05 fevereiro 2016

PERDÃO NÃO SIGNIFICA ESQUECIMENTO

É muito provável conseguirmos perdoar, mas nosso olhar não será o mesmo. A lente que os cobria não poderá ser a mesma, pois nós mudamos a cada nova experiência.

Ao perdoar nosso olhar volta ao que era antes? Isto é, quando perdoamos conseguimos apagar da lembrança o que ocorreu e nos sentirmos exatamente da mesma maneira que antes? Ao nos relacionarmos, com algo ou alguém, temos nossa interpretação dessa relação e desse algo ou desse alguém. Normalmente não nos atentamos para esse fato, porém ele ocorre. Nossa história e nossas relações sempre permeiam os nossos contatos.
A questão então é se conseguimos retomar a visão anterior depois de algo nos atingir. Ou seja, quando nos sentimos ofendidos ou feridos pode ocorrer de sermos capazes de perdoar, relevar o que aconteceu e reaver o relacionamento anterior. Contudo, será possível o retorno exatamente como era antes?
Se tudo nos toca de alguma maneira, como não mudar depois de vivermos uma decepção ou uma dor? Nossa história envolve todos os nossos contatos e deste modo somos o resultado deste conviver. Portanto, torna-se inevitável alguma mudança ocorrer especialmente quando experimentamos a decepção ou a dor. Então, a mudança na relação anterior também se torna algo difícil de não ocorrer.
Jean-yves Leloup, filósofo e escritor, destaca em um de seus livros que o perdão não apaga a realidade do carrasco. Mas uma vez perdoado não estamos mais sob a dependência dele através do ódio e da sede de vingança inspirados por ele. Ou seja, podemos mudar os sentimentos, entretanto a realidade do fato não desaparece. A dor e a decepção continuam a existir, mesmo ao tornar-se apenas em uma lembrança. E isso faz parte de nossa história.
Então, é muito provável conseguirmos perdoar, mas nosso olhar não será o mesmo. A lente que os cobria não poderá ser a mesma, pois nós mudamos. Sendo assim, não podemos nos esquecer de que buscar retomar uma relação exatamente como ela foi um dia, é, ao menos, uma busca impossível. As mudanças acontecem, na maioria das vezes, independentes de nossa vontade.
É preciso nos lembrarmos disso para não experimentarmos decepções conosco por não sermos capazes de sentirmos exatamente como foi no passado, antes de um fato ser conhecido e provocar alterações nas relações antigas. Não é raro nos iludirmos com a ideia de conseguirmos voltar como éramos. Mas é uma ilusão.
O importante é atentarmos para esse fato e, então, conhecermos nossas reais capacidades para, desse modo, ampliarmos nossas possibilidades no que tange os relacionamentos. Pois, ao permanecermos na ilusão, as relações tornam-se alicerçadas em algo frágil o qual não será capaz de resistir aos abalos a que estão sujeitas. Sejam eles de menor ou maior proporção.
A nossa realidade nos fortalece para o contato.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

Um comentário:

  1. Como sempre, essa mestre nos ensinando o senso de criticidade, e a visão do futuro.
    Obrigado amiga.
    Abraço
    Normando

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