27 julho 2018

CUIDANDO DE MIM


Talvez, em nosso processo de desenvolvimento da racionalidade, deixamos de lado nossos instintos, os quais nos possibilitam a proximidade com quem somos.

Um pequeno vídeo chamou a atenção de muitas pessoas há algum tempo. No breve documentário a imagem de um pequeno filhote de cachorro exercia seu processo de aprendizado em descer alguns degraus de uma escada, no que era assistido por alguém que registrava o acontecimento com sua câmera e ao mesmo tempo orientava outro animal, mais velho, a ajudar o filhote demonstrando como fazer.
Porém, um fato comovente consistiu em que ao final, quando o filhote oscilou entre um degrau e outro, o cachorro mais velho apresentou-se cuidadoso e de prontidão para “abocanhá-lo” (como fazem os animais para apanhar seus filhotes) caso ele não fosse capaz de manter seu equilíbrio ao descer os degraus. Isto é, permaneceu pronto a “cuidar” do pequeno em seu processo de aprendizado.
De modo semelhante ocorre com todos nós nos momentos em que algo novo se apresenta como oportunidade de aprendizado. No entanto, pode ocorrer de nos rendermos ao “medo” e inibirmos a possibilidade de experimentar esse algo novo.
No processo de desenvolvimento de nossa individualidade, podemos ser lavados a acreditar que a independência consiste no isolamento. Isto é, para nos sentirmos capazes e independentes precisamos, também, conseguirmos sozinhos realizar nossas empreitadas.
Porém, sendo seres constituídos de relações, tal pensamento pode ser contraditório. Ou seja, se há a necessidade do outro para nos afirmarmos como seres existentes, a ideia de precisarmos nos isolar para nos tornarmos plenos não apresenta sentido lógico.
Nesse processo no qual atentamos para as solicitações diárias de velocidade, agilidade, capacidade, entre outras, podemos deixar de cuidar uns dos outros e de nós mesmos. Cuidar no sentido instintivo e primitivo, como se apresentou no rápido vídeo no qual o animal “irracional” se manteve pronto a cuidar do outro caso fosse necessário.
Talvez, em nosso processo de desenvolvimento da racionalidade, deixamos de lado nossos instintos, os quais podem nos possibilitar a proximidade com quem somos. Ou seja, somos seres racionais, mas com instintos também. E, se não permitirmos o desenvolvimento desses instintos de modo pleno como exercitamos nossa racionalidade, é muito provável que sejamos capazes de caminhar em frente. Entretanto, talvez seja um caminhar de um modo mais dificultoso e lento.
Sendo assim, pode representar um grande passo à frente, um breve “retrocesso”, ao nos voltarmos para nossos sentimentos mais “primitivos” como o cuidado. Para, assim, nos habilitarmos a desenvolver de modo um pouco mais satisfatório toda a nossa plenitude como seres capazes de compartilhar pensamentos e sentimentos. Esse cuidado pode ter início no trato de nós mesmos, de nosso modo de sentir, pensar e agir e um conhecimento de nós mesmos mais acurado.


Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotnail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário