13 abril 2012

VORACIDADE

Não raro ocorre de nos sentirmos prejudicados ou experimentarmos a sensação de que o mundo nos negou algo. Nesse momento, se formos capazes de atentarmos para nosso proceder e darmos curso a uma pequena análise, incorreremos na possibilidade de localizarmos em nós mesmos uma das fontes de nosso mal estar. No entanto, nem sempre estamos aptos a essa conduta. Em nosso existir podemos experimentar situações nas quais nos permitimos acreditar terem sido, elas, astuciosamente planejadas para nos frustrar e nos conduzir, assim, a uma situação de revolta. Nesse caso, nos identificamos como alguém sofredor submetido a injustiças. Melanie Klein, psicanalista, em seu livro “Inveja e Gratidão” define voracidade como uma ânsia impetuosa e insaciável. Nela o indivíduo, voraz, excederia o necessário, desejando além do que quem oferta pode ou está propenso a disponibilizar para nós. Podemos, então, a partir dessa definição, entendermos sermos capazes de criar significado para o limite alheio como uma recusa em satisfazer nosso desejo, mesmo que ele seja permeado do excesso para aquele a quem direcionamos nossa “voracidade”. Então, podemos nos identificar como vítimas numa ocasião em que isso não represente uma realidade e, procedermos em um comportamento no qual ocorreu uma distorção da compreensão do limite do outro, como sendo uma lesão que nos proporciona algum prejuízo. Em algumas ocasiões pode ocorrer de amenizarmos nossos feitos reprimíveis e abrandarmos nossos comportamentos desagradáveis bem como ampliarmos nossa posição de sofredores. Porém, ao fazer uma reflexão, é possível o contato com os fatos ocorridos de modo mais claro. Assim, torna-se possível avaliar o todo de um modo límpido, para suceder a apropriação de informações mais plausíveis concernentes ao ocorrido. Ao nos permitirmos tal comportamento, damos lugar ao exercício pleno de nossa liberdade, como difundida pelos filósofos Martin Heidegger e Jean Paul-Sartre, a qual nos permite ampliarmos nossas possibilidades e escolhermos dentre elas a que julgamos mais satisfatória aos nossos propósitos. No entanto, nem sempre estamos dispostos a investir em nosso desenvolvimento pessoal e podemos optar por permanecermos vorazes. Mas, é importante a consciência da total liberdade de escolha que possuímos e da condenação vinculada a ela: suas consequências, as quais somos impelidos sempre que optamos por algo. Por isso, é importante nos conscientizarmos de nosso envolvimento e o do outro quando de circunstâncias que nos contrariam, para sermos capazes da busca de lucidez que permita a reflexão e compreensão do todo de uma situação.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

6 comentários:

  1. Márcia gostei muito dos últimos textos! todos nos leva a uma reflexão do escritor e poeta frances René Char: “Aquele que vem ao mundo para nada alterar, nada perturbar não merece nem consideração nem paciência” O que define o homem é a transgressão, transgredir não significa violar a lei praticar coisas ilícitas, mas ultrapassar a si mesmo e alcançar o sonho da liberdade que não é nem um ponto de partida nem de chegada ,mas sim algo deve ser conquistado e construído pelo o homem como um ser consciente e prático. um grande abraço maria

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    1. Com certeza Maria... precisamos ultrapassar nossos limites para então irmos em busca de realizar nossos sonhos/planos.
      Obrigada Maria... Beijos.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. A algum tempo atras eu estava extremamente enfurecido na minha alma, perturbado nos meus pensamentos, porque por um instante me vitimei. Perdi a lucidez, a sanidade, e o bom senso nem passava perto de mim. Estava cego, obstinado, desenfreado, não conseguia nem mesmo me equilibrar sobre os meus próprios pés. Uma sensação estranha, de quem tem a "razão", a tal "razão", que me fez perder a "razão". Vitimado eu gritei, machucado eu falei, e com a "razão" destrui a alma de quem estava bem. Quando retornei ao equilíbrio, depois de violentado violentar, respirei e vi, que nem sempre estar "certo" é o "certo", mas que as vezes, o estar "errado" mesmo quando violentado, ainda assim é o melhor caminho. Isso dá tempo para uma reflexão.
    Se eu pudesse voltar atrás ... e desfazer o que fiz ... voltaria, mas não dá, segui em frente e agora procuro ser mais cauteloso, aprendi que assumir a co-responsabilidade dos fatos, é melhor do que assumir o lugar da vítima.

    Amiga desculpe a transparência, mas quem nunca se viu com a tal da "razão", não é verdade?

    Foi um prazer te conhecer! Você veio como um presente em minha vida.

    Beijos

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    1. O melhor de todo sofrimento André, é poder se desenvolver a partir dele. Nós não existimos apenas para nos divertir, mas fazemos parte de algo muito maior. Então, quando conseguimos olhar para nossas dores e crescer a partir delas estamos, com certeza, assumindo nosso papel em nosso existir.
      Transparência é o melhor tesouro que podemos ter e oferecer.
      Para mim também foi um prazer conhecer você e sua esposa.
      Beijos e bom feriado para vocês.

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  4. Obrigado e bom feriado pra você e toda sua família linda.

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