27 abril 2012

RISCO

Por que desejamos algo? O que nos leva a querer possuir alguma coisa ou, em um extremo, “alguém”? Nossos sentimentos em relação aos nossos desejos nem sempre são avaliados por nós. E, isso pode desencadear diversos fatores aos quais não costumamos voltar nossa atenção. Contudo, muitos acontecimentos podem desencadear uma reflexão que nos conduza a uma compreensão um pouco mais profunda de nossos sentimentos relacionados ao nosso querer. Nossas dores necessitam de cura e alguém precisa responsabilizar-se por elas. Seja esse alguém um amigo, um parente ou um especialista. O importante é, ao experimentarmos algum tipo de dor, há necessidade de alguém mobilizar-se para que ela seja sanada. Sem importar se esse alguém não for nós mesmos. Alguém contou um fato o qual um palestrante dizia ter sido procurado por uma mãe que pedia ajuda dele a seu filho. Ele ia participar de uma prova para determinado concurso e, como o palestrante era conhecido por seu positivismo, ela lhe solicitava focalizar tal pensamento em seu filho para ele ser bem sucedido no teste. O palestrante prontificou-se a executar tal tarefa. No entanto, informou à mãe que o filho necessitava estudar o tema referente à prova, pois de nada valeria todo o seu positivismo se ele não soubesse do que se tratavam as questões que teria de responder. Em meio a diversas turbulências do dia-a-dia não é difícil encontrarmos várias explicações e justificativas para nossos fracassos em alcançar o que desejamos. Mas, uma reflexão acerca de nosso envolvimento com nossos planos, pode dimensionar o quão profundamente colocamos em prática todos os recursos disponíveis para a empreitada almejada. O exercício de nos colocarmos como parte do processo, seja ele bem ou mal sucedido, permite buscarmos possibilidades de correções dos erros cometidos. Assim ainda poderemos experimentar a satisfação plena quando alcançado o sucesso. Lamentamos a falta de momentos de plenitude em nossa existência. Entretanto, cabe a nós refletir o quanto permitimos o risco de nos envolvermos em algo que possa causar alguma satisfação, quando há em igual proporção a possibilidade de experimentarmos algum tipo de dor ou frustração. Se nos envolvemos superficialmente com nossas empreitadas não poderemos esperar uma satisfação plena quando obtermos o sucesso. O risco envolve a possibilidade da dor, no entanto também envolve a possibilidade da satisfação de um modo pleno. Então cabe a nós escolhermos se nos arriscaremos ou não e, desse modo, possibilitar a nós a oportunidade.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

20 abril 2012

DETALHES

As urgências diárias, sejam elas de médio ou longo prazo, nos levam a focar em um objetivo, e assim não nos atentamos para o processo envolvido na busca dele. Ou seja, enxergamos a “partida e a chegada, mas não observamos a paisagem durante o trajeto”. Em uma palestra a psicóloga Yolanda Cintrão Forghieri contava sobre o fato de um dia um professor seu chamar-lhe a atenção para a necessidade em se observar pequenos detalhes; como o balançar de folhas de uma árvore, ou a satisfação em sanar a sede ao degustar um “saboroso” copo de água. Segundo ele, ao desviarmos nossa atenção dos detalhes existentes ao nosso redor, deixamos de apreciar pequenos detalhes os quais poderiam nos surpreender por sua beleza ou, quiçá, pelo prazer que nos proporcionasse. Atualmente, com as solicitações comerciais para o prazer imediato associado ao possuir, é comum não percebermos como chegamos a determinado “ponto”. Experimenta-se ansiedades das mais variadas, permeadas de síndromes com nomes cada dia mais sofisticados e surpreendentes. Busca-se fórmulas mágicas para tudo, desde a cura de uma doença ao desenvolvimento de um corpo perfeito. O tempo urge e precisamos correr para alcançarmos sabe-se lá o que. O importante é chegar. Porém, se voltarmos nossa atenção ao professor da psicóloga Yolanda e refletirmos um pouco acerca de seu comentário, poderemos aventar a possibilidade de talvez estarmos deixando passar algo desapercebido. E, desse modo, perdendo a oportunidade de apreciar algum detalhe que poderia nos proporcionar alguma satisfação. As oportunidades de exageros atuais nos conclamam a nos envolvermos em decisões rápidas, as quais nem sempre representam o que realmente queremos. Contudo, sem atentar para os detalhes do processo, podemos não ser capazes de percebermos o que houve. Então, se nos propusermos a buscar formas de observar a paisagem durante qualquer trajeto, podemos incorrer em um grande risco de nos surpreendermos com sua beleza. Assim, diante do prazer e satisfação, acabaremos por nos “distrair”, chegaremos ao término da viagem sem nos darmos conta das dificuldades e desprazeres envolvidos nela.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

13 abril 2012

VORACIDADE

Não raro ocorre de nos sentirmos prejudicados ou experimentarmos a sensação de que o mundo nos negou algo. Nesse momento, se formos capazes de atentarmos para nosso proceder e darmos curso a uma pequena análise, incorreremos na possibilidade de localizarmos em nós mesmos uma das fontes de nosso mal estar. No entanto, nem sempre estamos aptos a essa conduta. Em nosso existir podemos experimentar situações nas quais nos permitimos acreditar terem sido, elas, astuciosamente planejadas para nos frustrar e nos conduzir, assim, a uma situação de revolta. Nesse caso, nos identificamos como alguém sofredor submetido a injustiças. Melanie Klein, psicanalista, em seu livro “Inveja e Gratidão” define voracidade como uma ânsia impetuosa e insaciável. Nela o indivíduo, voraz, excederia o necessário, desejando além do que quem oferta pode ou está propenso a disponibilizar para nós. Podemos, então, a partir dessa definição, entendermos sermos capazes de criar significado para o limite alheio como uma recusa em satisfazer nosso desejo, mesmo que ele seja permeado do excesso para aquele a quem direcionamos nossa “voracidade”. Então, podemos nos identificar como vítimas numa ocasião em que isso não represente uma realidade e, procedermos em um comportamento no qual ocorreu uma distorção da compreensão do limite do outro, como sendo uma lesão que nos proporciona algum prejuízo. Em algumas ocasiões pode ocorrer de amenizarmos nossos feitos reprimíveis e abrandarmos nossos comportamentos desagradáveis bem como ampliarmos nossa posição de sofredores. Porém, ao fazer uma reflexão, é possível o contato com os fatos ocorridos de modo mais claro. Assim, torna-se possível avaliar o todo de um modo límpido, para suceder a apropriação de informações mais plausíveis concernentes ao ocorrido. Ao nos permitirmos tal comportamento, damos lugar ao exercício pleno de nossa liberdade, como difundida pelos filósofos Martin Heidegger e Jean Paul-Sartre, a qual nos permite ampliarmos nossas possibilidades e escolhermos dentre elas a que julgamos mais satisfatória aos nossos propósitos. No entanto, nem sempre estamos dispostos a investir em nosso desenvolvimento pessoal e podemos optar por permanecermos vorazes. Mas, é importante a consciência da total liberdade de escolha que possuímos e da condenação vinculada a ela: suas consequências, as quais somos impelidos sempre que optamos por algo. Por isso, é importante nos conscientizarmos de nosso envolvimento e o do outro quando de circunstâncias que nos contrariam, para sermos capazes da busca de lucidez que permita a reflexão e compreensão do todo de uma situação.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

06 abril 2012

GARANTIAS

No dicionário Aurélio uma das definições para a palavra dor é “uma sensação desagradável ou um sofrimento moral”. Isto é, podemos experimentar uma dor com uma localização física em alguma região de nosso corpo e causadora de alguma sensação desagradável. Ou uma dor a qual não é possível definir um local preciso e nesse caso podemos chamá-la de psíquica ou emocional. O importante é que ela ocasiona diversas sensações além do sofrimento moral. Pois, a nossa história pessoal influencia nosso modo de ver e agir quando diante de uma situação dolorosa. Nesse caso, é preciso alguns cuidados para tentar minimizar suas sequelas. Podemos nos afastar de situações das quais sabemos de antemão que poderão nos causar sofrimento e evitaremos o contato com elas. Assim, poderemos “garantir” não reviver uma história já familiar para nós. No entanto, tal comportamento também pode cercear ocasiões de prazer. Pois, ao nos privarmos do que pode nos fazer sofrer, também deixamos de arriscar experimentarmos satisfações possíveis de sobrepujar o sofrimento. Muitas vezes é impossível eliminar definitivamente a causa da nossa dor por não estar em nosso poder tal possibilidade. Resta-nos, então, buscar formas de lidar com as consequências de modo a nos recuperarmos o mais rápido possível, para nos tornarmos aptos a usufruir de nossa liberdade. Isto é, nossa capacidade de ampliar nossas possibilidades, como destaca o filósofo Heidegger. Sendo assim, se não possuímos o poder de garantir a ausência da dor, podemos, ao menos, buscar formas de nos prepararmos para lidar com ela do modo mais eficiente e profícuo possível. O nosso repertório de histórias vividas pode representar aquilo que nos amedronta ou nos fortalece. Jean Paul-Sartre acentua sermos totalmente livres para escolher, apenas somos “condenados” a lidar com as consequências dessas escolhas. Desse modo, cabe a nós escolhermos qual das opções privilegiar: o medo ou a força. Ao optarmos pelo medo poderemos nos “proteger”, contudo, sem garantias. Mas, se nossa opção for pelo fortalecimento poderemos encontrar inúmeras possibilidades. E, assim, ampliarmos nosso rol de possibilidades. Porém, para isso ocorrer é preciso nos colocarmos a disposição de nos movimentarmos em prol de nós mesmos. Ou seja, permitirmos um olhar cuidadoso e cauteloso para conosco. Contando, ou não, com auxílio externo à nossa capacidade. Contudo, sem garantias da totalidade da ausência ou da presença da dor, mas nos permitindo a tentativa.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br