20 fevereiro 2015

CONFIANÇA

Zygmunt Bauman, sociólogo e autor, em seu livro Amor Líquido discorre sobre a liquidez das relações na atualidade. As circunstâncias nos direcionam ao consumo de tudo ao nosso redor e, segundo ele, os relacionamentos não poderiam ficar fora desse rol. Ou seja, o modo de nos relacionarmos “toca” nessa necessidade de consumo que temos de incansavelmente buscarmos a satisfação de nossos desejos. Mas que na realidade é mais um gatilho para o despertar de um novo desejo.
Diante disso nos vemos, além de tudo, com um verdadeiro arsenal o qual permite uma amplitude de acesso a informações que ao atentarmos pode até assustar. No acesso de um simples “click” pode-se encontrar uma gama de informações que, talvez, nem ao menos teremos disponibilidade para averiguar tudo. E essa informação pode ser sobre algo ou alguém.
Vive-se, ao mesmo tempo, uma necessidade de exposição. Quanto mais pessoas souberem de suas conquistas, mais satisfeitos poderão se sentir, visto que a ideia de sucesso na atualidade parece estar diretamente relacionada ao número de pessoas que sabem quem você é e o que você faz.
Tangente a esses fatores tem-se que lidar também com a desconfiança. Como, em quem e, no que confiar? Até mesmo as imagens vistas em uma tela não são confiáveis depois do surgimento do Photoshop. Diante da insegurança buscam-se informações em todos os lugares disponíveis nas quais não se tem a certeza da fidedignidade dessas.
Então, o que resta é desconfiar e estabelecer relacionamentos que não ofereçam maiores riscos. “Protege-se” de sofrimentos futuros ao estabelecer relacionamentos que não saciam a sede de sentimentos e emoções que se tem. E dessa forma, ao mesmo tempo em que se garante a ilusória segurança, priva-se de um viver intensamente, ao imaginar que a possibilidade de usufruir a vida estará sempre à disposição.
O viver intensamente que permite o contato com emoções diversas exige investimento pessoal e riscos. Não é possível garantias de satisfação e felicidade plena às quais buscamos. Porém, o privar-se de sofrimentos futuros pode impedir também a possibilidade de viver sensações desconhecidas que podem surpreender por serem agradáveis.
Então, não há uma receita pronta a se seguir, mas uma gama de possibilidades para se buscar conhecer. E que pode iniciar-se com um olhar para si próprio e a busca de sentimentos que podem estar apenas esperando um pequeno espaço para se manifestarem.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

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