27 junho 2014

FRAGILIDADE

Em muitas ocasiões assumir sermos frágeis pode assemelhar-se a incapacidade. Numa sociedade onde a competitividade e a perfeição “atuam” como meta principal e necessária, assumirmos alguma fragilidade pode ser extremamente ameaçador.
No entanto, nossa própria condição de seres vivos nos coloca em uma condição de fragilidade natural. Isto é, somos finitos e a constatação desse fato nos proporciona ansiedades e sentimentos variados e, que muitas vezes, podem ser contraditórios.
Ao vivermos em grupo estamos, todo o tempo, sob a possibilidade de sermos “tocados” por algo. Seja aquilo que desejamos e transforma nosso existir mais sereno, ou algo o qual podemos compreender como destrutivo e do qual buscamos fugir.
De qualquer modo, nossa condição de fragilidade constitui um fato do qual não podemos nos eximir. Sendo assim, nos cabe a busca em compreender esse modo de existir o qual nos proporciona inúmeras possibilidades, mas que também pode ser interpretada como um aprisionamento.
Heidegger, filósofo, destaca ser nociva a atitude em nos atentarmos a um determinado ponto o qual não constitua o momento atual. Pois, segundo ele, agindo dessa maneira nos deslocamos do ponto no qual temos plena possibilidade de ação.
Então, precisamos nos manter atentos ao fato de sermos falíveis. E que nossa condição se ser num mundo está permeada de regras necessárias à convivência pacífica e de estereótipos que podem agir como algozes para nossas possibilidades. Sendo assim, há a necessidade de cuidarmos de nosso existir, de modo a nos permitirmos oportunidades que nos proporcionem alento diante dos desagrados que podem surgir.
Por isso, o fato de sermos naturalmente frágeis deve assumir uma importância na qual sua função seja a de nos impulsionar ao desenvolvimento e não à estagnação. Pois, de acordo com o significado que oferecemos a essa nossa condição, estará diretamente relacionado nosso envolvimento no processo de busca  de nosso desenvolvimento pessoal.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com

20 junho 2014

RELACIONAMENTOS

Em nossos relacionarmos nem sempre percebemos as trocas as quais ocorrem a todo o momento em que o contato se dá. Isto é, ao estabelecermos algum tipo de relação, seja com quem for, estamos, ao mesmo tempo, estabelecendo uma maneira pela qual o encontro acontece.
Em alguns momentos, parece inevitável concluirmos que algum contato nosso não corresponde às nossas expectativas, devido algum movimento inadequado de outrem. Ou seja, acreditamos estar sob a responsabilidade do outro, com o qual nos relacionamos, a “culpa” pelo fato de algo não estar a contento.
Em qualquer ligação que estabelecemos, seja afetiva, amigável ou profissional, assume vital importância para a “saúde” desta, a necessidade de compreendermos nosso envolvimento no processo de desenvolvimento da qualidade dessa relação.
Zygmunt Bauman, sociólogo, em seus textos atrai a atenção para o fato de vivermos um momento social ímpar, no qual o individualismo assume um grau de presença tal, que nossa preocupação com o outro somente se manifesta quando da iminência de sermos “tocados” pelas consequências advindas da ocasião.
Assim, nos isentamos da responsabilidade pelo caráter que nossas relações possuem. Pois, ao nos envolvermos apenas quando “algo” produz um efeito diretamente relacionado a nós, não nos propomos a avaliar quem somos e como somos nos contatos por nós estabelecidos.
Então, pode ser necessário oferecermos um cuidado mais específico, no que tange a maneira pela qual compreendemos o modo como nos relacionarmos. Para, desse modo, nos habilitarmos a estabelecer contatos mais eficientes no que concerne a qualidade deles, no sentido de satisfazer, de modo pleno, nossa necessidade de proximidade para com o outro.
Pode ocorrer de não nos darmos conta dessa nossa exigência, mas é preciso nos conscientizarmos dela, para a configuração de uma existência na qual nossas necessidades sejam satisfeitas, de modo a nos permitir um desenvolvimento pessoal e emocional satisfatório para nós mesmos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


13 junho 2014

MORRER X VIVER

Nos amedrontamos diante da possibilidade de falência de nosso corpo. Mas será esse o único modo pelo qual morremos? O que ocorre no processo de nosso existir que podemos experimentar a sensação de algo ter chegado ao seu fim?
Segundo o filósofo Heidegger experimentamos a angústia devido à certeza de nossa finitude. Por isso, nos apegamos a rotinas e planos diversos na ânsia de amenizarmos, ou mesmo nos afastarmos “definitivamente”, da possibilidade de morrermos. Porém, nos esquecemos, neste ínterim, de que podemos sentir a morte mesmo em pleno vigor de nossa saúde física.
Deixar de sonhar, por exemplo, pode constituir um tipo de “morte”. Isto é, se nos permitirmos apenas viver a rotina diária, aquela mesma que nos auxilia a esquecer nossa finitude, nos apegamos a algo que pode nos impossibilitar a vivência de uma existência plena.
Diante disso, podemos nos colocar em condição de sentir frustrações diversas e, em muitas ocasiões, totalmente veladas de nosso conhecimento. De tal modo, que nem mesmo percebemos o quanto abdicamos de nossa vida, por algum motivo que, em muitos casos, nem notamos.
Talvez seja importante oferecermos a nós mesmos oportunidades de um olhar mais acurado para o que realmente desejamos e, desse modo, permitirmos que nosso olhar possa reassumir uma direção na qual experimentamos a sensação de existirmos e não apenas vivermos.
Nem sempre somos capazes de detectarmos, em um primeiro momento, o que nos aflige. Contudo, ao nos permitirmos o cuidado conosco, ampliamos a possibilidade de encontrarmos uma maneira de amenizarmos angústias, as quais podemos não saber a maneira como fazê-lo.
Sendo assim, atentos à nossa existência, nos colocamos em uma posição que pode nos conduzir a alguns dissabores, entretanto, também pode nos levar a experimentar satisfações imensuráveis.
Portanto, sempre podemos escolher nos afugentarmos, mas ao seguirmos na direção oposta aa essa, possibilitamos a oportunidade de experimentarmos sensações que podem se tornar, porventura, indescritíveis.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 junho 2014

MELHOR?!

Em algum momento podemos ser levados a rever atitudes, decisões ou escolhas das quais nem sempre nos sentimos seguros que tenham ocorrido da melhor forma possível. Nessa ocasião corremos o risco de experimentar sensações relativas ao descontentamento, ou mesmo à dúvida. Então, uma questão pode emergir: Nossa escolha foi a melhor?
Não é incomum desacreditarmos em nós e considerarmos que poderíamos agir de modo diferente diante de situações as quais já se realizaram, isto é, que pertencem ao nosso passado. Heidegger, filósofo, afirma estar na perda do foco no momento presente a possibilidade de adoecimento. Ou seja, quando nos fixamos em um fato ocorrido, ou que está por vir, nos colocamos em uma posição que não nos permite uma atitude a contento. Desse modo, a doença de qualquer sorte pode se instalar.
Ocorre, muitas vezes, uma sensação de desconforto quando atentamos para o que já realizamos, ou seja, para o caminho que percorremos. Em diversas ocasiões podemos nos sentir devedores de nós mesmos. Como se não tivéssemos usufruído das oportunidades da melhor maneira disponível. Nesse momento, o mais importante a considerar é que ao menos a possibilidade de continuar permanece acessível.
Assim, pode-se ir a direções as quais não constituem as mesmas do passado. Ou ainda, oferecer um olhar diferente do disponibilizado na ocasião e, com isso, proporcionar significações diferentes das anteriores. Ao procedermos dessa maneira, assumimos a posição de protagonistas de nossa história e, com disso caberá a nós abarcar elementos novos a ela.
Então, ao olharmos para nossa história passada, ou para a que está por vir, poderemos nos amedrontar diante do que pode ocorrer, ou nos entristecermos com o que já se foi. Porém, se nos permitirmos compreender que nos desenvolvemos o tempo todo, poderemos assumir uma posição na qual oferecemos o nosso melhor a cada nova oportunidade disponível. E, portanto, concedermos a nós mesmos a ocasião de continuar.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124