12 fevereiro 2019

VIDA E MORTE EM NOSSA EXISTÊNCIA


Importante é nos permitirmos uma abertura ao mundo e ao que ele nos apresenta, de modo a assentirmos o exercício da “separação”.


Clarissa Pinkola Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos”, destaca ser a nossa grande tarefa aprender a compreender o que deve viver e o que deve morrer em nosso processo de existir. Isto é, nos permitirmos habilitar a nós mesmos a distinguir aquilo que deve “continuar” a fazer parte de nós e o que deve “ter” nossa permissão para terminar, ou seja, morrer.
Muitas vezes nos sentimos inseguros diante de situações as quais solicitem algum tipo de “despedida”. A conclusão de alguma atividade, o fim de um compromisso seja ele de qualquer ordem, uma mudança na aparência, entre muitos outros exemplos. Porém, o importante é nos permitirmos uma abertura ao mundo e ao que ele nos apresenta, de modo a assentirmos o exercício da “separação”. Ou seja, estarmos aptos a identificar, com o máximo de clareza, a necessidade de mudança.
Contudo, é frequente o conforto trazido a nós por causa da rotina, (e a filosofia de Heidegger ratifica essa afirmação). No entanto, quando percebemos alguma ameaça a essa rotina é comum buscarmos formas de protelarmos a solicitação de movimento que a mudança nos convoca.
Viver e morrer faz parte do movimento de nossa existência. É preciso possibilitar o fim de algo, mas, para isso acontecer, é essencial nos tornarmos capazes de perceber as razões que nos conduzem a determinada situação. Assim, proporcionamos chances do novo se apresentar. Sendo que esse novo pode consistir apenas em uma simples conclusão em relação a uma experiência vivida.
É comum sonharmos com o esquecimento das situações mais desagradáveis de nossa história. Desejamos, com frequência, o desaparecimento de nossa lembrança das passagens constrangedoras vivenciadas. Contudo, se considerarmos sermos o resultado de nossas experiências, o desaparecimento de qualquer uma delas representa grande alteração em nosso modo de ser atual. Se fossemos capazes de “apagar” eventos vividos, não poderíamos nos esquecer que também mudaríamos o resultado culminante em quem somos atualmente com todas as nossas habilidades, competências e limitações.
Óbvio é não ser necessário vivenciarmos todo tipo de situação para termos o conhecimento delas. No entanto, conceder a nós mesmos a alternativa de valorizarmos o vivido nos possibilita a oportunidade de estabelecermos uma relação de paz com nosso passado e suas histórias. Desenvolvendo, igualmente, a capacidade de admitirmos o movimento de morte e vida que constitui nosso processo existencial.
Desse modo, ainda poderemos experimentar os receios envolvidos na perda de algo. Entretanto, permitiremos o movimento necessário o qual possibilita sentirmos o fluir de nosso existir de modo harmônico e favorável ao progresso do nosso ser.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124