29 março 2013

FORTALEZAS


Sentir é bom, mas comunicar o sentimento pode ser ainda melhor. Nem sempre ousamos falar de nossos sentimentos com a frequência que nos permitiria desenvolver essa habilidade de um modo mais natural. Ao longo de nosso crescimento com seres os quais partilham o existir em grupo, somos levados a “omitir”, em muitas ocasiões, o que sentimos.
Em um momento, quando a força e a capacidade em lidar com momentos difíceis torna-se um aspecto desejado e, na maioria das vezes, esperado, a permissividade em sentir e, quiçá, comunicar o que se sente, torna-se um quesito o qual pode conduzir a uma ideia de fraqueza.
Ou seja, corre-se o risco em não ser valorizado devido aos sentimentos. Contudo, somos seres que sentem. Negligenciar esse fato pode nos impelir a um modo de agir o qual tem a oportunidade de assumir uma forma “agressiva” para conosco.
Em nosso modo de ver e pensar se faz comum a crença de que, na maioria das vezes, somos vitimados. Isto é, sofremos influência de situações as quais fogem ao nosso controle. Por isso, sofremos consequências que consideramos injustas.
Contudo, se nos posicionarmos como partícipes do processo de nossas opções bem como das escolhas feitas por nós, nos colocamos também na posição de quem tem o “poder” de administrá-las. Sendo assim, torna-se primordial a assumpção de uma posição mais participativa nesse processo.
Desse modo, se nos permitirmos identificar nossos sentimentos e, o mais importante, se nos habilitarmos a desenvolver a capacidade em comunicar o que sentimos, poderemos estabelecer relações surpreendentes. Pelo fato de se estabelecerem em posição de igualdade, visto que partilhamos de modo uniforme da aptidão de sentir. E, então, não nos perceberemos como vítimas.
Assim, o constituir-se forte pode estar em possibilitarmos ocasiões nas quais possamos identificar os sentimentos envolvidos nos diversos momentos os quais participamos, e dos quais nem sempre nos damos conta da importância ou da indiferença que constituem. Mas, para nos tornarmos capazes de identificá-los, talvez seja necessário tolerarmos nosso envolvimento pessoal e interativo nesse processo. E, assim, nos colocarmos de modo mais vigoroso no que consiste fortalecer nossos sentimentos e como permitimos a comunicação deles.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

22 março 2013

BEM-ESTAR


Vivendo em grupo estamos todos interligados. Fritjof Capra anuncia a inter-relação possuir um limiar um tanto mais abrangente. Segundo o físico, nossas atitudes interferem e influenciam o mundo ao nosso redor, de tal monta que nos tornamos responsáveis pelos acontecimentos em um grau muito mais elevado daquele imaginado por nós. Sendo assim, a conexão tida com o todo nos conduz a um ponto no qual o cuidar de nós assume a função de um cuidar de tudo.
Então, de algum modo, apresentamos responsabilidade com o bem-estar alheio bem como o nosso próprio. No entanto, nem sempre encerra um aspecto habitual um cuidado com o afinco necessário. Relegamos a outros ou mesmo a um outro tempo tal conduta. E, por conseguinte, corremos o risco de não atentarmos para as consequências dela.
Ao nos conscientizarmos de nossa “parceria” com todos os seres que convivem conosco, assumimos um papel mais participativo no que tange as atitudes e consequências delas relacionadas, não apenas a nós, mas aos outros também.
Alguns conclames da atualidade nos induz a um comportamento laissez faire. Isto é, o não envolver-se em questões consideradas além de nosso alcance. Mas, o limiar entre o que não nos diz respeito e o que deixamos de lado ao visar nosso “conforto” pessoal, pode tornar-se quase imperceptível. E, assim, faz-se necessário uma atenção um pouco mais acurada para o discernimento entre eles.
Ao permitirmos a tudo dispor de seu próprio fluxo, podemos deixar de agir quando se faz importante. Em muitas ocasiões somos levados a crer que nossas ocupações, ou mesmo nossos objetivos primordiais, assumem importância tal, ao ponto de deixarmos a um segundo plano o cuidado com relações importantes para nós. Mas, apenas nos aperceberemos da importância dessas relações no momento em que a perdemos.
A liberdade de escolha nos permite experiências singulares, contudo, não podemos negligenciar as consequências as quais podem ser tardias, porém inevitáveis. É comum justificarmos as escolhas feitas por nós com a ausência de opções. Entretanto, na maioria das vezes, não atentamos para o fato de termos permitido que nossos medos, inseguranças ou negligência assumissem lugar de destaque e influenciassem nossas atitudes.
Então, se num momento de reflexão ou de dor nos darmos conta de decisões as quais nos conduziram a um momento indesejado, cabe a nós a busca do conhecimento mais particularizado de nossos limiares. Assim, de forma mais clara, objetiva e ágil nos habilitaremos ao cuidado com as escolhas as quais elegemos como de maior representatividade. Então, garantiremos a manutenção de nosso bem-estar, o qual, como afirma o físico Fritjof Capra, sobrevém o bem-estar geral.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

15 março 2013

ROTINA


O filósofo Heidegger afirma ser a rotina a responsável por experimentarmos segurança em relação à nossa fragilidade. Seres vivos que somos, estamos suscetíveis às intempéries do existir. Contudo, segundo o filósofo, nos entregamos a rotina no intuito de “garantirmos” nossa existência por tempo indeterminado.
Desse modo, programamos situações diversas e, com isso, estabelecemos um acordo íntimo conosco, o qual nos possibilita a tranquilidade em relação à probabilidade do nosso fim. Por essa razão, somos propensos a buscar situações rotineiras e, facilmente, nos sentirmos confortáveis quando inseridos nelas. Porém, ao nos entregarmos à rotina também podemos nos expor. O não permitir um modo de “despertar” da sequência de atividades as quais nos submetemos, pode nos tornar autômatos.
Justificamos tais situações com explicações variadas. Esquecimento, demasiados compromissos que comprometem nosso tempo, ocupações importantes as quais se sobrepõem a outras de menor monta, entre outras. O importante é nos sentirmos tranquilos em relação aos nossos deslizes quando a rotina nos ampara.
Entretanto, há ocasiões nas quais o nosso deslize pode assumir um valor comprometedor. Até chegar ao ponto de colocar em risco a nossa integridade física ou emocional, ou de outrem. Quando isso ocorre pode significar a necessidade de um momento para “despertar” e rever nosso modo de ser e agir relacionado ao nosso existir.
Esse momento costuma desaparecer em meio aos nossos afazeres rotineiros. Por isso, é necessário nos permitirmos alguns instantes nos quais possamos experimentar sensações diferentes das habituais. Ocasiões de lazer ou algo diferente do costumeiro. Como, por exemplo, nos permitirmos atentar para algum detalhe mesmo que ele faça parte de nossa rotina.
Esse detalhe pode consistir em assistir por alguns segundos o pôr do sol, saborear um suco com calma, apreciar o cheiro que a chuva faz emergir do chão. Ou seja, algo que nos permita “desligar o automático” em que nos colocamos quando nos aprofundamos na rotina.
Ao possibilitar momentos voltados para o nosso próprio bem estar, proporcionamos a amplitude do aprimoramento de quem somos. Permitimos nosso desenvolvimento pessoal de modo considerável. Culminando, desse modo, em uma existência com maior plenitude de sentido.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

08 março 2013

O LADO BOM DA VIDA


A referência ao lado bom da vida pode conduzir nosso pensamento a locais de veraneio, reuniões com amigos, viagens agradáveis, entre tantas outras situações as quais nos remetem a lembranças ou planos, de ocasiões em que experimentam-se prazer e contentamento.
No entanto, o filme em cartaz nos cinemas: “O lado bom da vida”, nos apresenta, logo em seu início, uma situação pessoal e familiar a qual se opõe a ideia que o título incita em nossa imaginação. Um rapaz com problemas psiquiátricos e com uma situação pessoal bastante conturbada, devido a eles, retorna ao convívio com os pais. Contudo, contradizendo as expectativas, o ambiente familiar não aparenta ser o local ideal para o sucesso da melhoria do jovem. E, ainda, na tentativa de ajuda em seu processo de recuperação, suas amizades o levam ao contato com uma jovem também em reabilitação de um problema psicológico.
As relações que permeiam a vida deste jovem induzem à conclusão da impossibilidade em aventar-se sua recuperação a contento. No entanto, após diversos contratempos, a jovem amiga do rapaz o leva a um outro modo de olhar para os acontecimentos a sua volta. Ao permitir-se um olhar diferente do ocorrido até então, o jovem torna-se “capaz” de perceber – o lado bom da vida.
O filme reafirma uma questão há muito ressaltada: o que é bom? Qual seria o lado bom em se viver? Abraham Maslow, psicólogo, propôs uma hierarquia de necessidades que seriam importantes para ser possível encontrarmos um equilíbrio psíquico. Isto é, estando tais necessidades satisfeitas estaríamos aptos a cuidar de nossas questões emocionais. 
É comum estabelecermos como primordial o alcance de algumas metas para nos sentirmos felizes; e essas metas, em sua maioria, estão de acordo com as necessidades sugeridas por Maslow. Contudo, elas podem ocupar nosso tempo e energia, a tal ponto de nos privar de olhar para o que de bom se apresenta no momento.
Ao oferecermos um olhar um pouco mais generoso à nossa realidade, temos a chance de nos tranquilizarmos em relação aos nossos sonhos e planos. Heidegger salienta estar o adoecer conectado ao nosso distanciamento do presente. A história do filme denota a importância em apreciarmos nossas possibilidades atuais e, então, nos habilitarmos a ampliar nossas alternativas.
Quando nos permitimos refletir acerca de nós mesmos damos lugar a uma chance de proporcionarmo-nos a amplitude de nosso rol de oportunidades. Pois, ao mudarmos o modo como divisamos determinadas situações, somos capazes de vislumbrar desfechos diferentes para elas. E, assim, possibilitarmos suscitar “o lado bom da vida”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

01 março 2013

VIVER E MORRER


Clarissa Pinkola Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos”, destaca ser a nossa grande tarefa aprender a compreender o que deve viver e o que deve morrer em nosso processo de existir. Isto é, nos permitirmos habilitar a nós mesmos a distinguir aquilo que deve “continuar” a fazer parte de nós e o que deve ter “nossa” permissão para terminar, ou seja, morrer.
Muitas vezes nos sentimos inseguros diante de situações as quais solicitem algum tipo de “despedida”. A conclusão de alguma atividade, o fim de um compromisso seja ele de qualquer ordem, uma mudança na aparência, entre muitos outros exemplos. Porém, o importante é nos permitirmos uma abertura ao mundo e ao que ele nos apresenta, de modo a assentirmos o exercício da “separação”. Ou seja, estarmos aptos a identificar, com o máximo de clareza, a necessidade de mudança.
Contudo, é frequente o conforto trazido a nós por causa da rotina, (e a filosofia de Heidegger confirma essa afirmação). No entanto, quando percebemos alguma ameaça a essa rotina é comum buscarmos formas de protelarmos a solicitação de movimento que a mudança nos convoca.
Viver e morrer faz parte do movimento de nossa existência. É preciso possibilitar o fim de algo, mas, para isso acontecer, é essencial nos tornarmos capazes de perceber as razões que nos conduzem a determinada situação. Assim, proporcionamos chances do novo se apresentar. Sendo que esse novo pode consistir apenas em uma simples conclusão em relação a uma experiência vivida.
É comum sonharmos com o esquecimento das situações mais desagradáveis de nossa história. Desejamos, com frequência, o desaparecimento de nossa lembrança das passagens constrangedoras vivenciadas. Contudo, se considerarmos sermos o resultado de nossas experiências, o desaparecimento de qualquer uma delas representa grande alteração em nosso modo de ser atual. Se fossemos capazes de “apagar” eventos vividos, não poderíamos nos esquecer que também mudaríamos o resultado culminante em quem somos atualmente com todas as nossas habilidades , competências e limitações.
Óbvio é não ser necessário vivenciarmos todo tipo de situação para termos o conhecimento delas. No entanto, conceder a nós mesmos a alternativa de valorizarmos o vivido nos possibilita a oportunidade de estabelecermos uma relação de paz com nosso passado e suas histórias. Desenvolvendo, igualmente, a capacidade de admitirmos o movimento de morte e vida que constitui nosso processo existencial.
Portanto, permitimos em um número maior de vezes nossa chance de acatar as mudanças quando elas se apresentam como possibilidades. Desse modo, ainda poderemos experimentar os receios envolvidos na perda de algo. Entretanto, permitiremos o movimento necessário o qual permite sentirmos o fluir de nosso existir de modo harmônico e favorável ao progresso do nosso ser.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124