09 junho 2017

DESAFIOS DA VIDA

Seja nosso problema relacionado a nós mesmos ou a outrem, não há apenas uma perspectiva envolvida nele. Ou seja, precisamos nos permitir ampliar nosso olhar para a situação em questão.


Ao nos depararmos com algum tipo de limitação relacionado a algo que era muito desejado ou costumávamos ter, podemos nos sentir no mínimo tolhidos. Tal sentimento pode conduzir, se nos permitirmos, a diversas reflexões. Todavia, é comum experimentarmos a dor ao sermos contrariados de algum modo.
Elisabeth Kübler-Ross, em seu livro “A roda da vida”, afirma ser a vida um desafio e não uma tragédia. Isto é, ao nos depararmos com alguma contrariedade temos ocasião de nos posicionarmos como estando diante de um desafio, no qual podemos nos movimentar em prol da busca de solução. Ou, podemos nos colocar como vítimas, e aguardar o surgimento de uma solução para nosso sofrimento.
Seja nosso problema relacionado a nós mesmos ou a outrem, não há apenas uma perspectiva envolvida nele. Ou seja, precisamos nos permitir ampliar nosso olhar para a situação em questão, para nos apropriarmos do maior número possível de alternativas. O filósofo Heidegger assevera sermos tão livres quanto somos capazes de vislumbrar nosso rol de possibilidades.
Portanto, ao questionarmos algo em que estamos envolvidos, seja ele perturbador ou não, ocasionaremos a possibilidade de alcançar o que não imaginávamos a princípio. E tal atitude pode culminar no movimento necessário à solução do problema em questão.
Dando início a esse processo oferecemos a nós a oportunidade do desafio ao invés de vivenciar a tragédia. Tendo em vista a tragédia possibilitar com maior facilidade o desespero, ela pode obscurecer nosso julgamento relacionado à situação vivida. Confundindo-nos, desse modo, no tangente à obtenção da solução da mesma.
No entanto, a iniciativa em ampliar esse “olhar” envolve uma decisão em favor de nós mesmos, a qual nem sempre estamos preparados. Pois, no momento em que nos deparamos com um obstáculo para a realização de algo com o qual sentimos algum tipo de prazer, também somos submetidos à sensação de perda e de dor que ele ocasiona.
Nesse caso, se pudermos contar com o amparo de alguém para essa empreitada será de salutar importância. Infelizmente nem sempre isso é possível. Então, cabe a nós a iniciativa em prol de nós mesmos e do restabelecimento do nosso bem-estar, acionando dispositivos os quais nos permitam acessar nossas reais limitações para, então, visualizarmos as possibilidades existentes.
Pode ser que a primeira atitude necessária seja o reconhecimento de nossas dores e das limitações que elas nos causam.  Para, dessa maneira, nos posicionarmos independentes ou não para a solução do que estamos vivenciando. Tal comportamento tem a possibilidade de representar nossa libertação das amarras as quais perpetuam nosso sofrimento que pode ser sanado ou, ao menos, minimizado substancialmente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

22 maio 2017

ATÉ QUANDO PERSISTIR?

Usualmente buscamos desfechos plenos e completos que nos deixam a agradável sensação de satisfação. Entretanto, nem sempre ocorre desse modo

Em nosso dia-a-dia experimentamos situações as mais variadas. No entanto, raramente obtemos soluções satisfatórias para todas elas. Uma questão importante nesse caso é o que fazer quando algo nos perturbar a ponto de não conseguirmos nos tranquilizar.
Uma alternativa comumente sugerida é esquecer o assunto por um período de tempo. Mas até qual ponto se é capaz disso? Não é raro, também, tentarmos “adivinhar” o que está ocorrendo a respeito do problema, especialmente quando não temos acesso sobre todas as suas informações. Por isso podemos experimentar certa dose de ansiedade. Nesse caso nos caberão poucas opções. Entre elas a da resignação diante de nossos limites, ou a persistência.
É comum as afirmações a respeito da persistência - e sua nobreza - e da teimosia que pode beirar a estupidez. Como nos posicionarmos de modo a não desistirmos de algo sem nos envolvermos em uma disfarçada persistência a qual nos faz, na realidade, teimosos?
Usualmente buscamos desfechos plenos e completos que nos deixam a agradável sensação de satisfação. Entretanto, nem sempre ocorre desse modo. Em muitas ocasiões a frustração com a conclusão obtida é inevitável. Assim, podemos nos sentir descrentes da possibilidade de superação da decepção experimentada.
Então, diante do limite vivenciado por nós em relação à obtenção de informações completas, necessitamos exercitar nossa capacidade de aceitação desses limites. Entretanto, tal atitude não constitui um processo simples, pois exige de nós a perseverança na decisão de buscarmos nosso equilíbrio diante de tais limitações.
O limiar entre persistência e teimosia pode tornar-se obscurecido quando estamos envolvidos emocionalmente com determinado fato. Nesse caso, talvez a melhor forma de lidarmos com isso seja nos proporcionar uma pausa, para refletir a respeito do que ocorre e do que desejamos e, só então, munidos das alternativas existentes é que poderemos decidir qual a melhor forma de nos posicionarmos.
Em muitos casos, tal atitude pode ser colocada em prática em nosso íntimo apenas por nós mesmos. Em outros podemos também contar com o amparo de alguém que nos ajude a “olhar” para os fatos com maior clareza e de modo mais isento de emoções. Para, assim, sermos mais aptos ao discernimento entre persistência e teimosia.

 Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

03 maio 2017

NOSSOS ERROS

Vivemos em relação ao tempo e sua representação varia para cada um de nós bem como para cada momento vivido por nós.


Talvez uma tarefa das mais difíceis seja a de perdoar. Há quem experimente extrema dificuldade em desculpar, inclusive, os próprios erros. Ou ainda, quem não seja capaz de suportar uma falta cometida contra si por outrem. Importante nesses momentos pode ser uma reflexão a respeito do significado do erro, bem como o que representa desculpá-lo.
Nas muitas ocasiões em que conseguimos perdoar podemos, ainda, experimentar algum tipo de desconforto. Alimentamos a ideia de que o perdoar nos permite esquecermos de todo o ocorrido. Porém, desprezamos que além da dor há um significado para o acontecido. E se não nos dispusermos a refletir sobre ele o desconforto pode levar mais tempo do que desejamos para ser amenizado.
Nesse caso, ao nos propormos lidar com algo que consideramos “agressivo” para nosso bem-estar é necessário assumirmos o compromisso com a verdade a respeito desse fato, tanto em relação ao acontecimento em si, como no que diz respeito ao seu significado para nós e para as relações nele envolvido. Se faz importante a busca de uma ampla compreensão a respeito do ocorrido, incluindo o conhecimento acerca das nuances relevantes.
Vivemos em relação ao tempo e sua representação varia para cada um de nós bem como para cada momento vivido. Não é raro alguém relatar a velocidade do tempo quando vivenciando algo prazeroso, assim como sua lentidão quando se experimenta algo desagradável. Desse modo, podemos concluir que o tempo está relacionado ao seu significado para cada um de modo bastante particular.
Do mesmo modo nossa história adorna cada nuance de nossas experiências permitindo que a signifiquemos de modo individual e particular a cada momento vivido. Por isso, se faz de suma importância que ao nos propormos a lidar com algo que proporcione algum desconforto para nós ou para outrem, também nos permitamos um olhar acurado para o significado de cada pormenor envolvido nesse “algo”.
Assim, estaremos assumindo uma postura mais flexível em relação a qualquer sofrimento envolvido no processo de algo desconfortável. E a possibilidade de lidar com ela de maneira que a solução para o ocorrido não se transforme em um novo dilema.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


20 abril 2017

INDIVIDUALISMO X INDIVIDUALIDADE


O individualismo constitui, filosoficamente, uma doutrina ou atitude que considera o indivíduo como a realidade mais essencial ou como o valor mais elevado.

Em tudo há uma medida em que, quando ultrapassada, pode assumir uma característica nociva. É de suma importância cuidarmos de quem somos de um modo ativo. Assim, constitui algo salutar o nosso cuidado conosco de modo a preservarmos nossa individualidade. Pois, dessa forma, minimizamos o risco de nos perdermos quando envolvidos com algum sentimento que poderia reduzir a transparência de nossa personalidade.
Entretanto, é necessário atentarmos para o fato de que vivemos em grupo, e precisamos uns dos outros para que tenhamos um referencial o qual nos permita identificarmos, com clareza, quem somos.
O individualismo constitui, filosoficamente, uma doutrina ou atitude que considera o indivíduo como a realidade mais essencial ou como o valor mais elevado. Assim, cada um que faz parte de uma sociedade tem um papel relevante nela. O físico Fritjof Capra em seu livro “O ponto de mutação” afirma sermos intensamente relevantes para a sociedade pelo fato de sermos todos interconectados. De acordo com o autor, a interconexão representa o fato de sermos “tocados” a todo o momento por nossas atitudes, assim como pelas atitudes daqueles que compartilham a existência conosco e assim consecutivamente.
O sociólogo Zygmunt Bauman chama a atenção para o fato de o momento social atual tanger o que ele denomina Hiper-individualismo, que segundo o sociólogo, constitui um comportamento no qual o que não me atinge particularmente não consiste em algo da minha realidade, não necessitando, por isso, meu cuidado ou atenção. Desse modo, incorremos no risco de agirmos como se o outro não possuísse representação significante em nosso existir.
Esse modo de agir pode explicar o fato de presenciarmos comportamentos diversos os quais nos convidam a refletir sobre o egoísmo. Isto é, um modo agir como se nada mais fosse importante do que o bem estar próprio e individual.
Contudo, é bastante comum presenciarmos fatos ou afirmações as quais nos permitem observar atitudes que lesam ou ao menos melindrem, de algum modo, o outro. Então, se nos propusermos a cuidar de nós de modo a conhecer nossos potenciais e limites, poderemos nos habilitar, por conseguinte, a perceber de uma maneira mais eficiente o outro e seus sentimentos e desejos. Nos habilitando, assim, a avaliarmos de modo mais eficiente nosso comportamento.
Por isso, ao nos movimentarmos em prol de nossa melhoria, poderemos, na mesma medida, aprimorarmos os relacionamentos diversos pertinentes ao nosso dia-a-dia e, assim, proporcionarmos um movimento mais amplo no sentido de um desenvolvimento coletivo tendo em vista a interconexão definida por Capra.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga – CRP 06/95124

E-mail – marciabcavalieri@hotmail.com

11 abril 2017

QUANDO ME APAIXONO

Quando se está apaixonado por algo ou alguém experimentamos um entusiasmo muito grande, portanto a sensação de estarmos recarregados é praticamente inevitável.

Mais frequente do que gostamos escutamos alguém falar em desespero. Dele próprio ou de alguém de seu círculo de convivência. Sendo assim, estamos a todo o momento sujeito a nos depararmos com alguém, quiçá nós mesmos, em situação semelhante.
Tal sentimento pode permear um simples desânimo em relação a algo muito desejado até o perder totalmente a esperança de esse desejo ser satisfeito. Podemos experimentá-lo em diversos graus e por períodos diferentes. Ou seja, podemos nos manter em desespero por um tempo curto ou longo e isso pode ocorrer com maior ou menor frequência.
Lídia Rosenberg Aratangy, psicóloga, destaca o fato de às vezes o sofrimento ser tanto que a ideia de continuar vivendo parece intolerável. E afirma que para sair do desespero e do luto necessita-se de uma paixão. Isto é, todos estão sujeitos ao sofrimento que pode culminar em sensação de desespero, mas, segundo Lídia, a paixão pode representar uma forma de sobrepor-se a tal situação.
Quando se está apaixonado por algo ou alguém experimentamos um entusiasmo muito grande. Portanto a sensação de estarmos recarregados é praticamente inevitável. Podemos nos apaixonar por alguém que surge em nosso caminho ou porque já faz parte de nosso cotidiano. Pode-se, ainda, apaixonar-se por uma atividade, seja ela vinculada ao trabalho ou mesmo ao lazer.
O importante parece ser nos vincularmos a algo para nos ser proporcionada uma sensação de completude. Atualmente o vincular-se não assume lugar de grande importância em nosso dia-a-dia. Porém, pode ser a falta do vínculo uma das causas de sermos levados a experimentar sentimentos de desalento e angústia com maior frequência do que gostaríamos.
Então, se o apaixonar-se pode ser uma oportunidade para experimentarmos uma existência mais envolvida com sensações de satisfação e distanciada da dor, podemos iniciar um processo no qual nos disponibilizemos a nos vincularmos às atividades e às pessoas do nosso círculo. Assim, possibilitaremos o exercício de nos apaixonarmos com maior frequência. E proporcionaremos a nós mesmos a chance de nos distanciarmos das situações ocasionadoras de dor e sofrimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

27 março 2017

SUPERANDO DERROTAS

As frustrações fazem parte de nosso crescimento e lidar com elas nos permite um desenvolvimento que pode nos preparar para novas empreitadas.

O que fazer no momento em que perdemos algo sonhado ou planejado? Muitas vezes havíamos nos dedicado e entendemos termos oferecido o nosso melhor. Entretanto, em algumas ocasiões o nosso melhor não é o suficiente e nesse momento podemos experimentar um sabor amargo, o da dor da perda.
Nessas horas é comum ouvirmos comentários sugerindo que algo superior a nós decidiu pelo nosso bem-estar e que na verdade não perdemos, mas ganhamos com a tal derrota. Porém, será isso o suficiente para consolar e amenizar nossa dor?
E quando essa dor é acompanhada pelo sentimento de despeito por alguém que, por exemplo, em uma disputa tenha ganhado de nós o tão desejado prêmio? Como lidar com todo esse turbilhão de sentimentos que nos confundem e prejudicam ainda mais nosso julgamento?
Uma boa maneira é iniciarmos pela tentativa de acalmar os ânimos e buscar formas para nosso pensamento poder tornar-se organizado, a ponto de conseguirmos analisar todos os prós e contras do ocorrido. Obviamente essa não consiste uma tarefa fácil. Porém, ao procedermos tal análise poderemos encontrar outros caminhos bem como outras possibilidades. Talvez bem diferente do desejo inicial, mas como uma alternativa plausível.
Em alguns momentos a dor pode parecer insuportável como se nada pudesse saná-la. Contudo, as frustrações fazem parte de nosso crescimento e lidar com elas nos permite um desenvolvimento que pode nos preparar para novas empreitadas.
Elisabeth Kübler-Ross em seu livro “A roda da vida” afirma que “se protegêssemos os canyons dos vendavais, nunca veríamos a beleza de seus relevos”. Ou seja, a partir do momento em que somos capazes de atentar para uma situação e nos desenvolvermos de algum modo a partir dela, podemos adquirir algo para nos acompanhar em todas as ocasiões.
Podemos então concluir que a dor é algo que vez por outra irá nos alcançar. O importante é aprendermos a lidar com ela de modo a usufruir o máximo possível da oportunidade por ela oferecida para o nosso desenvolvimento pessoal.
Não se pode esquecer, todavia, que em alguns momentos superar tudo isso pode ficar muito mais brando quando permitimos que alguém nos acompanhe nesse processo. Assim, o refletir acerca das situações e a análise delas pode se tornar mais eficaz e menos dolorosa.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

07 março 2017

AUTOFLAGELO


“Se entendermos ser, de algum modo, a ausência de nosso esforço em prol do objetivo desejado a razão pelo fracasso dele, podemos experimentar a culpa. ”


Em algumas ocasiões podemos sentir falta de disponibilidade de toda a nossa energia para alcançar um objetivo específico. Podemos não entender o porquê de desejarmos algo e, experimentamos a sensação de não termos investido tudo na busca da realização desse desejo. Ou, podemos, em oposição, acreditar que dispensamos tudo ao nosso alcance e não ter sido o suficiente.
Então, a frustração como consequência disso é quase inevitável. Porém, é necessário tentar entender o ocorrido para alcançarmos uma compreensão do evento como um todo. Assim, poderemos conceber formas mais efetivas para a realização do desejado ou, quiçá, mudarmos nosso “desejo”.
No entanto alguns fatores podem interferir nesse processo de modo a nos “paralisar”. Se entendermos ser, de algum modo, a ausência de nosso esforço em prol do objetivo desejado a razão pelo fracasso dele, podemos experimentar a culpa.
Nesse caso, pode parecer importante perdermos algo para nos sentirmos “em equilíbrio” com o universo. Isto é, sentimos necessidade de uma “punição” do mundo, para assim experimentarmos a sensação de estarmos quites com o universo que disponibilizou para nós uma oportunidade “desperdiçada”.
Num exemplo, pode ocorrer de sabotarmos um prazer disponível como forma dessa punição ou, dispensarmos pequenos gestos dolorosos para com nós mesmos ao visar nos sentirmos “em paz”. Tais gestos podem ser de ordem física ou psíquica. O importante é nos mantermos atentos para nossas particularidades, especialmente nossas dores, para não incorrermos no risco de desencadearmos um processo de “autoflagelo”.
Elisabeth Kübler-Ross em seu livro - A Roda da Vida - afirma não podermos confiar no futuro, pois a vida é sobre o presente. Então, importante é buscarmos, no presente, maneiras de nos aproximarmos cada vez mais de nós, especialmente através do autoconhecimento. Assim estaremos mais aptos a identificarmos nossas mazelas e suas causas para, então, não necessitarmos estratégias “sutis”, como o punir-se consciente ou inconscientemente.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124