31 outubro 2014

APRENDENDO

Ao longo de nossa existência vivenciamos diversas situações, agradáveis ou não. Porém, nem sempre dedicamos maior disponibilidade de nosso tempo observando-as de modo a aprender com elas. Por exemplo, a cada momento do dia nos relacionamos com alguém e isso nos proporciona a oportunidade de, ao menos, aprender como lidar com essa pessoa. Mas muitas vezes preferimos apenas nos lamentar por situações que nos contrariam e não destinarmos mais tempo e atenção ao ocorrido, impossibilitando a oportunidade do aprendizado.
Alguém um dia lamentava-se de uma situação com um grupo de amigos que o fez sentir-se muito contrariado. Dizia que os amigos não o entendiam e que agiam sempre do mesmo modo com ele em situações semelhantes. Ou seja, as situações se repetiam com as mesmas pessoas e esse alguém não foi capaz de, em momento algum, ter a iniciativa de tentar outro tipo de comportamento para experimentar outro tipo de resultado. Muitas vezes não atentamos para o fato de a mudança poder acontecer a partir de nós mesmos, de um comportamento nosso, diferente do habitual.
Esperar um resultado diferente em uma situação repetida com um mesmo comportamento parece, no mínimo, insano. As experiências estão o tempo todo nos oferecendo oportunidades de aprendizado, entretanto precisamos vê-las para que a aquisição desse conhecimento aconteça. Contudo, o olhar precisa ser atento e reflexivo, algo que nem sempre estamos dispostos a praticar.
Podemos afirmar que a rotina acelerada do dia-a-dia não nos permite investirmos em a tal reflexão. Porém, de um modo parecido, quase todas as pessoas se lamentam das mesmas coisas: alguém que não o entendeu, um acontecimento que o constrangeu, um acolhimento que não teve e por aí podemos fazer uma imensa lista. Mas a questão é: se nós não encontrarmos tempo para reflexões que permitam um aprendizado a respeito de nós mesmos, como poderemos nos desenvolver e almejar crescimento e sucesso em qualquer âmbito de nossa vida seja ele familiar, profissional ou acadêmico?  

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga - CRP 06/95124

24 outubro 2014

POSSIBILIDADE

Presenciamos na atualidade um aumento relacionado a distúrbios de ordem emocional, tais como ansiedade, pânico, estresse entre outros. O que tem acontecido para o surgimento de tantas desordens emocionais? Se sentimos uma dor em nosso corpo e o responsável médico não consegue detectar a causa recebemos a resposta – provavelmente seu mal constitui algo relacionado ao seu estado emocional, ou você deve estar vivendo um momento de estresse, precisa diminuir o estresse em sua vida. Fácil não?! É só diminuir o estresse e pronto!
A sociedade competitiva em que vivemos exige de cada um de nós o melhor, mas em muitas ocasiões isso não é o bastante, pois deve-se ter um diferencial para atuar no mercado de trabalho e na vida de maneira autossuficiente. Com isso, pode não haver oportunidade para valorizarmos o equilíbrio emocional, considerando-o um quesito de menor importância em todo esse processo.
Sendo assim, a busca por alternativas que auxiliem na conquista de tal equilíbrio, nem sempre possui um lugar de atenção em nosso dia-a-dia. Entretanto, muitos estudos têm comprovado que ser possuidor de tal equilíbrio disponibiliza maiores chances em se obter um desempenho melhor em todos os âmbitos da vida, seja ele profissional, familiar ou acadêmico.
Somos, a todo momento, convidados a desenvolvermos diversas “perfeições”. Não basta sermos bom no que fazemos, precisamos ser os melhores. O mundo oferece oportunidades a quem se destaca, porém não há como obtermos a garantia de que temos contato com o melhor. No entanto, ainda assim buscamos incansavelmente este melhor e com certeza somos cobrados a oferecer o melhor de nós também, ou seja, cobramos e somos cobrados.
A partir de nosso nascimento somos arremessados em um mundo “exigente e cruel”. Contudo, será esse mundo tão cruel e tão exigente como às vezes podemos percebê-lo? Estudos afirmam que nosso olhar é repleto de filtros que desenvolvemos ao longo de nossa existência através das experiências que vivemos. Esse filtro denota não haver um olhar neutro e objetivo. Nossas emoções e vivências estão sempre permeando a interpretação daquilo que vemos. A cor azul ou rosa que enxergamos não tem a mesma tonalidade de cor azul ou rosa vista pelo nosso vizinho, nosso amigo, nosso filho, nosso companheiro, etc.
Ou seja, as experiências que vivemos ao longo de nosso desenvolvimento, sejam elas agradáveis ou não, permeiam todos os momentos de nossa vida. Em cada contato visual que estabelecemos está presente o acúmulo do que vivemos, resultando em uma lente que permeia a forma como interpretamos a realidade na qual estamos inseridos e que se apresenta a nós em determinado momento.
Entretanto, somos escravos dessa lente? Até que ponto podemos mudar a imagem que essa lente nos mostra? O filósofo Jean-Paul Sartre afirma que nós somos condenados à liberdade, isto é, somos livres para escolher, porém, condenados às consequências dessas escolhas.
Sendo assim, podemos escolher mudar nosso olhar ou a lente que o cobre, mas é sensato ter a consciência que isso não consiste em uma tarefa fácil, mas possível. E o importante é a lembrança do – possível.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail:  marciabcavalieri@hotmail.com

17 outubro 2014

MORTE

Sempre ao ouvir-se a palavra morte, experimentamos algumas sensações. Afinal é difícil ser indiferente a ela. Podemos sentir medo, tristeza, desespero, satisfação ou alívio. Mas que tipo de morte é essa? O que é a morte? Morre-se somente quando uma vida finda ou há outros tipos de morte a se pensar?
Ao concluirmos algo o qual havíamos nos comprometido. E compararmos esse concluir com a morte, poderemos amenizar os efeitos que tal palavra tem sobre nós. E mais, teremos a oportunidade de dar início a um olhar diferente para tudo o que iniciamos e terminamos. Será permitido compreendermos de um modo diferente os diversos ciclos nos quais nos envolvemos.
No processo de se lidar com a perda de algo querido experimentamos muitos sentimentos. Porém, se exercitarmos a compreensão dessa perda como parte de um ciclo do qual estamos imersos, poderemos ser capazes de avaliar mais claramente o que está realmente ocorrendo.
Temos fases bem definidas em nosso processo de crescimento: infância, puberdade, juventude, vida adulta e velhice. Ao início de cada nova fase a antiga precisa ser “enterrada”. A criança precisa deixar de existir de maneira plena para o adolescente tomar forma. O adolescente precisa ocultar-se para o jovem assumir seu papel e fazer suas escolhas. O jovem tem necessidade de abandonar o palco para o adulto assumir suas responsabilidades e organizar sua vida de modo a ser capaz de desfrutar suas conquistas.
Da mesma forma nosso crescimento tem fases. Se procurarmos fazer uma analogia encontraremos em tudo o que fazemos o mesmo processo. Ao engendrarmos uma nova empreitada temos o momento de quando iniciamos contato com informações novas. Depois amadurecemos tais informações para então elas tomarem forma e poderem assumir seu papel pleno diante daquilo que decidimos. Entretanto, ao deliberar por algo sempre deixamos para traz outra opção que então “morre”. Pois ao fazermos uma escolha algo precisou ser renunciado.
Temos contato com a morte em diversos momentos em nosso dia-a-dia. Precisamos, então, exercitar maneiras mais amenas para nesse processo, quando os sentimentos se apresentarem, serem aceitos. E, desse modo, poderem ser compreendidos e utilizados em prol de nossa aprendizagem para lidar com temas, a princípio, causadores de algum desconforto.
Ao buscar tal exercício nos muniremos de um verdadeiro arsenal para nos envolvermos com as mais diversas situações e nos sentirmos aptos a enfrentar os mais variados tipos de desafios.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

13 outubro 2014

MEL

Dor, saudade, amor... muitas pessoas se perguntam como é possível alguém desenvolver um sentimento tão grande em relação a um pequeno “animal” com o qual se convive alguns “poucos” anos.
Há onze anos trouxemos essa pequena bolinha de pelos branca, tão meiga que não caberia outro nome que não fosse doce como ela – Mel. Ela chegou assustada, insegura e totalmente sem saber onde estava. Se saíssemos de perto dela muito depressa ela ficava parada, pois não sabia onde tínhamos ido. Ela não conhecia sua nova casa ainda.
Fomos orientados a sermos firmes com ela para que aprendesse as “regras” da casa, dentre elas a de dormir sozinha em seu espaço.  Obviamente nosso docinho de mel chorou a noite toda até que cedemos e permitimos que ela dormisse no quarto da mamãe e do papai. As outras regras aprendeu como ninguém.  Sempre respeitou nosso espaço, desde que ela estivesse junto, de preferência no colo e recebendo seu carinho. Seu corpinho quente era mais que aconchegante, era a pura sensação do amor incorruptível.
Um dia começou a ficar doentinha, ainda novinha iniciou suas convulsões.  Após alguns anos e poucos médicos interessados verdadeiramente em seu bem estar de vida, encontramos a Dra. Bianca que mais que tudo preocupava-se com a sua vida e não somente com sua doença. Junto com o nosso grande amigo Dr. Celso Carvalho, minimizamos os efeitos do fenobarbital (gardenal) com a homeopatia e ela vivia como um bebê de 11 anos.  Difícil fazer alguém acreditar em sua idade já que era sempre tão jovial.
No entanto, a maior característica da Mel era sua capacidade de despertar o melhor de qualquer um que se aproximasse dela. Meiga, dengosa, carinhosa, gentil mesmo quando nos mordia, a não ser quando brincava com a Bia, afinal eram “iguais” em todos os sentidos.  Ao ponto de sentir-se livre para estar em seu quarto mesmo quando ela não estava lá, o que não acontecia nem com o quarto da Camila nem com o do papai e da mamãe.
Adorava brincar com a Camila, especialmente quando já era bem tarde da noite e ela estivesse cansada para jogar o “tigrão” para ela. Mas isso nunca a impediu de atender seu pedido e brincar com ela alegremente até que se cansasse e ficasse com o bichinho somente para ela como quem diz: ok Camila, já brinquei, agora pode me deixar em "paz”.
O papai diz que depois da Mel é comum tomar a atitude de conter o trânsito com seu carro na estrada para impedir que qualquer veículo machuque algum cachorrinho mais confuso no meio da rua. O amor por ela não permitiria que deixássemos um dos seus se ferir sem fazer algo para tentar impedir.
Enfim, por alguma razão o universo entendeu que seu tempo tinha sido o suficiente conosco. Claro que não concordamos, queríamos ela por perto mais uns... 100 anos. Porém, compreendemos, ou não, mas o importante é que jamais será esquecida. O amor que nos ensinou é indescritível.
Então, se alguém se pergunta como se pode amar um ser tanto assim, não sei explicar. Infelizmente ou felizmente a Mel somente nos ensinou a sentir. E pôde, desse modo, partir em sua posição preferida, no colo da mamãe e cheia de carinho e amor. Um dia nos reencontraremos Mel.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

10 outubro 2014

PROFISSÃO


Em toda sociedade o indivíduo é valorizado pelo sucesso profissional que obtém. Portanto, a escolha da profissão adequada torna-se um objetivo primoroso. E no nosso país isso é exigido do jovem em idade em torno de dezesseis anos.
Nesse período o jovem ainda encontra-se em transição física e emocional, buscando seu lugar na família e no círculo de amigos. Então, a escolha da profissão emerge como algo mais importante que qualquer outra questão que esse jovem possa ter.  E ele se depara diante de uma decisão que pode significar tudo do melhor para ele... Ou não.
Como ajudar um jovem nessas condições? O que se pode fazer para permitir que ele possa refletir sobre si próprio, isto é, sobre quem ele é e o que quer fazer? O teste vocacional é o auxílio mais procurado e com certeza tem seus méritos, mas será suficiente? Será que todos os jovens que fazem seu teste vocacional ficam totalmente satisfeitos com o resultado?
Quando uma decisão está para ser feita é importante uma reflexão que analise prós e contras e, principalmente, as conseqüências que a decisão pode trazer, como por exemplo, a mudança de cidade em que se vive e a distância do conforto do lar e do cuidado dos pais quando ainda se é tão jovem.
Somos totalmente livres para escolher, porém condenados às suas conseqüências, como afirma o filósofo francês Jean-Paul Sartre. Então, algumas perguntas são fundamentais para a reflexão sobre qual profissão exercer quando inserido na vida adulta e, com a mesma importância, onde preparar-se para o aprendizado da profissão escolhida.
Algo nem sempre levado em conta é o que se tem prazer em fazer. Não estamos acostumados a pensar nisso, afinal somos educados para produzir o máximo possível e ter sucesso, o prazer poucas vezes tem lugar de destaque quando pensamos em trabalho. Mas se uma atividade que poderá ocupar mais de um terço do tempo de nosso dia-a-dia não nos proporcionar prazer, seremos capazes de exercê-la de maneira satisfatória? E se conseguirmos, por quanto tempo isso será possível até nos cansarmos, experimentarmos frustrações ou ainda, adoecermos e nos tornarmos, desse modo, pessoas entristecidas sem compreender muito bem o por quê?
Talvez, o mais importante para um jovem que se encontre num momento de decisão tão delicada, seja ao menos contar com a compreensão de quem o cerca. Para permitir que ele tenha em mente que alguns caminhos são passíveis de mudança ou até mesmo de retorno. E que o mais importante ao se decidir por qual profissão optar é, acima de tudo, sentir-se satisfeito em exercê-la. Ou seja, que a atividade profissional possa proporcionar satisfação não somente no âmbito monetário, mas também, e principalmente, no âmbito pessoal. E um dos modos mais importantes para descobrir o que nos dá prazer é nos conhecermos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
Email: marciabcavalieri@hotmail.com

03 outubro 2014

O NOVO


O novo sempre nos assustou. Historicamente temos diversas referências, especialmente entre os filósofos como Giordano Bruno, Galileu Galilei e Sócrates. Seus discursos assustavam porque inovavam. Sugeriam pensamentos e comportamentos diferentes aos do costume da época.
Se procurarmos podemos encontrar muitos outros nomes, mas o importante neste momento é refletirmos sobre a angústia que acompanha o que representa algo novo em nossa existência. Sempre que alguma idéia nova surge temos um primeiro impulso de repudiá-la, pois nos convida a mudanças e essas ocasionam desconforto.
Ao atentarmos para o novo nos colocamos em uma situação de fragilidade porque o que é conhecido conforta, proporciona segurança e confiança. Então é comum presenciarmos situações de medo quando uma criança é levada pela primeira vez a uma escola onde, mesmo na companhia de outras crianças, sente-se desamparada e assustada. Além das questões emocionais envolvidas, que não é nosso objetivo no momento, a situação do novo sempre desequilibra de algum modo.
Alguém afirmou nos desequilibramos o tempo todo se intentamos nos movimentar. Ao trocar um passo experimentamos a perda do equilíbrio momentaneamente, para retomá-lo rapidamente e assim por diante se desejarmos um simples caminhar, apesar de termos a opção de permanecermos no mesmo lugar, estanques. Da mesma forma agimos em todos os sentidos. Para experimentar algo novo precisamos sair do equilíbrio no qual nos encontramos e então conhecermos o movimento que o novo convida.
Movimento, a princípio, indica algo o qual todos desejamos, mas nem sempre estamos dispostos a alcançá-lo. Se tomarmos como exemplo algo bem simples, como um exercício físico que protelamos ou deixamos para outra oportunidade, poderemos perceber o quanto damos preferência ao conforto no qual nos encontramos, em oposição ao movimento que afirmamos ser nosso propósito.
Porém, em alguns momentos de nossa existência precisamos tomar decisões que envolvem algo novo. E se nos prepararmos para lidar com o novo que se apresenta, teremos maiores chances de escolhas que nos ofereçam alternativas inesperadas para situações que podemos, inclusive, estar familiarizados, mas que sob outro ponto de vista torna-se surpreendente.
Angústia diante do novo é algo que permeia o nosso existir. No entanto, buscar maneiras de suavizar esse sentimento, de modo a sermos capazes de nos arriscarmos em situações que possam nos surpreender é uma decisão que pode auxiliar em nosso movimento em busca de novas conquistas.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
Email: marciabcavalieri@hotmail.com