23 novembro 2012

CAMINHO COM DESTINO


Os chineses, como descreve Fritjof Capra em seu livro “O ponto de mutação”, nomearam tao (caminho), o contínuo processo cósmico no qual o universo está compelido, e que consiste em um movimento e atividade incessantes. Ou seja, vivemos em um movimento constante. O filósofo Heráclito afirmou não ser possível alguém banhar-se duas vezes em um mesmo rio, pois o rio não seria mais o mesmo devido ao fato de a água corrente ter-se ido. Sendo assim, segundo esse filósofo, vivemos em um constante devir por causa do movimento ao qual estamos sujeitos ou, um permanente “vir-a-ser” como nomeia o filósofo Heidegger.
Outro termo da filosofia taoista citado por Capra – wu-wei significa: “não-ação”; representa a privação de uma certa espécie de atividade, que, no entanto, estaria em harmonia com o processo cósmico em curso e seu constante movimento e atividade. Ou seja, não constitui a ausência de atividade.
A não-ação significa permitir a ocorrência  do curso natural dos eventos. Diferente da permanência em inércia. Ou seja, respeitar a “essência” das coisas, permanecendo, desse modo, em harmonia com o movimento ao qual todos estamos sujeitos. Pois, a interconexão descrita por Capra em seu livro define estarmos todos interligados em nossos comportamentos e “destinos”. Então, nenhuma atitude praticada por um é isenta de influenciar a todos os outros.
Sendo assim, pode-se afirmar que alguém tem sorte. No entanto, fica uma questão: tal indivíduo tem sorte ou é alguém capaz de compreender um curso natural relacionado à essência de tudo o que está envolvido no movimento universal cósmico, e coloca em prática a não-ação?
Ao considerar a reflexão do físico Fritjof Capra podemos cogitar ser a sorte uma consequência relacionada a um modo de agir em relação ao “mundo” ao qual estamos “interligados”. Isto é, um respeito ao movimento e a interconexão existentes.
Desse modo, podemos nos manter inertes diante dessa reflexão, ou podemos assumir uma atitude de não-ação e exercitarmos compreender qual a essência de tudo, e de todos, com quem nos relacionamos. Para assim, darmos início a um processo o qual pode culminar em uma “mudança de caminho”.
Essa mudança talvez não ofereça um vislumbre concreto. Porém, representa um ampliar de possibilidades o qual pode significar um exercício de liberdade ainda não nos permitido experimentar. Mas passível de apontar para uma direção desconhecida para nós capaz de oferecer oportunidades ainda não cogitadas.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

2 comentários:

  1. Os ocidentais, Márcia, não aprenderam a exercitar o "ócio" que se dedica à meditação, infelizmente. Por isso, tornaram-se emocionalmente mais frágeis que os orientais. Nós estamos em frenético movimento, e, assim, não conseguimos enxergar, com nitidez, o movimento constante do universo, nem do nosso mundo interior. Triste, não!

    O artigo dessa semana, Márcia, é um dos seus melhores textos.

    Parabéns!

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    1. Muito obrigada por seu retorno Sandro!!
      Fico muito contente que tenha gostado do texto e concordo com sua reflexão.
      Nossa correria não nos permite o pensar e ver o que acontece próximo a nós.
      Abraço.
      Márcia.

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