12 fevereiro 2016

CONSIGO PARTICIPAR DE TUDO?

Qual a diferença entre o tal friozinho na barriga de quando nos excitamos com algo e o desespero em participar de tudo.


É comum a sensação de um friozinho na barriga quando estamos excitados com algo. Muitos dizem ser essa sensação algo extremamente útil e positivo. Entretanto, assistimos atualmente um certo frenesi em torno de situações que não necessitariam do alvoroço gerado.
Uma jovem na fila de um cinema para assistir a estreia de um filme se gabava ao dizer estar ali há mais de três horas e não havia saído nem para ir ao banheiro. Ao ser questionada sobre o motivo afirmou que não queria perder nada daquele evento, nem mesmo uma pipoca que caísse nos degraus da escada.
Outra jovem, ao não poder estar presente em uma festa de aniversário de uma amiga preparou uma festa surpresa, dois dias antes da outra festa, para que assim não se sentisse “de fora” por perder algo.
Então, uma questão emerge. Qual a diferença entre o tal friozinho na barriga de quando nos excitamos com algo e esse desespero em participar de tudo. Ocorre de necessitarmos estar presente em tudo e saber de tudo para não nos sentirmos perdendo algo? Talvez o acesso a tantas informações com tanta facilidade e rapidez sejam alguns dos motivos.
Porém, parece haver algo mais. Um desejo insatisfeito que nos leva a permanecer em busca de algo o qual não conseguimos identificar ao certo. Então, se nos esforçarmos para não perder “nada”, pode acontecer de não sentirmos essa falta que não consegue ser identificada. Mas, será possível conseguirmos participar e estar presente em tudo?
Percebe-se cada vez mais pessoas sendo acometidas ou “diagnosticadas” como ansiosas, depressivas ou com algum tipo transtorno. Isso pode significar que em algum momento deixamos de nos envolver emocionalmente de modo a nos fortalecermos e estarmos preparados para o prazer. Iniciamos, então, uma jornada rumo a uma sensação de quase desespero por deixar de obter algo.
Nos fortalecermos para o prazer porque ao experimentarmos o tal “friozinho na barriga”, de algum modo, nos preparamos para um evento o qual poderá proporcionar uma emoção diferente da rotineira. E, portanto, nosso corpo “conversa” conosco de modo a nos preparar emocionalmente para a situação por vir.
Ao ter isso em mente é importante conseguirmos nos manter atentos para buscar cada vez mais conhecer nossos limites e nos tornar, então, capazes de nos emocionarmos e experimentarmos sensações as quais não sejam esperadas ou planejadas. E que estas nos permitam viver os momentos que surgem no presente. Sem medo do passado e sem tentar controlar totalmente o futuro.
Podemos iniciar um modo de viver voltado mais para o momento atual, nos preocupar com ele e nos envolver com todas as emoções que o presente pode nos oferecer. E, assim, exercitarmos a redução das sensações de desespero quando buscamos algo e nem sabemos ao certo o que é.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


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