06 maio 2011

ANTECIPAÇÕES


Noutro dia alguém dizia que, para poupar sofrimento, iria modificar o modo como determinado evento aconteceria. Porém, tal atitude não mudaria o fato de, por exemplo, uma separação acontecer. Costumamos ser tão ansiosos em relação a diversas situações que até mesmo o sofrimento tentamos controlar. Ou seja, buscamos modos de minimizá-los, nos quais consistem uma defesa justa. Contudo, alguns desses subterfúgios podem representar tentativas de fuga. Então, a atitude de antecipar ou evitar determinadas situações pode realmente ajudar?
Recordo-me de certo caso uma pessoa “x” saber que, em um futuro não muito distante, uma pessoa “y” chegaria e diminuiria seus privilégios. “X”, então, discutia sobre a possibilidade de antecipar o processo de diminuição desses privilégios para quando a outra pessoa chegasse seu sofrimento não fosse tão grande. Pode-se, portanto, sentir menos uma perda se iniciarmos, com alguns meses ou anos de antecedência, uma separação? Ou seja, nos distanciarmos de alguém tendo em vista a partida dele ser um fator previsto?
É óbvio que o conhecimento antecipado de determinada situação indesejada, porém inevitável, constitui motivos de aflição e ansiedade. E a busca de maneiras as quais acreditamos, em alguns momentos, ser possível abrandar esses sentimentos torna-se um alento. Em muitas ocasiões o “tomar as rédeas” da situação denota esse alívio. Isto é, ao determinar quando iniciar tal processo somos capazes de acreditar estarmos no controle de tudo.
Então, se sabemos a hora do início desse sofrimento, o modo mais seguro de controlá-lo seria sua antecipação de algum modo. Significando estarmos com mais medo dos possíveis sentimentos gerados do que da situação em si.
Ocorre nos dias de hoje uma busca incansável para expandir o prazer e minimizar as dores. Todavia, somos constituídos dessas experiências, boas e ruins. São elas as quais nos permite dar significado e construir nosso modo de ser, agir e pensar.
A tentativa de fuga pode desse modo, figurar-se tentadora. Mas, é importante termos a consciência de tais experiências serem fundamentais para nós. Nesse caso, buscar formas de abrandar sofrimentos é justo. Porém, precisamos nos manter atentos para o fato de não nos colocarmos tão aflitos com essa possibilidade ao ponto de não vivenciarmos o presente com medo do futuro. Seria algo como por ter a certeza da morte decidir não viver mais.
Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

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