26 abril 2018

QUANTO TEMPO DURA O LUTO?


De alguma forma, todos nós sofremos perdas mais ou menos significantes e com as quais precisamos conviver.

O filme “PS: Eu te amo” trata de uma jovem esposa que vive o luto devido a perda do marido morto por uma doença incurável. Este, com a ajuda da sogra tenta ajudar a esposa, então enlutada, a retomar o gosto pela vida. Ele deixa para ela cartas para que sejam entregues em períodos planejados por ele enquanto tratava de sua doença terminal.
A jovem esposa consegue, com essa ajuda, retomar aos poucos o gosto pelo viver, buscando seguir à risca as orientações deixadas pelo marido. Porém, um dia, percebendo que está chegando ao final as correspondências, ela se aflige com a ideia de não ser capaz de continuar sua vida sem as orientações dele. Então, sua mãe, que era a portadora da tarefa de entregar tais cartas, revela à filha todo o plano do genro. Na conversa as duas falam de suas dores, pois sua mãe sofreu uma grande perda quando o esposo a abandona sem deixar notícias quando a filha ainda era criança.
Ela revela à filha que somente foi capaz de se restabelecer quando, ao sentir-se demasiado triste, começa a observar as pessoas ao seu redor. Ela, então, constata que de algum modo todos viveram alguma perda e sendo assim, todos são semelhantemente “quebrados”. Dessa forma, consegue reencontrar razões que justifiquem o buscar ser feliz novamente. Entendendo ser necessário fazê-lo, mesmo não estando “inteira”.
Do mesmo modo, podemos sentir que em determinados momentos somos os mais sofredores de todos. Contudo, não temos como saber quem carrega qual dor e em que proporção ela machuca mais ou menos. O importante é que de alguma forma, todos nós sofremos perdas, mais ou menos significantes, e com as quais precisamos conviver.
Então, seja encontrando apoio em recordações, em pessoas que tenham vivenciado dores ou perdas semelhantes, ou contanto com a ajuda de alguém, que pode ser um médico, um psicólogo ou mesmo um amigo, se faz pertinente buscarmos maneiras de nos sentirmos “fazendo parte de um grupo”. Mesmo que esse grupo seja o de “quebrados” como descreve a personagem do filme.
É importante ressaltar que nossas dores serão sempre mais importantes que a dor qualquer outro ser, pois somos nós a vivenciarmos ela. Porém, também se faz necessário compreendermos que elas não são estagnadas em sua proporção. Isto é, em algum momento seremos capazes de conviver com ela de modo sereno, mesmo que em outros momentos elas tornem-se quase insuportáveis novamente. O simples fato de oscilarem nos permitirão a “brecha” necessária para a continuidade de nosso existir. E, nesse fôlego que experimentamos, podemos ser capazes de vislumbrar o auxílio que necessitamos.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri  
CRP: 06/95124

20 abril 2018

SENTINDO AS ESCOLHAS


No transcorrer do crescimento e desenvolvimento pessoal, nem sempre nos atentamos para o fato de que o sentir é parte importante de todo o processo envolvido em nosso progresso.


A cada novo dia é possível afirmar estarmos adiante no que concerne o desenvolvimento intelectual de modo geral. Novas descobertas, novas formas de analisar, medir e “provar” diversos fatos e situações tornaram-se algo trivial em nosso dia-a-dia. Compartilhamos a satisfação com o progresso de nosso desenvolvimento como um todo. No entanto, em alguns momentos, podemos experimentar certa consternação em relação aos sentimentos.
Não é incomum presenciarmos, de modo mais próximo ao nosso convívio, ou não, alguém em pleno exercício do que parece ser uma batalha contra sensações e sintomas dos mais variados tipos. Com um olhar um pouco mais atento, podemos ser capazes de detectar, quase que em sua generalidade, algum traço de ansiedade, depressão ou medo subentendido nessas sensações e sintomas. Isto é, características facilmente localizadas nas diversas síndromes e transtornos muito comuns na atualidade.
Em uma breve reflexão podemos concluir viver num momento em que essas situações tornaram-se rotina e, sermos, desse modo, induzidos a crer que tal rotina representa algo o qual precisamos aprender a conviver, por tratar-se de um fato inevitável. Contudo, essa conclusão pode não significar a totalidade do processo. Se nos permitirmos um olhar um pouco mais cuidadoso, talvez possamos detectar uma carência no quesito sentimento.
No transcorrer do crescimento e desenvolvimento pessoal, nem sempre nos atentamos para o fato de que o sentir é parte importante de todo o processo envolvido em nosso progresso. Cuidamos de modo peculiar do aprimoramento de nossa intelectualidade, praticidade e racionalidade. E, em muitas ocasiões, relegamos a um plano demasiadamente secundário nossos sentimentos.
Porém, tal atitude não se manifesta de modo isento. Isto é, a escolha em não “cuidar” de nossos sentimentos apresenta consequências as quais podemos não levar em conta no momento em que decidimos não assumir riscos envolvidos nessas decisões.
Então, é de suma importância, vez ou outra, “olharmos” de modo consciente para nossas escolhas, porque elas constituem no processo de nossa liberdade. Mas, não podemos nos permitir descartar de modo “definitivo” que as consequências são inevitáveis. Mesmo quando optamos por não olhar para o que se apresenta a nós como algo gerador de algum desconforto de qualquer tipo.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

09 abril 2018

MORTES DIÁRIAS


Temos fases bem definidas em nosso processo de crescimento e no início de cada nova fase, a antiga precisa ser “enterrada”.

Sempre ao ouvir-se a palavra morte, experimentamos algumas sensações. Afinal é difícil ser indiferente a ela. Podemos sentir medo, tristeza, desespero, satisfação ou alívio. Mas que tipo de morte é essa? O que é a morte? Morre-se somente quando uma vida finda ou há outros tipos de morte a se pensar?
Ao concluirmos algo com o qual havíamos nos comprometido e compararmos esse concluir com a morte, poderemos amenizar os efeitos que tal palavra tem sobre nós. E mais, teremos a oportunidade de dar início a um olhar diferente para tudo o que iniciamos e terminamos. Poderemos, assim, compreender de um modo diferente os diversos ciclos nos quais nos envolvemos.
No processo de se lidar com a perda de algo querido experimentamos muitos sentimentos. Porém, se exercitarmos a compreensão dessa perda como parte de um ciclo no qual estamos imersos, poderemos ser capazes de avaliar mais claramente o que está realmente ocorrendo.
Temos fases bem definidas em nosso processo de crescimento: infância, puberdade, juventude, vida adulta e velhice. Ao início de cada nova fase a antiga precisa ser “enterrada”. A criança precisa deixar de existir de maneira plena para o adolescente tomar forma. O adolescente precisa ocultar-se para o jovem assumir seu papel e fazer suas escolhas. O jovem tem necessidade de abandonar o palco para o adulto assumir suas responsabilidades e organizar sua vida de modo a ser capaz de desfrutar suas conquistas.
Da mesma forma nosso crescimento tem fases. Se procurarmos fazer uma analogia encontraremos em tudo o que fazemos um processo semelhante. Ao engendrarmos uma nova empreitada temos o momento de quando iniciamos contato com informações novas. Depois amadurecemos tais informações para elas tomarem forma e poderem assumir seu papel pleno diante daquilo que decidimos. Entretanto, ao deliberar por algo sempre deixamos para traz outra opção que, então, “morre”. Pois, ao fazermos uma escolha algo precisou ser renunciado.
Temos contato com a morte em diversos momentos em nosso dia-a-dia. Precisamos, desse modo, exercitar maneiras mais amenas para nesse processo, quando os sentimentos se apresentarem, serem aceitos. E, assim, poderem ser compreendidos e utilizados em prol de nossa aprendizagem para lidar com temas, a princípio, causadores de algum desconforto.
Ao buscar tal exercício poderemos nos munir de um verdadeiro arsenal para nos envolvermos com as mais diversas situações e nos sentirmos aptos a enfrentar os mais variados tipos de desafios.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com


31 março 2018

NÃO SEI!!


Há alguns anos perdemos a companhia da Mel. Naquela ocasião achei que nunca mais amaria outro cachorrinho como amei a Mel. Porém, veio a Malú e me “disse” que não era bem assim. Veio a Luna e me mostrou que sou capaz de amar MUITO. Então veio a ÍSIS. A minha cachorrinha. A dra. Bianca me avisou que ela seria danada, pois tinha seu espírito de líder de matilha.
Danada, feliz, levada, ativa... Passou a dormir conosco, eu e o papai Lauri. Teve seu probleminha com a perninha que cuidamos e tudo ficou bem. Precisei mudar meu hábito em passar meus cremes noturnos porque ela amava lambe-los e não lhe fazia bem. Tudo eu fazia para seu agrado e conforto. Como diziam a tia Camila e a tia Beatriz - eu a mimava demais.
Hoje, ela dormia encostada em minha perna no sofá após o almoço como fazíamos habitualmente.
De repente, ouço um pequeno grito, pois em seu tamanho minúsculo todos os seus barulhos eram baixinhos. Ela estica as patinhas e amolece todo o seu corpinho. Corremos à UTI. Mas já dentro do elevador em mosso prédio percebi que seu coraçãozinho já não mais batia.
A dor não passa e não sei o que fazer para amenizar. TUDO me lembra ela, sua alegria e carinho enchem meus olhos de lágrimas e meu coração de dor.
Sou adulta e sei que isso tudo irá diminuir. Mas hoje não acredito nisso. Só sinto dor e saudades e QUERO a ÍSIS de volta. Como uma criança rebelde, teimosa e ingênua quero minha ÍSIS de volta pra mim.
Minha crença me conforta e me diz que ela já está brincando e quase pronta para vir a outro lar e alegrar outro alguém.  Mas eu ainda só consigo chorar...
Que dor ÍSIS. Não sei como vou dormir sem você ao meu lado lambendo minhas mãos até eu quase pegar no sono.
Não sei como vou fazer minha maquiagem pela manhã sem ter você deitada no travesseiro me olhando.
Não sei como vou tomar meu café sem você com um brinquedinho na boca me esperando pra brincar.
Simplesmente não sei ÍSIS. Não sei!!!

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com

22 março 2018

DES-CONSTRUINDO BARREIRAS


Estabelecer limites para as investidas daqueles com quem convivemos é de extrema importância.

Fiódor Dostoiévski, escritor russo, afirmou uma vez: “o sarcasmo é o ultimo refúgio das pessoas moderadas quando a intimidade de sua alma foi invadida”. Quantas vezes temos nossa “alma” invadida e como reagimos diante desse fato?
É comum usarmos as ferramentas disponíveis relacionadas ao nosso modo de ser: nossas defesas. No entanto, se não as conhecermos podemos nos encontrar em uma posição na qual limitamos nosso desenvolvimento. Ora podemos nos localizar em uma posição de prontidão o tempo todo, ora inibirmos possibilidades em acessar informações que poderiam oferecer chances de crescimento ímpares e que apenas se tornarão disponíveis se nos permitirmos o contato com elas.
Então, como proceder para não nos colocarmos a mercê das investidas diárias a que estamos sujeitos e, ainda nos permitirmos o contato em nosso dia-a-dia com as oportunidades disponíveis? Isto é, como avaliar as situações diversas de modo a minimizar os “danos” para nós mesmos e minimizar, assim, o uso de nossas defesas?
Estabelecer limites para as investidas daqueles com quem convivemos é de extrema importância. Porém, para exercemos tal “controle” é necessário conhecermos de antemão quais são nossos limites. Isto é, o que nos atinge de modo a nos prejudicar e o que nos atinge e entendemos como prejuízo, mas, no entanto, não constitui algo dessa monta.
Ao aventar tal possibilidade podemos, em um primeiro momento, afirmarmos ser uma tarefa permeada de inúmeras dificuldades, e tal afirmação não constitui uma inverdade. Então, podemos nos acomodar na condição em que nos encontramos atualmente e nos sentirmos bem com isso.
Entretanto, há os momentos quando nos sentimos, como destaca Dostoievski, invadidos de tal modo que nos defendemos. Contudo, ocorre muitas vezes de essa defesa não emergir do modo ou com a frequência que desejávamos. Nesse momento podemos experimentar desconfortos relacionados a nós mesmos. Desse desconforto, diversos sentimentos podem se fazer presentes e eles podem nos causar sensações que não gostaríamos de experimentar.
Sendo assim, se nos proporcionarmos a possibilidade de um conhecimento mais elaborado acerca de nossos sentimentos e as reações por eles desencadeados, exercitaremos um modo de conhecer também nossas defesas. E ampliaremos, desse modo, as chances de elas serem utilizadas mais adequadamente para visar nossos ganhos e, não prejuízos indesejados.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124

07 março 2018

BAGAGEM PESSOAL


Ao conduzirmos nossa atenção aos momentos que nos levam a experimentar algum tipo de dor ou sofrimento, permitiremos a possibilidade de alcançar mais de um modo de compreensão desses momentos.

A psicóloga e escritora Lídia Rosenberg Aratangy em seu livro “Doces Venenos” afirma ser impossível acabar com a angústia e com a depressão. Segundo ela, esses sentimentos fazem parte da bagagem humana e são passagens obrigatórias no percurso de um desenvolvimento normal. Não são desvios da rota, mas parte de um trajeto. É uma das condições do estar vivo.
Essa afirmação da psicóloga pode levar a refletir sobre a importância de situações as quais nem sempre constituem algo agradável para nós. Mas, que assumem certo grau de importância em nosso existir, tanto quanto os momentos prazerosos.
Há ainda uma ideia a respeito do sofrimento, que o configura como sendo algo a ser evitado a todo custo. É óbvio não querermos experimentar dor de nenhuma ordem, especialmente a emocional. No entanto, se esses momentos fazem parte de um desenvolvimento necessário, então, talvez seja preciso modificar o modo como lidamos com essa condição da nossa trajetória rumo ao crescimento pessoal.
Ou seja, tratar a angústia e a depressão como simples malefícios a serem combatidos pode nos levar a perder oportunidades essenciais de desenvolvimento. No filme “Batman Begins” um personagem afirma que o motivo pelo qual “caímos” é para nos tornarmos aptos a nos levantar. Isto é, não desejamos “cair”, mas “caímos”. Então, se estamos sujeitos a tal possibilidade, importante se faz nosso movimento em prol de aprendermos a lidar com tal condição.
Contudo, ao conduzirmos nossa atenção aos momentos que nos levam a experimentar algum tipo de dor ou sofrimento, permitiremos a possibilidade de alcançar mais de um modo de compreensão desses momentos. E, poderemos nos orientar de modo a refletirmos a respeito do que nos angustia ou deprime.
Assim, nos capacitaremos a agir em prol de um conhecimento individual e exclusivo acerca de nós mesmos. Habilitar-nos-emos, desse modo, a gerirmos a trajetória do desenvolvimento pessoal ao qual somos convidados.
Portanto, sempre que nos colocamos em posição de permitir o contato com algo que possibilite nosso crescimento, ampliamos nossa compreensão acerca de nós mesmos. E, também, participamos de modo ativo de nossa capacitação para o suporte necessário para lidar de modo mais brando e amigável com a angústia e a depressão caso elas venham a participar de nossa “bagagem”.

Márcia A. Ballaminut Cavalieri
Psicóloga CRP 06/95124
E-mail: marciabcavalieri@hotmail.com