06 setembro 2013

ESTORVO

Atualmente a vida é vivida com velocidade máxima e se não nos submetermos a essa velocidade corremos o risco de “perdermos” algo. Por essa razão, o outro constitui, quase sempre, um estorvo ou uma ameaça. Isto é, se é preciso chegar antes para não perder o que se deseja, qualquer um que possua a possibilidade de nos alcançar representa uma preocupação a mais.
As solicitações da contemporaneidade nos conduzem a uma postura a qual nossos referenciais apresentam-se obnubilados por necessidades que julgamos serem nossas. Mas, na realidade em sua maioria, consiste, apenas, em um conclame social ao qual nos rendemos e nem sempre percebemos.
Vivendo em grupo a opinião do outro assume grande importância. Contudo, delimitar o grau dessa importância para nós torna-se essencial se desejamos experimentar liberdade e satisfação. O outro representa um referencial no qual nos permite vislumbrar o que desejamos, ou não.
Na relação com o outro temos a oportunidade de, através do contato, averiguar nossas atitudes e o que elas desencadeiam. Porém, se estivermos envolvidos pela necessidade específica de “derrotar” esse referencial, podemos descartar uma oportunidade essencial de aprendizado.
Heidegger afirma ser a rotina nosso porto seguro contra a certeza de nossa finitude. Assim, ao nos comportarmos de modo semelhante ao outro podemos experimentar uma ilusão de segurança. Ao nos iludirmos incorremos na possibilidade de, do mesmo modo, nos enganarmos a respeito do outro e da ameaça que ele representa.
Portanto, ao recordar a afirmação do filósofo poderemos oferecer a nós mesmos a oportunidade de significarmos o outro de modo diferente do habitual. Isto é, o que anteriormente representava uma ameaça pode assumir um significado contrário, ou seja, de apoio.
Lamentamos destruições e comportamentos incoerentes uns dos outros. Mas nos esquecemos de estar atentos para o modo como nos relacionamos com quem partilha conosco experiências das quais podem culminar em resultados, no mínimo, desastrosos.
Ao mudarmos nosso referencial da competição extrema para a partilha, nos colocamos de um modo diferente do “proposto” e, desse modo, assumimos uma maneira de agir que pode surpreender, inclusive a nós mesmos.
Jostein Gaardier, autor do livro “O mundo de Sofia”, afirma ser importante ao adulto lembrar-se da curiosidade que possuía quando criança. Assim, a rotina e a semelhança não o farão uniforme. Ou seja, ao preservarmos nossa singularidade poderemos nos relacionar com o outro sem experimentar um sentimento de incômodo que a necessidade de vitória abarca.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

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