24 junho 2016

AGIR OU ESPERAR?

Crescer é um processo doloroso. Independente se o crescimento é físico ou emocional, a dor sempre estará presente.


Rubem Alves, escritor, afirma ser importante, em alguns momentos, não “palpitarmos” sobre como um problema precisa ou pode ser resolvido. O essencial é nos mantermos por perto para recolher os “cacos” quando e se isso for possível. Entretanto, o “sangue-frio” necessário para tal atitude não compreende algo corriqueiro em nosso dia-a-dia.
Algumas pessoas costumam protelar seu envolvimento nos problemas que as cercam. Com essa atitude vivenciam a possibilidade de tudo resolver-se por si só. Certamente, poder-se-ia afirmar que esse comportamento esbarra na sugestão de Rubem Alves. Contudo, será possível generalizar e sempre agir desse modo?
Como discernir entre o momento no qual se deve observar e esperar e aquele no qual se deve intervir? Em uma mensagem nos meios de comunicação informatizados alguém sugere ser importante ter disposição diante das situações as quais podemos intervir, resignação frente àquelas as quais nada se pode fazer e, o mais importante, a capacidade de diferenciar uma da outra.
A sugestão de Rubem Alves não parece ser uma das atitudes mais singulares. Envolve, na realidade, um processo dependente do exercício de identificar em quais momentos deve-se agir e em quais deve-se apenas observar e aguardar sua solução.
Essa postura, entretanto, nos conduz; em mais ocasiões do que gostaríamos; a sentimentos de impotência ao observarmos a dor de alguém que nos é próximo. Muitas vezes essa dor é familiar por experiências vivenciadas de modo semelhante em nosso passado. Porém, é importante termos em mente que todos precisamos nos desenvolver. E para isso, na maioria das vezes, é necessário nos colocarmos a disposição e respeitando certa distância para que o crescimento do outro também ocorra.
Crescer é um processo doloroso. Independente se o crescimento é físico ou emocional, a dor sempre estará presente. E no nosso modo de amar buscamos de todas as formas amenizar essas dores. Entretanto, Rubem Alves, quem inspirou essa reflexão, deixa claro ser importante permitirmos o vivenciar da dor a quem queremos bem para possibilitar a eles uma experiência de maior valor.
Então, o exercício essencial e diário necessário para se habituar e amenizar o sentimento de impotência experimentado diversas vezes é: nos habilitarmos, cada vez mais, a compreender a dimensão da dor alheia e a importância que ela representa para o crescimento pessoal de todos os envolvidos no processo. Nos tornando, desse modo, como sugere Rubem Alves, aptos a recolher os cacos... se for possível.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


17 junho 2016

SEGURANÇA

Certamente, estarmos em paz com quem somos é algo importante e almejado. Mas a questão é: esse “estar em paz” representa uma satisfação ou apenas um conformismo.


Nos habituamos com quem somos. Então, a mudança, em qualquer nível, demandará, sempre, um grande investimento de nossa parte. Porque necessitamos estar dispostos a ela, ou ao menos, receptivos. E isso nem sempre representa algo simples.
Estabelecemos algumas normas de conduta para nós mesmos e não percebemos isso, pois tal processo ocorre de modo imperceptível. São os nossos modos de ser que, inclusive, nos protege dos sofrimentos e decepções. Mas, também são esses mecanismos de proteção que podem nos limitar ou, até mesmo, frear iniciativas que permitam nosso desenvolvimento mediante certos riscos.
Por isso, olhar para quem somos e decidir pela mudança de alguns pontos não compreende uma tarefa corriqueira. Exige mais, envolve uma análise de quem somos e do que gostaríamos de mudar. Nesse processo podemos nos decepcionar. Mesmo porque é comum nos sentirmos acostumados com quem somos e não desejarmos nenhum movimento que proporcione alguma alteração nesse status.
Certamente, estarmos em paz com quem somos é algo importante e almejado. Mas a questão é: esse “estar em paz” representa uma satisfação ou apenas um conformismo. Nos habituamos àquilo que nos deixa seguros e não permitimos nenhum risco para não abalarmos essa “tranquilidade” que pode ser ilusória.
Porém, em muitos momentos de nosso existir ocorrem situações que nos abalam e nos conduzem a algumas reflexões. Essas, porém, nem sempre são experimentadas como sendo algo a nos orientar ao desenvolvimento. Entretanto, se nos permitirmos vivenciar tais momentos de modo intenso, isto é, não nos tolhermos em fugas. Poderemos nos erguer com a possibilidade de novos horizontes.
Então, é importante estarmos “protegidos” para esses momentos não se tornarem destrutivos e nos levar a decisões ou atos os quais proporcionem sentimentos de arrependimento e dor. Desse modo, permitir a proximidade de quem pode significar a possibilidade de amparo é de salutar importância para que nosso crescimento seja pleno.
Assim, poderemos garantir um movimento que proporcione fases difíceis de serem vivenciadas. Mas, ao término desse o contentamento passível de se experimentar torna-se encantador. Pois, quando experimentamos tais momentos de modo efetivo, buscando todas as alternativas as quais nos permitam o crescimento, a sensação de completude é inevitável.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

10 junho 2016

BOAS COMPANHIAS!

O ser humano desenvolveu-se muito a partir das trocas realizadas entre eles. E essas para ocorrerem necessitam da convivência e do contato.


Um pensamento que ocorre mais do que imaginamos é o de viver acompanhado e, apesar disso, sentir-se só. É possível observar alguém cercado de pessoas o qual experimenta o sentimento da solidão. Aqueles que vivem cercados de pessoas e, entretanto não “convivem”. Normalmente ocorre de morarem em uma casa da qual saem e retornam em horários desencontrados com os outros moradores, não se estabelece, assim, nenhum diálogo mais aprofundado.
Não são poucas as pessoas capazes de percorrer uma semana inteira sem contato com os filhos ou irmãos residentes na mesma casa. Ou, quando se encontram, nem sempre trocam palavras além das extremamente necessárias. Há quem inclusive afirme ser essa uma relação desejada.
O ser humano, contudo, desenvolveu-se muito a partir das trocas realizadas entre eles. E essas para ocorrerem necessitam da convivência e do contato. Num simples exemplo no qual se tem algo que se deseja trocar, é necessário, ao menos, sermos capazes de dialogar ao ponto de nos entendermos com aquele com quem desejamos a troca.
Atualmente temos diversos modos de nos isolarmos. É comum ter-se no próprio quarto um televisor, um computador, um telefone. Ou seja, “ferramentas” as quais permitem nos relacionarmos com muitas pessoas, mas ninguém pessoalmente. Desse modo o isolamento fica garantido.
O individualismo exacerbado é a contra mão do desenvolvimento humano e pessoal. Principalmente ao ter em vista o fato de a humanidade ter-se desenvolvido a partir das trocas e dos relacionamentos que estabeleceu. A história das diversas culturas até nos apresenta exemplos disso.
Entretanto, à medida que o relacionar-se torna-se difícil e a modernidade nos apresenta modos fáceis de “fugirmos” desse processo. Damos início a um isolamento que nos conduz a um retrocesso do qual podemos nos dar conta apenas quando já estejamos sofrendo suas consequências. É, então, necessário nos mantermos atentos ao modo como convivemos com quem faz parte de nosso dia-a-dia. Para exercitarmos a capacidade de perceber quando damos início a tal isolamento.
Também não podemos nos esquecer da importância de alguns momentos de solidão para a organização de pensamentos e decisões. Mas, assim como cuidamos do nosso corpo e de nossa saúde física, precisamos cuidar do nosso bem estar psíquico. Diferenciando os momentos de reorganização daqueles que nos distancia das possibilidades de desenvolvimento pessoal. E, para isso, é necessário permitirmo-nos o contato com quem se propõem a contribuir para tal desenvolvimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com


03 junho 2016

OS SONHOS PODEM MORRER?

A partir do momento em que nos permitimos vivenciar a dor da perda de um sonho estaremos aptos a sonhar e planejar novamente.
 
Desde o momento em que nascemos parece haver um “projeto” para o nosso existir. Algumas pessoas demonstram isso claramente ao planejarem uma profissão, um amor ou mesmo um lugar onde se deseja viver. Contudo, nem sempre é possível alcançar tal objetivo. Isto é, muito pode ocorrer para modificar nosso “projeto” para a nossa vida.
Sem dúvida nem sempre estamos preparados para as “surpresas” apresentadas pela vida em forma de decepções. Uma profissão a qual não se consegue atingir o auge ou mesmo um amor que conhece seu fim. No entanto, o importante é estarmos conscientes que os nossos projetos são elaborados por nós. Então, cabe exclusivamente a nós a iniciativa de traçar objetivos diferentes daqueles sonhados anterior às decepções.
Todavia, algo deixado a um plano do “esquecimento” é o fato de ao sermos obrigados a modificar nosso projeto de vida precisamos elaborar o luto dele. Ou seja, precisamos vivenciar cada etapa da “morte” de um sonho. Elizabeth Kübler-Ross, psiquiatra e autora suíça, relaciona algumas fases do processo de luto em sua obra sobre a morte: choque; negação a qual nos leva a agir como se o problema não nos pertencesse; raiva pela situação vivida; barganha, momento no qual se negocia uma troca baseada na fantasia do desaparecimento da dor; depressão, quando é possível apreender a realidade do ocorrido e; aceitação, a qual possibilita o seguir adiante com novos planos.
A partir do momento em que nos permitimos vivenciar a dor da perda de um sonho estaremos aptos a sonhar e planejar novamente. Desse modo nos tornamos livres para novos projetos. Mas, é preciso nos munir de coragem para enfrentarmos as dores do processo descrito por Kübler-Ross. Entretanto, nem sempre conseguimos tal força sem ajuda. Em alguns momentos teremos que ser capazes de entender a necessidade dela para tal empreendimento.
Quando nos permitirmos vivenciar esses momentos difíceis amparados por alguém, seja um amigo ou um profissional apto, ampliamos nossa possibilidade de sucesso na superação da dor. Então, nos tornamos aptos a vivenciar a mudança do projeto inicial e usufruirmos com plenitude a nova escolha feita.
Portanto, se o projeto nos pertence, a dor da perda do sonho também nos pertence. Caberá a nós, então, a iniciativa em nos fazermos fortes o suficiente para lidarmos com as situações as quais nos levam a modificar tudo o que pensávamos ser o ideal.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com