01 março 2013

VIVER E MORRER


Clarissa Pinkola Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos”, destaca ser a nossa grande tarefa aprender a compreender o que deve viver e o que deve morrer em nosso processo de existir. Isto é, nos permitirmos habilitar a nós mesmos a distinguir aquilo que deve “continuar” a fazer parte de nós e o que deve ter “nossa” permissão para terminar, ou seja, morrer.
Muitas vezes nos sentimos inseguros diante de situações as quais solicitem algum tipo de “despedida”. A conclusão de alguma atividade, o fim de um compromisso seja ele de qualquer ordem, uma mudança na aparência, entre muitos outros exemplos. Porém, o importante é nos permitirmos uma abertura ao mundo e ao que ele nos apresenta, de modo a assentirmos o exercício da “separação”. Ou seja, estarmos aptos a identificar, com o máximo de clareza, a necessidade de mudança.
Contudo, é frequente o conforto trazido a nós por causa da rotina, (e a filosofia de Heidegger confirma essa afirmação). No entanto, quando percebemos alguma ameaça a essa rotina é comum buscarmos formas de protelarmos a solicitação de movimento que a mudança nos convoca.
Viver e morrer faz parte do movimento de nossa existência. É preciso possibilitar o fim de algo, mas, para isso acontecer, é essencial nos tornarmos capazes de perceber as razões que nos conduzem a determinada situação. Assim, proporcionamos chances do novo se apresentar. Sendo que esse novo pode consistir apenas em uma simples conclusão em relação a uma experiência vivida.
É comum sonharmos com o esquecimento das situações mais desagradáveis de nossa história. Desejamos, com frequência, o desaparecimento de nossa lembrança das passagens constrangedoras vivenciadas. Contudo, se considerarmos sermos o resultado de nossas experiências, o desaparecimento de qualquer uma delas representa grande alteração em nosso modo de ser atual. Se fossemos capazes de “apagar” eventos vividos, não poderíamos nos esquecer que também mudaríamos o resultado culminante em quem somos atualmente com todas as nossas habilidades , competências e limitações.
Óbvio é não ser necessário vivenciarmos todo tipo de situação para termos o conhecimento delas. No entanto, conceder a nós mesmos a alternativa de valorizarmos o vivido nos possibilita a oportunidade de estabelecermos uma relação de paz com nosso passado e suas histórias. Desenvolvendo, igualmente, a capacidade de admitirmos o movimento de morte e vida que constitui nosso processo existencial.
Portanto, permitimos em um número maior de vezes nossa chance de acatar as mudanças quando elas se apresentam como possibilidades. Desse modo, ainda poderemos experimentar os receios envolvidos na perda de algo. Entretanto, permitiremos o movimento necessário o qual permite sentirmos o fluir de nosso existir de modo harmônico e favorável ao progresso do nosso ser.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

Um comentário:

  1. Facilmente complicado! Mas, perfeito como sempre! Beijo. Fique com DEUS

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