20 setembro 2013

JUSTIÇA

Em muitas ocasiões somos levados a entender sermos aquele que foi lesado e, sendo assim, fazer valer a justiça torna-se imprescindível à continuidade de nosso bem estar. Entretanto, o que pode nos parecer justo a partir de nosso ponto de vista, pode ser sobremaneira injusto sob outra perspectiva. Pois, de acordo com o referencial, uma afirmação coerente pode tornar-se totalmente inválida.
Não é raro experimentarmos a dor de uma ingratidão que acreditamos termos sido vítima. Entretanto, se nos mantivermos estagnados a espera de uma compensação, poderemos nos manter paralisados e deixarmos de usufruir diversas outras oportunidades.
Heidegger, filósofo, afirma estar o adoecer relacionado ao tempo. Ou seja, se nos mantivermos atentos de modo demasiado a um ponto, esteja ele localizado no passado, presente ou futuro, deixaremos de nos desenvolver e, por conseguinte, de viver de modo pleno. Assim, permanecemos “presos” a um ponto, negligenciando todo o restante existente e conectado a ele.
Em um primeiro momento é natural compreendermos estar em poder de “quem nos lesou” a possibilidade de restabelecer o equilíbrio. Mas, se nos posicionarmos dessa maneira diante de algo que consideramos injusto, incorremos no risco de paralisarmos em um ponto e, desse modo, adoecermos.
Nesse caso, se desejamos ser justos para conosco, talvez seja necessário darmos início a um movimento nosso em prol de nosso bem estar. Ao decidirmos dessa forma assumimos uma posição ativa no que concerne nosso sentimento em relação ao que nos ocorre ser ou não justo. Ao sairmos da posição estagnada de sofrimento, nos colocamos em movimento e, assim, com a possibilidade de cura das lesões que nos impossibilitam o desenvolvimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

13 setembro 2013

DEPENDÊNCIA

É comum nos depararmos com frases as quais fazem referência a nossa “dependência” em relação ao comportamento do outro. Por exemplo: “minha educação depende da sua”. Ao pensarmos desse modo, em um primeiro momento, parece extremamente justo. Isto é, se o outro comportar-se de modo satisfatório significa que minha resposta também será satisfatória. Contudo, uma questão surge: quem dará início a esse processo? Ou seja, quem será o primeiro a comportar-se “bem”?
Em uma pequena historieta da qual um palestrante fazia referência, ocorria de alguém receber uma reprimenda de seu superior. Impossibilitado de responder-lhe a ofensa, por estar em uma posição hierárquica desprivilegiada, esse alguém precisou conter seu descontentamento. No entanto, depositou sua frustração, em modo de agressão verbal, em um colega com o qual se deparou minutos depois. O colega, também impossibilitado de responder como gostaria devido às circunstâncias de um local público, “transferiu” sua raiva em outro alguém. E assim por diante até que um filho, ao chegar em sua casa, é agressivo com sua mãe que o esperava para o auxiliar em suas necessidades após o dia de trabalho. Essa mãe, compreendendo que o filho teria se deparado com algum tipo de situação da qual não pôde dar vazão ao seu descontentamento, conteve uma resposta menos delicada. Pondo fim à corrente que havia sido iniciada com a reprimenda do superior ao seu subordinado.
Ao permanecermos a espera de algo acontecer para então nos posicionarmos, corremos o risco de nos colocarmos em uma posição de estagnação indefinida. Pois, na “dependência” de alguém fazer algo para podermos reagir, depositamos de modo totalitário no outro nossa possibilidade de agir.
Sendo assim, se almejarmos, em algum momento de nossa existência, nosso crescimento pessoal e desenvolvimento como seres independentes, é necessário termos em mente que podemos nos tornar independentes. Porém, é de suma importância nos lembrarmos do físico Fritjof Capra o qual afirma, em seu livro “O ponto de mutação”, sermos todos interligados pelo o que ele denomina interconexão. Ou seja, todo comportamento é influenciado pelo modo de agir do outro em todas as suas particularidades e consequências.
Assim, nosso progresso encontra-se correlacionado ao progresso daqueles que compartilham o seu existir conosco. Então, certamente nos encontramos em uma relação de dependência. Todavia, essa relação não diz respeito ao nosso posicionamento em situação de espera do outro ter uma iniciativa para que algo nos aconteça. Mas, significa estarmos atentos ao nosso próprio modo de agir, para podermos delimitar como será o comportamento de quem se encontra em relação conosco e não o inverso.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

06 setembro 2013

ESTORVO

Atualmente a vida é vivida com velocidade máxima e se não nos submetermos a essa velocidade corremos o risco de “perdermos” algo. Por essa razão, o outro constitui, quase sempre, um estorvo ou uma ameaça. Isto é, se é preciso chegar antes para não perder o que se deseja, qualquer um que possua a possibilidade de nos alcançar representa uma preocupação a mais.
As solicitações da contemporaneidade nos conduzem a uma postura a qual nossos referenciais apresentam-se obnubilados por necessidades que julgamos serem nossas. Mas, na realidade em sua maioria, consiste, apenas, em um conclame social ao qual nos rendemos e nem sempre percebemos.
Vivendo em grupo a opinião do outro assume grande importância. Contudo, delimitar o grau dessa importância para nós torna-se essencial se desejamos experimentar liberdade e satisfação. O outro representa um referencial no qual nos permite vislumbrar o que desejamos, ou não.
Na relação com o outro temos a oportunidade de, através do contato, averiguar nossas atitudes e o que elas desencadeiam. Porém, se estivermos envolvidos pela necessidade específica de “derrotar” esse referencial, podemos descartar uma oportunidade essencial de aprendizado.
Heidegger afirma ser a rotina nosso porto seguro contra a certeza de nossa finitude. Assim, ao nos comportarmos de modo semelhante ao outro podemos experimentar uma ilusão de segurança. Ao nos iludirmos incorremos na possibilidade de, do mesmo modo, nos enganarmos a respeito do outro e da ameaça que ele representa.
Portanto, ao recordar a afirmação do filósofo poderemos oferecer a nós mesmos a oportunidade de significarmos o outro de modo diferente do habitual. Isto é, o que anteriormente representava uma ameaça pode assumir um significado contrário, ou seja, de apoio.
Lamentamos destruições e comportamentos incoerentes uns dos outros. Mas nos esquecemos de estar atentos para o modo como nos relacionamos com quem partilha conosco experiências das quais podem culminar em resultados, no mínimo, desastrosos.
Ao mudarmos nosso referencial da competição extrema para a partilha, nos colocamos de um modo diferente do “proposto” e, desse modo, assumimos uma maneira de agir que pode surpreender, inclusive a nós mesmos.
Jostein Gaardier, autor do livro “O mundo de Sofia”, afirma ser importante ao adulto lembrar-se da curiosidade que possuía quando criança. Assim, a rotina e a semelhança não o farão uniforme. Ou seja, ao preservarmos nossa singularidade poderemos nos relacionar com o outro sem experimentar um sentimento de incômodo que a necessidade de vitória abarca.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

30 agosto 2013

CONCESSÕES

Pode constituir uma tarefa não muito fácil a de identificar quando fazemos uma concessão ou quando abrimos mão de algo importante para nós. Em diversas situações distinguir, entre algo que nos satisfaz e algo que nos frustra torna-se quase impossível.
Podemos dispender anos de nosso tempo a fazer concessões das quais não fazem sentido quando nos aprofundamos nas razões que culminaram em tal atitude. Ou podemos experimentar sensações de tristeza das quais não sabemos a origem.
Contudo, se ao experimentar o sentimento de tristeza buscarmos ajuda para a compreensão desse sentimento, pode-se “abrir uma porta” a qual nos conduza a possibilidades não atinadas anteriormente.
É muito comum nos habituarmos a algo aparentemente satisfatório, mas ao ser ponderado atenciosamente começamos a entender que tal hábito consiste, na realidade, em uma rotina estabelecida e permitida por nós. Essa rotina pode nos aprisionar em algum estado, paralisando-nos, o que, segundo o filósofo Heidegger, constitui uma das principais razões do adoecer.  Desse modo, podemos experimentar a ausência do prazer em viver e darmos início a um processo que pode alcançar níveis de insatisfação não aventados por nós.
Por isso, o processo que inclui o olhar e a reflexão acerca de nossos sentimentos e suas razões, pode constituir uma possibilidade de modificarmos algumas rotinas as quais tangenciam concessões e que nos colocam em posição de sofrimento. De modo a impossibilitar-nos ser capazes de oferecer aos relacionamentos que estabelecemos o melhor de nós.
Sendo assim, ao nos propormos ao cuidado para com nossas concessões, também nos propomos a melhorar as relações que estabelecemos. Por conseguinte, reduzimos as frustrações e estabelecemos contatos embasados em satisfação e não em dores.
O viver plenamente envolve nos sentirmos livres. Tal liberdade consiste em nos responsabilizarmos por nossas escolhas. Ao cuidarmos de nossos atos e decisões estamos, portanto, cuidando de nossas escolhas e, assim, ampliamos a possibilidade de nos fazermos mais conscientes delas.
Então, se ao invés de apenas fizermos concessões impensadas dermos início a um movimento em prol de analisarmos as nossas escolhas, poderemos, com tal atitude, ampliarmos nosso rol de possibilidades acerca das opções que temos e que nem sempre nos damos conta.  

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marcia@maximizandoresultados.com.br

23 agosto 2013

VERDADE

O senso comum afirma ser a pior mentira aquela dita a nós por nós mesmos. No entanto, o que se pode considerar a verdade a nosso respeito? Como podemos agir de modo a nos sentirmos verdadeiros para conosco?
Em muitas ocasiões a verdade sobre si mesmo pode assustar, mas ignorá-la pode levar a decisões incoerentes conosco. Assim, experimentamos dissabores dos quais nem sempre relacionamos a uma razão mais íntima daquela imaginada por nós. Ou seja, nossas dores e frustrações podem estar relacionadas ao modo como agimos conosco em relação ao “verdadeiramente” desejado e como somos.
Contudo, é preciso coragem para afirmar nossas verdades, ainda que não toda. Isto é, em muitas ocasiões nos encontramos incapazes de suportar um olhar totalmente nítido a nosso respeito. Nesse momento se faz de suma importância respeitarmos nossa capacidade para tal e administrarmos o quanto suportamos, de modo a preservar nosso ser como um todo.
Algumas vezes é necessário conduzirmos cuidadosamente o modo como “olhamos” para o nosso íntimo em prol de nos conhecermos melhor. Mas, da mesma maneira é importante não nos surpreendermos de modo assustador com quem somos.
O conhecimento acerca de si mesmo consiste em uma poderosa ferramenta a favor de nosso desenvolvimento pessoal. No entanto, se a utilizarmos de modo impensado, esta pode se tornar algo amedrontador e nos levar a inibição de atitudes as quais poderiam consistir em algo indispensáveis ao sucesso de nossas empreitadas.
Por isso, a verdade a nosso respeito é essencial para a conquista de nossos “sonhos”. Porém, a prudência no modo como a acessamos se faz fundamental se desejamos nosso progresso pessoal.
Sendo assim, o cuidado no sentido de permitirmos toda a assessoria possível quando nos propomos ao conhecimento “verdadeiro” de nós mesmos, pode consistir num caminho um pouco mais trabalhoso. Entretanto, esse caminho pode se apresentar menos atemorizante. E, assim, compreendermos nossas verdades de uma maneira mais amena, de modo a não inibir nossa iniciativa no sentido de nosso conhecimento sobre nós mesmos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

09 agosto 2013

COMODISMO

Uma mensagem recebida pela internet me chamou a atenção. Ela se tratava sobre um monge e seu discípulo, os quais precisaram de hospedagem ao longo de uma viagem. Avistaram uma casa simples e foram atendidos em sua solicitação pelos donos dela. Durante a estadia notaram que a família vivia em condição quase precária e que possuíam uma vaca da qual tiravam seu sustento. Ao amanhecer, antes de partir, o monge empurrou o animal em direção a um precipício levando-a a morte. O discípulo indignado solicitou uma explicação e o monge afirmou ser o comodismo a razão da estagnação do desenvolvimento daquela família. Alguns anos se passaram e o discípulo retornou ao local encontrando-o muito próspero. Ao questionar o proprietário, este relatou que no dia em que eles partiram sua vaca havia sofrido um acidente que causou sua morte. Então, eles foram “forçados” a buscar alternativas para sobreviver, levados, assim, ao progresso no qual se encontravam.
O contato com essa história pode nos induzir a buscar “vacas” em nossa vida. Ou seja, o que nos apoia e, em muitas ocasiões pode nos levar ao comodismo. No entanto uma reflexão em sentido contrário, poderia ocorrer nesse momento, e nos perguntarmos se não somos alguém que age de modo a ser um empecilho para o desenvolvimento de outrem, ou de nós mesmos. Isto é, somos a “vaquinha” na vida de alguém?
Todo relacionamento proporciona algum desenvolvimento, por isso podemos afirmar que nosso ser se constrói a partir do contato com o outro. Isto é, a referência recebida por meio das relações por nós estabelecidas é de suma importância para o desenvolvimento de quem somos. Pois o movimento de ir e vir possibilitado pelas relações nos permite o exercício da flexibilidade necessária para nosso crescimento pessoal.
Porém, em muitas ocasiões, agimos de modo a tolher quem amamos em nome desse sentimento. Contudo, não podemos nos esquecer que o crescimento pode estar envolto em algum tipo de “dor”. E a busca da eliminação dela pode ocorrer instintivamente.
Entretanto, se nos dispusermos a agir de modo mais atento em relação a nós e às nossas relações, poderemos ser capazes de vislumbrar se conduzimos alguém ao comodismo. Especialmente nós mesmos. Então, ao detectarmos tal atitude, poderemos assumir um papel ativo no sentido de “empurrar” para o abismo os entraves presentes em nosso “caminho”. E, assim, nos habilitarmos a prosperar no sentido de nosso desenvolvimento.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124


01 agosto 2013

PREOCUPAÇÃO X CUIDADO

Pode ocorrer, em algum momento de nosso existir, ser notada certa preocupação com algo ou alguém. Preocupar-se significa termos um pensamento dominante que se sobrepõe a qualquer outro. E que pode, inclusive, proporcionar algum sofrimento, ao se ter em vista que quando nos preocuparmos com algo não significará estarmos habilitados a resolver o problema em questão.
Diferente da preocupação, o cuidado envolve responsabilidade com o objeto de nossa atenção. Isto é, a decisão em cuidar de algo ou alguém significa disponibilizarmos algo de nosso esforço e atenção em prol da manutenção do bem estar daquele que tornou-se alvo de nosso reparo.
Quando nos “pré-ocupamos”, ao mesmo tempo nos ocupamos de modo antecipado a respeito de algo que, muito provavelmente, não se apresenta disponível para ser resolvido. Estamos apenas nos antecipando. Ou seja, investimos nossa energia no ato de pensarmos a respeito de algo que não seremos capazes de resolver por não se apresentar livre para tanto.
Certamente é bem adequado pensar a respeito de algo antecipadamente para que haja um planejamento das melhores estratégias no modo de lidar com o que nos perturba. No entanto, é importante nos manter atentos para o fato de que ao deslocarmos nossa atenção do tempo presente incorremos no risco de experimentarmos aflições relacionadas a impossibilidade de ação. Heidegger, filósofo, relaciona o sofrimento humano ao ato de focalizar a atenção em um tempo do qual não se tem acesso, passado ou futuro. Desse modo, nos envolvemos com situações impossíveis de se apresentarem acessíveis aos nossos atos no momento presente.
Contudo, o cuidado, o qual nos solicita nos responsabilizarmos com algo ou alguém, caracteriza-se por um compromisso nosso com a situação em questão. No entanto, ao não atentarmos para a sutil diferença entre cuidado e preocupação, podemos nos envolver em uma atitude a qual nos faça permanecer estagnados e sofredores.
Por isso, se desejamos exercer o cuidado necessitamos exercitar identificar nosso comportamento para nos tornarmos capazes de compreender qual atitude estamos aderindo. Assim, nos habilitarmos a cuidarmos de nós e do que desejamos ao invés de apenas nos preocuparmos e ocasionarmos sofrimentos, no mínimo, inúteis.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124