22 janeiro 2019

INEVITAVELMENTE ESCOLHENDO


Muitas vezes não assumimos nosso envolvimento numa decisão culminante de uma consequência não desejada por nós e, assim, nos isentamos da responsabilidade pela frustração subsequente.

A todo o momento decidimos, isto é, escolhemos algo entre ao menos duas possibilidades. No entanto, a assumpção do fato de escolhermos nem sempre está totalmente límpida para nossa consciência. O filósofo Jean Paul-Sartre afirma que nós escolhemos com maior frequência do que gostaríamos. Escolhemos, inclusive, a quem questionarmos quando em dúvida a respeito de algo, pois, segundo ele, optamos por alguém o qual irá direcionar seu raciocínio em favor do que realmente desejamos.
Em muitas ocasiões torna-se confortável ou, ao menos “seguro”, relegarmos a outrem ou à circunstâncias alheias à nossa vontade, a responsabilidade por algo ter ocorrido de modo diferente do planejado por nós. Ou seja, não assumimos nosso envolvimento na decisão culminante de uma consequência não desejada por nós e, assim, nos isentamos da responsabilidade pela frustração subsequente.
Contudo, mesmo ao nos colocarmos em oposição ao fato de nosso envolvimento ser inevitável, ainda assim, em algum momento, necessitaremos lidar com as consequências. Portanto, ao nos negarmos em assumir um modo de lidar com o que “nos resta”, protelamos também, a possibilidade de vislumbrar alternativas diferentes das imaginadas por nós a princípio. Pois, ao permitirmos um olhar direcionado aos fatos e ao seu alcance, nos posicionamos de modo a sermos capazes de entrever alternativas que poderiam ser consideradas inusitadas, mas que constituem, apenas, algo ainda não conjecturado.
Por isso, torna-se primordial nossa busca em nos conscientizarmos de nossa participação em nossas decisões. Pois, ao proceder dessa maneira, nos situamos como alguém possuidor da a possibilidade de opinar sobre si mesmo, e não alguém incapaz de ação própria e vítima das circunstâncias.
Ao adotarmos tal atitude estabelecemos nossa potencialidade em nos capacitarmos a conduzirmos nossas escolhas de modo a experimentarmos satisfação com elas. Poderemos, todavia, sofrer dores e frustrações com tal modo de proceder. Mas, também poderemos “descobrir” um limiar muito além do nosso suposto limite. E, igualmente, nos realizarmos, de modo inevitável, com tal conhecimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

04 janeiro 2019

SOLTANDO AMARRAS


Nem sempre nos permitimos uma reflexão cuidadosa acerca do porvir de nossas decisões. Impulsionados pelo desejo, ansiedade, entre outros fatores, decidimos envolvidos por emoções que nem sempre percebemos.
 
Ao longo de nossa existência é comum sofrermos diversos tipos de frustrações.  E, geralmente elas são mais comuns do que gostaríamos. No entanto, são também responsáveis por nosso aprendizado em lidarmos com situações inusitadas as quais não desejamos, mas que em muitas ocasiões não temos como nos desvencilhar.
É natural questionamentos a respeito de como lidar com situações as quais não podemos mudar, mas que, no entanto, se apresentam de modo a nos conduzir a sentimentos indesejados de tristeza ou, ainda, tornam-se “amarras” cerceando nossa liberdade.
O filósofo Jean Paul-Sartre discorre a respeito de nossa condenação à liberdade. Segundo ele somos “obrigados” a escolher o tempo todo entre, ao menos, duas alternativas. Para o filósofo nossa condenação consiste em não podermos fugir das consequências de tais escolhas. Heidegger, também filósofo, afirma sermos livres, inclusive, para ampliarmos nossas opções aumentando o número de alternativas envolvidas em uma decisão a qual necessitamos assumir.
Sendo assim, nossa liberdade se apresenta a todo o momento quando nos deparamos com uma escolha a ser feita. Precisamos, apenas, atentar para o grau em que suportamos lidar com a consequência que tal escolha ocasionará.
Nem sempre nos permitimos uma reflexão cuidadosa acerca do porvir de nossas decisões. Impulsionados pelo desejo, ansiedade, entre outros fatores, decidimos envolvidos por emoções que nem sempre percebemos. Porém, uma emoção despercebida pode nos levar a uma consequência indesejada.
Então, se exercitarmos o cuidado para com nossas emoções no momento em que somos solicitados a escolher, poderemos colocar em prática a possibilidade de nos permitirmos opções permeadas de um processo que nos conduza a consequências menos drásticas. Ou, ainda, resultados que sejam “esperados”, tendo em vista possibilitarmos a nós mesmos a oportunidade de vislumbrar o que pode estar no porvir de uma decisão.
Desse modo, disponibilizaremos um desenvolvimento no sentido de nos tornarmos aptos a conduzir nossas decisões de modo mais eficaz. Especialmente, no sentido de nos habilitarmos a avaliar as alternativas em questão e suas possíveis deliberações. Nos tornamos, assim, um pouco mais livres.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124