15 fevereiro 2013

CONTRADIÇÕES


Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, destaca que ferramentas de relacionamento como o Facebook, Twitter, entre outros, possibilitam o “contato” com outras pessoas sem a necessidade de iniciarmos uma conversa, da qual possa apresentar o risco de tornar-se “perigosa e indesejável”. Isso, porque o “contato” pode ser desfeito a qualquer momento, para isso apenas basta que o diálogo se encaminhe numa direção indesejada.
Da mesma forma, conforme afirma Bauman, no nosso mundo “líquido” e moderno somos ansiosos por relacionamentos duradouros, mas ao mesmo tempo queremos que eles sejam leves e frouxos, fáceis e sem frustrações. Ou seja, desejamos nossos sonhos, mas não queremos suas consequências possíveis, o que se pode chamar de contradição.
Em nosso processo de ansiar por algo pode ocorrer, em um número considerável de ocasiões, de relegarmos a um plano que cause menos desconforto a realidade conectada aos riscos em nos relacionarmos. Por isso, torna-se tentador e “seguro” os relacionamentos nos quais temos “total controle”, de modo a podermos nos desconectar a qualquer momento.
No entanto, um desejo um pouco mais rudimentar nos movimenta em direção ao outro. Isto é, buscamos de todas as formas possíveis nos relacionarmos com quem se apresenta ao nosso convívio. E desejamos que tais relações assumam papel duradouro oferecendo segurança. Porém, com as facilidades da atualidade moderna, apresenta-se na mesma proporção a possibilidade de nos colocarmos nessas de relações de um modo distante e ilusoriamente seguro. Pois, com a “ilusão” do não conectar-se de modo mais intenso também alimentamos a ideia de sermos capazes de não sentir e, por conseguinte, nos privarmos do sofrimento iminente.
A todo o momento estamos sujeitos a diversos riscos. O risco de nos decepcionarmos, o de morrermos, ou seja, nossas certezas são, na verdade, repletas de “contradições”, pois podemos estar vivos ou não, nos contentarmos ou não. Mas, ainda assim, colocamos em prática nossa confiança no porvir e na certeza deste.
Martin Heidegger, filósofo, salienta vivermos sob o medo do porvir, e esse medo nos conduz a um modo de proteção o qual despreza a possibilidade do fim. Então, desse modo, nos tornamos confiantes e “tranquilos”. No entanto, é necessário nos lembrarmos de tais incertezas de tempos em tempos, para nos habilitarmos a permitir a presença dos riscos em nosso existir.
As relações não nos oferecem certezas, apenas possibilidades. Mas, somos indivíduos que necessitam delas para saciarmos nossa busca pela completude. Sendo assim, ao compreender as “contradições” envolvidas no existir, nos aproximamos da possibilidade de atingirmos realizações pessoais das quais nos permitam uma existência mais próxima da satisfação. Assim passamos a levar em conta que as contradições fazem parte do processo, de modo a nos impulsionar para a continuidade.  

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

07 fevereiro 2013

IMEDIATISMO


Os conclames sociais atuais nos convidam a atitudes que apresentem resultados imediatos. Ou seja, qualquer “movimento” nosso só é constituído de valor efetivo se proporcionar rapidamente uma consequência. No entanto, é comum não nos darmos conta de que resultados e consequências compõem um mesmo referencial.
Na rotina do dia-a-dia deixamos de lado a reflexão. Seja ela embasada em temas profundos ou superficiais, o refletir toma um tempo do qual nem sempre estamos propensos a disponibilizar. Permitimo-nos envolver em um ritmo no qual o tempo tornou-se escasso para realizações passíveis de representar uma lacuna em nossa existência. Isto é, não nos atentamos para o fato de que ao desdenharmos alguns traços integrantes de nosso modo de ser também influenciamos o modo como vamos ser e sentir.
Clarissa Pinkila Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos” afirma termos deixado de lado nossa porção selvagem, isto é, um lado “animal” do qual todos nós compartilhamos. E, segundo a autora, ao dispormos de tal atitude comprometemos nossa capacidade para vivenciar de modo pleno as oportunidades de convívio e desenvolvimento pertinentes ao nosso existir.
Ao nos afastarmos de sensações peculiares e rotineiras também nos afastamos da possibilidade de reflexão. Quando nos envolvemos nos afazeres diários sem possibilitarmos a nós mesmos um momento de “prazer”, seja uma sensação, uma companhia agradável ou ainda, um repouso rápido; também nos privamos da oportunidade de estabelecermos um ritmo à nossa existência o qual possibilite experimentarmos, de modo pleno, as ocasiões em que somos convidados a nos relacionarmos das formas mais variadas.
Somos seres constituídos e que se desenvolve a partir do relacionar-se. Quando assumimos a decisão de nos permitirmos conviver sem atentar para as particularidades das relações deixamos de lado a chance de desenvolvermos o que temos de primário e essencial – as sensações. E, com tal comportamento podemos por em risco nossa integridade pessoal, intelectual e emocional.
Portanto, talvez constitua de importância relevante usufruirmos das oportunidades de refletir acerca do momento vivenciado, para nos possibilitarmos um número mais amplo de alternativas relacionadas às nossas escolhas. Para, desse modo, nos tornarmos habilitados a optar entre resultados imediatos ou consequências às quais temos capacidade para lidar de modo mais duradouro.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

01 fevereiro 2013

SENTIR


A cada novo dia é possível afirmar estarmos adiante no que concerne o desenvolvimento intelectual de modo geral. Novas descobertas, novas formas de analisar, medir e “provar” diversos fatos e situações tornaram-se algo trivial em nosso dia-a-dia. Compartilhamos a satisfação com o progresso de nosso desenvolvimento como um todo. No entanto, em alguns momentos, podemos experimentar certa consternação em relação aos sentimentos.
Não é incomum presenciarmos, de modo mais próximo ao nosso convívio, ou não, alguém em pleno exercício do que parece ser uma batalha contra sensações e sintomas dos mais variados tipos. Com um olhar um pouco mais atento, podemos ser capazes de detectar, quase que em sua generalidade, algum traço de ansiedade, depressão ou medo subentendido nessas sensações e sintomas. Isto é, características facilmente localizadas nas diversas síndromes e transtornos muito comuns na atualidade.
Em uma breve reflexão podemos concluir viver num momento em que essas situações tornaram-se rotina e, sermos, desse modo, induzidos a crer que tal rotina representa algo o qual precisamos aprender a conviver, por tratar-se de um fato inevitável. Contudo, essa conclusão pode não significar a totalidade do processo. Se nos permitirmos um olhar um pouco mais cuidadoso, talvez possamos detectar uma carência no quesito sentimento.
No transcorrer do crescimento e desenvolvimento pessoal, nem sempre nos atentamos para o fato de que o sentir é parte importante de todo o processo envolvido em nosso progresso. Cuidamos de modo peculiar do aprimoramento de nossa intelectualidade, praticidade e racionalidade. E, em muitas ocasiões, relegamos a um plano demasiadamente secundário nossos sentimentos.
Porém, tal atitude não se manifesta de modo isento. Isto é, a escolha em não “cuidar” de nossos sentimentos apresenta consequências as quais podemos não levar em conta no momento em que não assumirmos os riscos envolvidos nessas decisões.
Então, é de suma relevância nos manter conscientes de nossas escolhas, porque elas constituem um processo de liberdade. Mas, não podemos nos permitir descartar de modo “definitivo” que as consequências são inevitáveis. Mesmo quando optamos por não olhar para o que se apresenta a nós como algo gerador de algum desconforto de qualquer tipo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

25 janeiro 2013

CUIDADO


Um pequeno vídeo chamou a atenção de muitas pessoas há pouco tempo. No breve documentário a imagem de um pequeno filhote de cachorro exercia seu processo de aprendizado em descer alguns degraus de uma escada, no que era assistido por alguém que registrava o acontecimento com sua câmera e ao mesmo tempo orientava outro animal, mais velho, a ajudar o filhote demonstrando como fazer.
Porém, um fato comovente consistiu em que ao final, quando o filhote oscilou entre um degrau e outro, o cachorro mais velho apresentou-se cuidadoso e de prontidão para “abocanhá-lo” (como fazem os animais para apanhar um filhote) caso ele não fosse capaz de manter seu equilíbrio ao descer os degraus. Isto é, permaneceu pronto a “cuidar” do pequeno ser em seu processo de aprendizado.
De modo semelhante ocorre com todos os momentos quando algo novo se apresenta como oportunidade de aprendizado. No entanto, pode ocorrer de nos rendermos ao “medo” e inibirmos a possibilidade de experimentar esse algo novo.
No processo de crescimento do individualismo, nos habituamos a acreditar que a independência consiste no isolamento. Ou seja, para nos sentirmos capazes e independentes precisamos, também, estarmos sozinhos em nossas empreitadas.
Porém, sendo seres constituídos de relações, tal pensamento parece, no mínimo, contraditório. Isto é, se há a necessidade do outro para nos afirmarmos como seres vivos que somos, a ideia de precisarmos nos isolar para nos tornarmos plenos não apresenta sentido lógico.
Nesse processo no qual atentamos para as solicitações diárias de velocidade, agilidade, capacidade, entre outras. Deixamos de cuidar uns dos outros e de nós mesmos. Cuidar no sentido instintivo e primitivo como se apresentou no rápido vídeo no qual o animal irracional se manteve pronto a “cuidar” do outro em caso de necessidade.
Talvez, em nosso processo de desenvolvimento da racionalidade, deixamos de lado nossos instintos, os quais nos possibilitam a proximidade com quem somos em nossa essência. Ou seja, somos seres racionais, mas com instintos também. E, se não nos permitirmos o desenvolvimento deles de modo pleno como exercitamos nossa racionalidade, é muito provável também sermos capazes de caminhar em frente. Contudo, como alguém que possui apenas uma perna, esse caminhar será um pouco mais difícil.
Sendo assim, pode representar um grande passo à frente, um breve “retrocesso”, ao nos voltarmos para nossos sentimentos mais primitivos como o cuidado. Para, assim, nos habilitarmos a desenvolver de modo um pouco mais satisfatório toda a nossa plenitude como seres capazes de compartilhar pensamentos e sentimentos. E, esse cuidado pode ter início no trato de nós mesmos, e de nosso modo de sentir, pensar e agir.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

18 janeiro 2013

EU E OS OUTROS


Zygmunt Bauman, sociólogo, em seu livro “Globalização” discorre a respeito do individualismo. O autor salienta vivermos em um período no qual é comum voltarmo-nos aos nossos interesses de modo tão enfático a ponto de chegarmos a descartar a realidade do fato de que nos relacionamos em tempo integral.
Nesse processo, quando deixamos de considerar a importância dos relacionamentos, também relegamos ao esquecimento o exercício da busca da compreensão de nós mesmos em relação aos outros. E, assim, nos privamos do uso de uma das ferramentas essenciais para essa compreensão: a empatia.
Empatia é a tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa. Isto é, nos colocarmos no lugar do outro e imaginarmos o que ele (ou ela) sentiria em uma situação específica. Ou seja, não consiste apenas em tentarmos “adivinhar” o que determinada pessoa faria em certa situação, mas nos imaginarmos “sendo ela” ao decidir sobre o ocorrido. Ao exercitarmos tal comportamento poderemos compreender o impacto de nossos atos e sentimentos naqueles com quem nos relacionamos diariamente.
Com essa prática proporcionamos a nós mesmos a chance de estar atentos de modo mais acurado a quem é o “alvo” de nossa atenção. Isto é, com quem nos relacionamos naquele momento. E, a partir de então nosso conhecimento acerca dos pormenores desse alguém se torna mais cristalino para nossa compreensão.
Muito mais vezes do que nos damos conta podemos não ser capazes de nos fazer claros em relação ao que sentimos e pensamos, e então, a sensação de incompreensão manifesta-se. Ao longo de nosso existir podemos nos habituar a não falar do que sentimos. Contudo, esperamos que as pessoas ao nosso redor nos entendam.
Talvez esperamos ocorrer um tipo de “telepatia” na qual nossos pensamentos e sentimentos tornem-se explícitos. Mas, felizmente ou infelizmente, ainda não somos capazes de “ouvirmos” os pensamentos uns dos outros.
Então, é de suma importância cuidar do modo como nos comunicamos, exercitar nossa capacidade de percepção do outro, e nos habilitar, assim, para colocarmos em prática a possibilidade de modificar o modo como dizemos o que pensamos. Assim, seremos melhores compreendidos em nossos sentimentos.
Quando a compreensão torna-se presente em nossos relacionamentos, ocorre, por conseguinte, de tornar-se mais definido os limiares entre eu e o outro. E, assim, torna-se mais produtivo o relacionar-se, de modo a usufruirmos o maior número de possibilidades disponíveis no processo de desenvolvimento, ao qual estamos submetidos.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

11 janeiro 2013

DEFESAS


Fiódor Dostoiévski, escritor russo, afirmou uma vez: “o sarcasmo é o ultimo refúgio das pessoas moderadas quando a intimidade de sua alma foi invadida”. Quantas vezes temos nossa “alma” invadida e como reagimos diante desse fato?
É comum usarmos as ferramentas disponíveis relacionadas ao nosso modo de ser: nossas defesas. No entanto, se não as conhecermos podemos nos encontrar em uma posição na qual limitamos nosso desenvolvimento, ao nos localizarmos em uma posição de “guarda” o tempo todo. Ou, inibirmos possibilidades em acessar informações as quais ofereceriam chances de crescimento ímpares, que apenas se tornarão disponíveis se nos permitirmos o contato com elas.
Então, como proceder para não nos colocarmos a mercê das investidas diárias as quais estamos sujeitos e, ainda nos permitirmos o contato em nosso dia-a-dia com as oportunidades disponíveis? Isto é, como avaliar as situações diversas de modo a minimizar os “danos” para nós mesmos e reduzir, desse modo, o uso de nossas defesas?
Estabelecer limites para as investidas daqueles com quem convivemos é de extrema importância. Porém, para exercemos tal “controle” é necessário conhecermos de antemão quais são nossos limites. Ou seja, o que nos atinge de modo a nos prejudicar e o que nos atinge e entendemos como prejuízo e não constitui algo dessa monta.
Ao aventar-se tal possibilidade podemos, em um primeiro momento, afirmarmos ser uma tarefa permeada de diversas dificuldades, e tal afirmação não constitui uma inverdade. Então, podemos nos acomodar na condição em que nos encontramos atualmente e nos sentirmos bem com isso.
Entretanto, há os momentos quando nos sentimos, como destaca Dostoievski, invadidos de tal modo que nos defendemos. Contudo, ocorre muitas vezes de essa defesa não emergir do modo ou na frequência que desejávamos. Nesse momento podemos experimentar desconfortos relacionados a nós mesmos. Desse desconforto, diversos sentimentos podem se fazer presentes. E eles podem nos causar sensações as quais não gostaríamos de experimentar.
Sendo assim, se nos proporcionarmos a possibilidade de um conhecimento mais elaborado acerca de nossos sentimentos e as reações por eles desencadeados, exercitaremos um modo de conhecer também nossas defesas, e ampliarmos as chances de elas serem utilizadas de modo mais adequado para visar nossos ganhos e, não prejuízos indesejados.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

04 janeiro 2013

ANGÚSTIA E DEPRESSÃO


A psicóloga e escritora Lídia Rosenberg Aratangy em seu livro “Doces Venenos” afirma ser impossível acabar com a angústia e com a depressão. Segundo ela, esses sentimentos fazem parte da bagagem humana e são passagens obrigatórias no percurso de um desenvolvimento normal. Não são desvios da rota, mas parte de um trajeto. É uma das condições de estar vivo.
Essa afirmação da psicóloga nos leva a refletir sobre a importância de situações as quais nem sempre constituem algo agradável para nós. Mas, que assumem um grau de importância em nosso existir tanto quanto os momentos prazerosos.
Há ainda uma ideia a respeito do sofrimento, o qual o configura como sendo algo a ser evitado a todo custo. É óbvio não querermos experimentar dor de nenhuma ordem, especialmente a emocional. No entanto, se esses momentos fazem parte de um desenvolvimento necessário, então, talvez seja preciso modificar o modo como lidamos com essa condição da nossa trajetória rumo ao crescimento pessoal.
Ou seja, tratar a angústia e a depressão como simples malefícios a serem combatidos pode nos levar a perder oportunidades especiais de desenvolvimento. No filme “Batman Begins” um personagem afirma o motivo pelo qual “caímos” é para nos tornarmos aptos a nos levantar. Isto é, não desejamos “cair”, mas “caímos”. Então, se estamos sujeitos a tal possibilidade, essencial se faz um movimento nosso em prol de aprendermos como lidar com tal condição.
Contudo, ao conduzirmos nossa interpretação em relação aos momentos os quais nos leva a experimentar algum tipo de dor ou sofrimento, também permitiremos a essa interpretação alcançar mais de um modo de compreensão, e poderemos nos orientar de modo a refletirmos a respeito do que nos angustia ou deprime.
Assim, nos capacitaremos a agir em prol de um conhecimento individual e exclusivo acerca de nós mesmos. Habilitar-nos-emos, desse modo, a gerirmos a trajetória do desenvolvimento pessoal ao qual somos impelidos.
Portanto, sempre que nos colocamos em posição de permitir o contato com algo o qual possibilite nosso crescimento, ampliamos nossa compreensão acerca de nós mesmos. E, também, participamos de modo ativo de nossa capacitação para o suporte necessário para lidar de modo mais brando e amigável com a angústia e a depressão.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124