que desaprovamos ou, ao menos, não ficarmos muito satisfeitos, possamos ser capazes de colocar em prática nosso bom senso. E não nos punirmos de modo tão severo, a ponto de prejudicarmos nosso bem estar e equilíbrio, bem como nossa possibilidade de desenvolvimento pessoal.
Sendo assim, nos cabe buscar os meios disponíveis para nos tornarmos habilitados a avaliações mais adequadas em relação ao nosso modo de ser. Pois, ao colocarmos em prática tal atitude, permitimos uma conquista pessoal que pode nos proporcionar diversas ocasiões nas quais experimentamos a sensação da plena realização.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124