28 fevereiro 2014

LÁGRIMAS

Um hábito comum consiste em lamentarmos perdas diversas. No momento em que vivenciamos a experiência de algo não estar mais ao nosso alcance, também podemos experimentar a sensação de grande tristeza e, em muitas ocasiões, não vislumbrar uma possibilidade que concilie nossa carência com a possível restauração de nosso bem estar geral.
Quando entristecidos por qualquer motivo, somos levados a utilizar um olhar o qual obscurece nossa capacidade de análise mais acurada dos fatos e das alternativas disponíveis. Desse modo, encontrar possibilidades as quais nos permitam reverter o sentimento de tristeza, e convertê-lo em disposição para mudar a condição do momento presente, pode representar um investimento de grande energia.
Contudo, é compreensível necessitarmos nos permitir vivenciar nossas dores e lamentações. Inclusive para que seja possível, para nós mesmos, a compreensão da dor e, assim, a emergência da oportunidade de nos movimentarmos em prol de uma transformação.
É sempre uma possibilidade nos envolvermos com nossa tristeza de modo a experimentarmos o desejo em desfalecer e não colocarmos em prática nenhuma atitude. Porém, agindo assim, podemos também nos colocar em uma posição desfavorável para nosso próprio bem estar.
Então, ao experimentarmos alguma perda, seja de algo, alguém ou mesmo um sonho, é necessário nos permitirmos as lágrimas. Contudo, também é importante nos possibilitarmos vislumbrar com um olhar diferenciado a experiência vivida. Para, assim, nos permitirmos a oportunidade de entrever alternativas diferentes e, desse modo, colocarmos em prática nossa liberdade. Pois, como destaca o filósofo Martin Heidegger, ao ampliarmos nosso rol de possibilidades, exercitamos nossa liberdade em sua essência.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124




21 fevereiro 2014

FELICIDADE

O sociólogo Zigmunt Bauman afirma que a felicidade reside na superação e na conquista de desafios e não na ausência ou na fuga. Desse modo, sempre que deixamos de concluir algo com o qual nos comprometemos, corremos o risco de nos distanciarmos da sensação de felicidade e, provavelmente, experimentarmos a frustração.
Atualmente há diversas maneiras de nos envolvermos com algo sem, porém, nos comprometermos. Contudo, percebe-se um aumento progressivo do número de indivíduos os quais experimentam o desejo do recomeço. Ou seja, abandonar todas as decisões anteriores e recomeçar novamente com novas alternativas.
Porém, isso não constitui uma tarefa fácil. Em muitas ocasiões é preciso, simplesmente, concluir aquilo que se iniciou para, então, dar seguimento em outra empreitada. Entretanto, o momento social atual nos convida ao descartável e à velocidade. Muitas opções se fazem atraentes e assumem um status de “a melhor alternativa”. Assim, torna-se difícil a manutenção de uma decisão a qual vise a continuidade de algo que não parece representar o que desejamos.
Contudo, se retornarmos a afirmação do sociólogo Zigmunt Bauman, há a necessidade de analisarmos qual atitude estamos assumindo: superação e conquista, ou fuga? Comumente, ao estarmos envolvidos com algo o qual nos frustra de algum modo, abandonar imediatamente parece, muitas vezes, ser a escolha mais atraente.
Mas, se considerarmos que a sensação de felicidade pode residir em nossa persistência, talvez buscar formas de avaliar mais acuradamente as possibilidades que permeiam o momento o qual vivenciamos, pode representar a diferenciação entre superação ou fuga.
Assim, ao nos permitirmos um momento mais cuidadoso relacionado às  nossas escolhas, podemos nos permitir a proximidade com sensações de satisfação em oposição às decepções. E, desse modo, nos aproximarmos da superação e conquista e nos distanciar da ausência e da fuga.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


14 fevereiro 2014

REPETIÇÕES

Muitos de nossos comportamentos parecem se repetir. Isto é, em muitas ocasiões somos levados a admitir termos um jeito de ser que permeia a maioria de nossas decisões. No entanto, isso torna-se desconfortável quando entendemos que tais decisões nem sempre nos beneficiam como gostaríamos. Nesse momento o questionamento a respeito do que fazer para mudar torna-se iminente.
O filósofo Heidegger afirma encontrarmos na rotina a segurança do porvir. Segundo ele, a certeza de nossa finitude nos abala a tal ponto que o compromisso do dia seguinte torna-se suficiente para “garantir” nossa sobrevivência. Da mesma maneira a possibilidade de adiarmos decisões ou justificarmos incapacidades as quais experimentamos, relacionadas às nossas limitações. Todavia, ao nos confortarmos com tal atitude incorremos na possibilidade de não percebermos que a mudança pode nos beneficiar.
Porém, ao assumir tal pensamento como adequado, assumimos também uma alternativa que pode nos abalar: a mudança de um modo de agir. Isto é, assumirmos um olhar de compreensão e entendimento para quem somos e como somos, buscando mudanças. Ou seja, nos habilitarmos e evitar as repetições de comportamento que não nos aprazem. Entretanto, tal modo de agir certamente irá nos conduz a uma zona de desconforto.
Sendo assim, nos cabe a escolha em suportarmos a incerteza do porvir. E, assim, possibilitarmos a chance de mudança das repetições as quais fazem parte de nosso modo de ser. Mas que não representa quem somos, constitui apenas uma forma a qual nos habituamos, para que a sobrevivência se tornasse possível.
Heidegger destaca em sua filosofia que nossa liberdade repousa na amplitude de alternativas, sendo assim, ao mudarmos nossos comportamentos repetidos, pode ocorrer de colocarmos em ação o ápice de nossa liberdade.
O que nos cabe é procurar formas para que isso se torne uma constância. Lembrando que nosso limite é pessoal e, sendo assim, as formas variam. Contudo o resultado pode ser muito semelhante: a satisfação em cuidarmos de nosso viver de modo a nos desenvolvermos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


07 fevereiro 2014

MOTIVAÇÃO

Um conjunto de fatores psicológicos (conscientes ou inconscientes) de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais agem entre si e determinam a conduta de um indivíduo. Ou seja, diversas ordens “conduzindo” a forma como vamos nos empenhar em determinada atividade.
Um movimento coletivo atual insinua que devemos “encontrar” nossa motivação a qualquer custo. Isto é, se nos depararmos com algum empecilho que dificulte nossa conduta disposta, animada, engajada e sempre pronta a dispor de todas as alternativas para alcançar algum objetivo; o ideal é nos livrarmos de tal impedimento o mais rápido possível.
No entanto, como nos livrarmos desse obstáculo quando ele não consiste em algo totalmente visível para nós? Nesse momento pode-se experimentar como um fracassar de nosso empenho nessa empreitada, a qual exige algo que entendemos não estar ao nosso alcance naquele momento.
Quando dessa ocorrência estamos sujeitos a vivenciar o oposto do que desejamos, ou seja, desmotivação.  Ausência de vontade para agir, decidir ou mesmo desfrutar de algo. Essa falta de interesse pode assumir diversas características mais ou menos drásticas. Podendo, inclusive, emergir como algum tipo de desordem, seja ela física ou psíquica. Nesse momento é importante atentarmos para alguns pontos como, por exemplo, qual o significado daquilo ao qual não nos desperta tanto desejo.
É comum a dificuldade em compreender as razões para a experiência da “não motivação”.  Nem sempre se tem o discernimento para permitir auxílio na busca do entendimento delas. Porém, é de suma importância perceber que em alguns momentos não é possível encontrar alternativas diferentes daquelas vislumbradas por nós, sem disponibilizar, ao menos, a possibilidade de outro olhar.
E essa outra perspectiva nem sempre é possível a partir do mesmo ponto de referência. Então, é necessário mudar o ângulo de visão e isso, em muitas ocasiões, só é possível quando outro alguém olha conosco para a mesma direção. Dessa forma há a ocasião favorável para uma nova interpretação.
Sendo assim, encontrar a motivação para aquilo que desejamos, mas não encontramos forças para tal, pode esbarrar na necessidade de dividirmos nosso ponto de vista para, assim, entrevermos outras formas de significarmos aquilo que queremos. Para, então, “encontrarmos” a motivação que nos  permite vivenciar o prazer.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124